Falar de diversidade e inclusão é falar de humanidade. Enfim, em última análise, somos todos diferentes, somos todos únicos e, simultaneamente, somos todos humanos. Parece algo muito simples: cada pessoa neste planeta, simplesmente pelo fato de existir, tem o direito de ser respeitada e incluída na sociedade. E, no entanto, pela quantidade de discussões, discriminação, ou mesmo violência a que assistimos, no mundo inteiro, percebemos que a realidade vivida nem sempre respeita esse princípio da inclusão.
Timothy Clark, especialista internacional das áreas de desenvolvimento de equipes de alta performance e de segurança psicológica, cita: “a diversidade é um fato. A inclusão é uma escolha. Mas não qualquer escolha. A escolha de incluir um outro ser humano é uma escolha que ativa a nossa humanidade”. É deste lugar de consciência e intenção que desejamos falar de diversidade e inclusão.
Nos últimos anos, a sigla D&I expandiu para Diversidade, Equidade, Inclusão e Pertencimento, termos correspondentes à sigla DEIP. Será que é tão óbvio qual o significado de cada um dos conceitos? Comecemos por trazer alguma clareza sobre o que significam as palavras que todos usamos no dia a dia, muitas vezes sem pensar.
Diversidade tem a ver com as características pessoais diversificadas, físicas, de identidade e cognitivas de cada um de nós como ser humano. Os elementos da diversidade vão além da raça, religião, gênero ou orientação sexual, passando por idade, deficiência, etnia, nacionalidade, religião, formação profissional, origem socioeconômica, experiência pessoal e profissional, neurodiversidade, crenças, valores, personalidade e estilos de comunicação e de tomada de decisão.
De uma forma simplista, contratar e permitir o acesso de pessoas diversas a uma organização pode parecer a parte mais fácil da equação. No entanto, ainda temos a tendência de contratar, sem perceber os nossos vieses inconscientes, preferindo pessoas semelhantes a nós ou de acordo com nossas crenças.
Um estudo da Universidade de Yale, nos EUA, descobriu que cientistas, homens e mulheres, que se intitulam como objetivos e racionais, falharam em contratar objetivamente. Os resultados mostraram que ainda preferiam contratar homens em vez de mulheres, que viam os homens como mais qualificados e estavam dispostos a oferecer cerca de US$ 4 mil a mais por ano em salário aos candidatos masculinos.
Um outro estudo, da Universidade de Chicago e do MIT, testou a diferença que um nome tinha nas oportunidades de entrevista de emprego. Os pesquisadores enviaram 5 mil currículos idênticos para empregos, usando nomes aleatórios estereotipados como brancos ou afro-americanos. Os candidatos com os nomes brancos receberam 50% mais pedidos de entrevista de emprego.
Na nossa visão, a diversidade será efetiva quando houver o reconhecimento, respeito e valorização das diferenças das pessoas que compõem a organização e, em uma visão sistêmica, dos diversos stakeholders que compõem o ecossistema. Ou seja, a diversidade só poderá ser efetiva a partir da prática da inclusão.
Inclusão está conectada com o valor intrínseco de cada ser humano, e não com merecimento ou perfil de cargo. É tratar as pessoas como pessoas, estendendo a mão, cumprimentando, trazendo para perto, em um espírito de conexão, independentemente de hierarquia.
O comportamento inclusivo, que começa pela aceitação e pela escuta do outro, atua como própria evidência confirmatória do seu valor. Ambientes de confiança, com altos níveis de escuta ativa empática, têm maior tendência a ser inclusivos.
Os termos equidade e justiça são igualmente importantes nesta equação de criar ambientes diversos, colaborativos e saudáveis. Quando os membros de uma família, equipe, organização ou mesmo sociedade percebem que são tratados de forma equitativa, eleva-se a possibilidade de cada um desenvolver e contribuir com o seu pleno potencial.
As estatísticas confirmam a desigualdade desde que nascemos. Para alguns, o esforço efetivo para ter acesso a direitos básicos, (por exemplo, educação) e conseguir terminar os níveis de estudo mais elevados, é muito mais alto do que para outros. Assim, a equidade está intrinsecamente conectada com a justiça social.
O pertencimento, da sigla DEIP, pode ser percebido como o resultado das práticas ativas, conscientes e intencionais de diversidade, equidade e inclusão no sentimento das pessoas relativamente ao grupo, equipe ou organização. Pode-se dizer que, quando existe a real percepção de pertencer, nos sentimos incluídos, tipicamente com um mais elevado senso de valor pessoal e autonomia, temos maior facilidade em mostrar gentileza, generosidade e cooperação, criando um ciclo positivo, que contribui para o desempenho, prosperidade, engajamento e bem-estar de todos.
As condições para que organizações e equipes prosperem vão além das vantagens competitivas tradicionais de produto, marketing, finanças ou tecnologia. As pessoas e a cultura organizacional passam a ser um fator estratégico relevante.
DEIP nas organizações no Brasil
Não é de hoje que a diversidade e inclusão e o seu valor estão em discussão nas organizações e na sociedade em geral. A pesquisa “A Diversidade e Inclusão nas organizações do Brasil”, realizada em 2019 pela Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje), traz estatísticas de 124 das maiores empresas do país.
Segundo o levantamento, “melhorar a imagem e reputação organizacional” é citado por 68% das companhias como o principal motivo que leva à adoção de iniciativas de diversidade, seguido por “contribuir para as mudanças estruturais da sociedade” (63%). A terceira e a quarta razão são, respectivamente, “aumentar a eficiência interna por meio de uma gama mais ampla de cenários e conjuntos de habilidades” (57%) e “qualificar a cultura organizacional” (54%). Por fim, o último motivo apontado pelas empresas é “desenvolver soluções inovadoras para o negócio” (47%).
Falamos no início deste artigo que a inclusão é uma escolha intencional. E essa escolha parte do princípio de que a diferença não está no outro, que somos todos diferentes. Você também é diferente e, como o outro, tem uma necessidade básica de ser aceito e acolhido. Se essa necessidade não for atendida, como seres humanos, temos maior dificuldade em atingir o nosso pleno potencial e evoluir para outros níveis de consciência e contribuição. E, se como indivíduos, não contribuímos com o nosso melhor, em todos os aspectos, também não podemos esperar que as organizações e a sociedade prosperem.
Por: Bianca Aichinger e Susana Azevedo, ex-executivas, coaches e sócias-proprietárias da Quantum Development.