“A galera do cotoco tá aqui!” apresentou Rayssa Leal, utilizando um apelido que ela usa para brincar com seu irmão mais velho Felipe Gustavo – fazendo referência a um meme de Bianca Andrade, que chama seu filho de “cotoco da mamãe”. Foi desse jeito descontraído que Rayssa Leal cumprimentou o público da Arena Carioca no dia das semifinais do campeonato mundial de skate. No último domingo (6), a skatista profissional de 14 anos venceu a etapa final da Street League Skateboarding, o principal campeonato da modalidade de skate de rua, que aconteceu no Rio de Janeiro.
A “Fadinha” viu sua fama explodir em 2021 após ganhar medalha de prata nas Olimpíadas de Tóquio e ser a brasileira mais nova a conseguir uma medalha na competição. Desde lá, ela acumula cada vez mais conquistas na sua carreira e se tornou inspiração de muitas meninas a conseguir espaço no mundo do skate. Apesar disso, o esporte nunca deixou de ser uma fonte de diversão para a maranhense de Imperatriz, que começou a prática aos seis anos de idade. Por conta de seus feitos, Rayssa fez parte da lista Forbes Under30 em 2021.
Entre tentativas de manobras no skate, batalhas de rimas e muitas risadas com a equipe e amigos, Rayssa Leal conversou com a Forbes Brasil. Ela contou do seu sucesso no skate e como se diverte fazendo o que mais gosta. Confira:
Forbes Brasil: Como foi quando você percebeu que o skate era mais do que uma diversão para você?
Rayssa Leal: O skate, para mim, sempre foi uma diversão. Mas, eu sempre sabia que eu tinha que evoluir, que escutar meus pais e que ir bem nos campeonatos. Hoje, graças a Deus, deu certo e graças a isso eu estou aqui. Meu time está todo me apoiando. Mesmo com tudo isso, continuo com a diversão dentro e fora da pista – principalmente dentro da pista, porque é o meu lugar favorito. Hoje, eu estou fazendo a coisa que eu mais amo, que é andar de skate.
F.B.: Como você lida com a pressão das competições?
R.L.: Na verdade, não tem pressão, só quero andar o meu skate e jogar as manobras que eu ando aprendendo e evoluindo. Eu cresci e a minha cabeça mudou um pouco depois das Olimpíadas, na questão de campeonato. Antes eu queria só me divertir, mas, hoje, eu quero me divertir com pódio no primeiro lugar. Eu só quero dar o meu melhor dentro da pista.
Tudo isso foi muito bom para mim. O pessoal fala que eu amadureci muito rápido. Aprendo todos os dias com toda a minha equipe, ainda mais com a minha mãe, dentro e fora da pista. Eu acho isso muito importante, além de ter acompanhamento psicológico e físico.
F.B.: Fora do skate, como é a Rayssa na escola?
R.L.: Eu tenho amizade com todo mundo da escola, porque eu acho que eu estou lá desde 2016, há muito tempo. É bem legal que, quando eu volto de um campeonato que eu ganho, ou que eu me dou bem, eles fazem uma surpresinha para mim – isso também acontece quando eu passo muito tempo fora. Eu falo que eles são como a minha segunda família. Meu melhor amigo está aqui [para assistir a final no Rio de Janeiro]. Ele saiu lá de Imperatriz e vai vir aqui. O apoio deles é muito importante para mim. Independentemente das viagens, vou ter que prestar atenção na aula e já vou ter as últimas provas do ano, então vou ter que estudar.
F.B.: Na sua casa, além de treinar o skate, você consegue arrumar tempo para se divertir?
R.L.: O skate vai sempre ser uma diversão para mim e vai estar no topo das coisas que eu gosto de fazer. Mas, sempre tem um tempinho de jogar futebol com meu irmão, de jogar handebol na escola com as minhas amigas, para sair e ficar com a minha família. Sempre tenho um tempinho.
F.B.: O que você está fazendo para buscar esse primeiro lugar?
R.L.: Com certeza treinando muito. Eu ando treinando mais, aprendendo manobras com alto nível de dificuldade e tentando explorar obstáculos onde algumas meninas não vão jogar manobras porque são mais altos – mas eu tenho essa facilidade. Acho que o principal é confiar no meu time, né? Porque ser o time não acho que não iria dar certo.
F.B.: Que lições você tem aprendido no seu processo de amadurecimento que você daria para outras pessoas?
R.L.: Eu falaria que tudo é questão de tempo. Você tem que respirar, pensar duas vezes antes de fazer qualquer coisa e aprender a aproveitar cada segundo do tempo. Tipo, não ficar pensando tanto no passado e nem no futuro, mas aproveitar mesmo cada segundinho, porque isso vale ouro. Isso é, também, o que eu diria para mim mesma, na verdade. Se eu pudesse falar com a Rayssa de cinco anos atrás, eu diria que deu tudo certo e para eu continuar fazendo as coisas do meu jeito.
F.B.: Pensando com a sua cabeça de hoje, você acha que o skate, algum dia, vai deixar de ser uma diversão para você?
R.L.: Nunca. Muita gente fala que parece ter muita pressão em cima de mim, mas, na verdade, não. Essa é a coisa que eu mais gosto de fazer. Eu acho que meu time vai entender quando, talvez, eu quiser ficar alguns meses parada, porque não tem como você fazer isso todo dia porque acaba enjoando. Mas enfim, eu acho que nunca vai deixar de ser. Eu amo e, quando você ama uma coisa, é difícil largar.
F.B.: Você já tem uma medalha olímpica, vários títulos e, agora, é a melhor skatista do mundo. O que que tem mais de sonho para a Rayssa?
R.L.: Quero lançar logo meu vídeo parte [tipo de vídeo popularmente produzido no skate] pela April e, quem sabe, pela Nike também. Para mim, isso seria a realização de um sonho. Também, quero continuar inspirando meninas ajudando-as no skate – não só meninas, mas principalmente elas – e criar a minha Ong. Quero ter as minhas marcas e poder continuar fazendo história.
Por: Gabriela Guido