quinta-feira,21 novembro, 2024

Como empresas podem ajudar a escalar a agricultura regenerativa

No início de novembro, líderes mundiais foram ao Egito para a COP27, a cúpula climática anual da ONU (Organização das Nações Unidas). A COP (Conferências das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas) é uma oportunidade anual de reunir as principais partes interessadas na luta contra as mudanças climáticas e alinhar as prioridades para o próximo ano. Um dos temas em evidência da COP27, motivo de muitas discussões, foi a expansão da agricultura regenerativa.

Um relatório de 2014 mostra que 24% das emissões globais vêm do uso da terra, a segunda maior fonte de emissões de gases de efeito estufa depois da energia. Então, se vamos frear a mudança climática e manter o mundo dentro de 1,5°C, devemos evoluir a maneira como cultivamos. A agricultura regenerativa faz isso, concentrando-se na saúde e na fertilidade do solo, sequestrando carbono, melhorando a saúde das reservas hidrográficas, aumentando a biodiversidade e melhorando a qualidade de vida dos produtores que cultivam nossos alimentos.

Em outras palavras, a agricultura regenerativa não apenas reduz as emissões, mas também pode acelerar a transição para um sistema alimentar mais saudável, sustentável e equitativo. E, no entanto, a agricultura regenerativa tem sido amplamente negligenciada quando se trata de negociações climáticas internacionais. Acredito que está na hora de isso mudar. É hora de enfrentar os desafios e explorar soluções que resultem na adoção generalizada dessas práticas potencialmente salvadoras do planeta.

Na PepsiCo, traçamos um caminho que esperamos servir de modelo para outros. Definimos metas ambiciosas e estamos, hoje, adotando a agricultura regenerativa, com urgências para causar impacto em escala.

Dito isto, a transição para métodos regenerativos levará tempo. Há muito trabalho a fazer para quebrar as barreiras que impedem a expansão dessas práticas. Em última análise, para que a agricultura regenerativa crie raízes, os produtores precisam de três coisas: apoio econômico, apoio social e cultural e apoio agronômico.

Suporte econômico à agropecuária regenerativa
Os fazendeiros são empresários e, embora a transição para a agricultura regenerativa seja mais lucrativa a longo prazo, é preciso um investimento inicial e alguns anos para ver o retorno. É fundamental estabelecer programas que possam ajudar a tornar a transição um pouco mais fácil. Isso inclui ferramentas como programas de compartilhamento de custos, iniciativas para ajudar os produtores a solicitar empréstimos ou doações e dotar incentivos fiscais e outras políticas que apoiem a transição economicamente.

Suporte social e cultural
Cada comunidade agrícola é única e é importante reunir toda a comunidade na jornada. Para cada safra, os produtores têm apenas uma chance por ano de obter lucro (lembrando que a segunda safra no Brasil, por exemplo, vale apenas para uma parte do país). E cada agricultor pode cultivar apenas algumas safras comerciais por ano.

Por causa disso, muitos agricultores costumam fazer o que funcionou para eles no passado, em vez de tentar algo novo, como a agricultura regenerativa. Se as empresas puderem mostrar a eles que essa abordagem é algo que toda a comunidade está adotando, aumentam as chances de os produtores e empresas se unirem nessa jornada.

Suporte agronômico
Estas são novas formas de produção para muitos e podem não ser compreendidas rapidamente. É importante fornecer treinamento local sobre as práticas e os benefícios que os agricultores podem esperar ao experimentá-las.

As empresas podem trabalhar com seus parceiros para fornecer treinamento apropriado sobre as práticas regenerativas para o produtor rural e a região. Nos EUA, por exemplo, a PepsiCo também recebe agricultores em suas fazendas piloto para que possam ver como essas práticas são implementadas no terreno, literalmente.

Mas o ônus não pode recair exclusivamente sobre os produtores rurais. Como líderes empresariais, é importante focar no que nossas organizações podem fazer para tornar mais fácil e atraente a adoção da agricultura regenerativa.

Utilizando uma abordagem regional
Uma abordagem regional – reunindo as partes interessadas em uma área específica que abrange várias culturas, setores e usos da terra – pode ser altamente benéfica e impulsionar a mudança em nível de sistema, necessária para criar resiliência às mudanças climáticas. Trabalhar em uma região pode permitir a colaboração e a construção de consenso em torno de práticas de agricultura regenerativa, destinadas a lidar os desafios daquela região.

O objetivo? Entregar os resultados positivos para todos os envolvidos, lidando com as barreiras financeiras, técnicas e sociais que os produtores rurais enfrentam para tornar possível a mudança para a agricultura regenerativa em toda a região. Temos ampliado esse tipo de esforço nos EUA, onde já estamos obtendo sucesso, e estamos expandindo nossa estratégia regional para novas geografias.

No entanto, é importante não ser muito prescritivo. Os líderes empresariais devem fornecer orientação por meio de uma abordagem flexível. É por isso que na PepsiCo criamos um manual para nossos parceiros, e seria muito interessante que outras empresas agrícolas fizessem o mesmo.

Compartilhe suas expectativas sobre agricultura regenerativa e a redução de emissões com seus parceiros, em toda a cadeia de valor – fornecedores, provedores de insumos, parceiros de implementação, empresas parceiras, clientes, ONGs e até mesmo governos. Compartilhe as lições mais significativas que aprendeu em sua jornada, além de oferecer a estrutura necessária para ajudá-los a definir, alcançar e relatar suas próprias metas regenerativas. Incentive outros produtores a adotarem uma abordagem proativa para mantê-los em atividade, apesar dos muitos riscos que enfrentam. No final das contas, os riscos deles são os nossos riscos.

No final das contas, temos conhecimento, recursos e ferramentas. Está na hora de a agricultura regenerativa ocupar o centro do debate sobre o clima. Fazer deste momento um momento de ação, em que há um comprometimento coletivo em adotar essa alavanca crítica para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, fortalecer nosso sistema alimentar global e elevar nossas comunidades. A hora de agir é agora.

Por: Roberto Azevêdo

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