terça-feira,26 novembro, 2024

Substâncias alucinógenas poderão ser utilizadas no tratamento da obesidade

Em pesquisas recentes, cientistas têm buscado entender a efetividade de substâncias psicodélicas no tratamento da obesidade: drogas como a psilocibina já mostraram ajudar no tratamento da depressão, por exemplo. Até agora, os estudos foram realizados apenas em animais, e não há unanimidade acerca dos benefícios, mas há resultados promissores, em alguma medida.

Substâncias como a mescalina, psilocibina, LSD e ayahuasca (que contém dimetiltriptamina, ou DMT) atuam nos receptores de serotonina do cérebro, envolvido em funções importantes do corpo, como a regulação da fome e ingestão de alimentos. No tratamento da depressão, por exemplo, as drogas agem no receptor 5HT2A, ajudando a formar novas conexões cerebrais e aumentar a flexibilidade mental, ou neuroplasticidade, melhorando os sintomas da depressão.

A psilocibina, dos cogumelos alucinógenos, é uma das substâncias utilizadas no tratamento da depressão e que pode, no futuro, ser usada contra a obesidade (Imagem: Microgen/Envato Elements)

Psicodélicos e o abuso de substâncias

Outros estudos observacionais notaram que usuários de substâncias psicodélicas tem uma maior tendência a seguir uma vida saudável e apresentar um índice de massa corporal (IMC) menor: não há uma relação exatamente causal, no entanto, e nem todos são saudáveis. O contrário também poderia valer, com pessoas mais saudáveis, na verdade, se sentindo mais atraídas pelas drogas.

As primeiras pesquisas sobre o efeito de psicotrópicos no tratamento do abuso de substâncias são dos anos 1970, quando essa aplicação foi testada contra álcool, principalmente, na época da Guerra às Drogas. Embora a metodologia utilizada não fosse ideal, mais recentemente, esse potencial terapêutico vem sendo confirmado: o abuso de alimentos, no fim das contas, é semelhante ao abuso de substâncias.

Ambos trabalham na área cerebral que lida com recompensa e motivação, causando dependência e compulsão alimentar. Alguém que se alimenta sem controle não é muito diferente de um viciado em nicotina em termos cerebrais. Ainda estamos longe de produzir medicações que utilizem substâncias como a psilocibina na inibição da fome, mas um estudo de março já notou que camundongos perderam gordura visceral com uso do psicotrópico: o problema é que outra pesquisa não viu o mesmo efeito ao repetir os testes.

A obesidade está ligada, muitas vezes, à química cerebral, alvo de diversos tratamentos: nenhum deles, até agora, com resultados milagrosos (Imagem: serhiibobyk/envato)

Testes com humanos

Em humanos, os testes realizados até agora foram diferentes: não trataram de obesidade, mas de outras questões alimentares: bulimia e anorexia, mais especificamente. Por enquanto, a epidemia de distúrbios alimentares segue sem uma solução definitiva, com remédios passados como orlistate e semaglutida não sendo efetivos como a propaganda mostrava (ao menos, não milagrosos).

Há, no entanto, alguns poucos medicamentos utilizados para ajudar no combate à obesidade, como tirzepatida e wegovy, funcionando, é claro, bem melhor quando aliados a reeducação alimentar e rotinas de exercício. No fim das contas, pode ser que os psicodélicos cheguem para ajudar no combate aos distúrbios alimentares, mas a velha recomendação de evitar ultraprocessados, comer bem e com moderação ainda é, e provavelmente continuará sendo, a prescrição universal para a perda de peso.

Fonte: NatureJournal of PsychopharmacologyJAMA Psychiatry

Por:  Augusto Dala Costa 

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