O número de empresas que integram o 18º Índice de Sustentabilidade Empresarial da Bolsa de Valores (B3) aumentou desde o último ciclo. Agora, são 69 empresas.
Além dessa adesão voluntária, a B3 também conta com rígidas regras de comprovação de métricas de ESG definidas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
A resolução Nº 59/21, que entrou em vigor em janeiro deste ano, definiu a obrigatoriedade por partes das empresas listadas brasileiras a reportarem e justificarem determinadas métricas e ampliou a exigência de divulgação de informação sobre os aspectos ESG.
A tecnologia é uma aliada do termo e aprimora iniciativas de sustentabilidade desde grandes empresas de capital aberto, até pequenos e médios negócios.
Confira abaixo entrevista com especialistas sobre o tema:
Governança territorial
A produção de energia no país movimenta a economia brasileira. Apenas no último leilão realizado em junho pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) foram arrecadados R$ 15,3 bilhões. As questões socioambientais e de governança são um dos pontos de atenção para investidores no mercado de energia.
“Neste segmento de mercado, a governança territorial por meio de soluções de processos, como o 4Asset Enterprise, são fundamentais para alcançar as métricas de ESG, contribuindo com informações estratégicas para planos de conservação de recursos naturais; práticas de manejo florestal sustentável; gestão de recursos naturais; preservação de áreas verdes, entre outros”, exemplifica Fabiano dos Santos, CEO do Grupo Verante.
A regularização fundiária também contribui para atender aos princípios fundamentais do ESG, segundo ele:
“Ela é crucial para a segurança jurídica, garantindo a legalidade da ocupação do território e imóveis, além de evitar problemas futuros. Por meio da consultoria especializada em governança de ativos imóveis, como a Visãogeo, é possível trazer mais transparência aos processos relacionados à gestão de imóveis nas áreas de grandes empreendimentos – atendendo ao princípio de governança previsto no ESG”.
Transparência e sustentabilidade na gestão de viagens corporativas
Especializada em despesas e viagens corporativas, a Paytrack tem uma plataforma que garante compliance, ética e transparência na gestão desses processos. Além do software, a empresa oferece recursos como carteira digital e cartão corporativo, módulos de gestão de reembolsos de quilometragem e de conciliação de faturas; além do serviço de agência para a própria organização das viagens.
“Na hora de contratar os serviços e reservar passagens e hospedagens, é muito importante buscar fornecedores, hotéis, restaurantes, empresas aéreas, que tenham as mesmas preocupações que a sua empresa, ou seja, que também levem o ESG a sério“, destaca Cibeli Oliveira, Product Manager da empresa.
Dentro da plataforma, os responsáveis têm acesso ao relatório RDV20, que calcula a emissão de carbono gerada pelas viagens aéreas realizadas pelos colaboradores da empresa: o cálculo é feito a partir da quilometragem entre o aeroporto de partida e o aeroporto de destino.
“Todos os recibos digitalizados são enviados instantaneamente para os responsáveis por controlar despesas e realizar os reembolsos necessários, o que elimina a necessidade de emissão de vouchers impressos. Os hotéis selecionados, os colaboradores envolvidos, os tipos de transporte utilizados, as despesas autorizadas… Tudo isso fica disponível para o gestor, que pode tomar decisões eficientes para manter o compliance e garantir a saúde financeira do negócio. Além disso, se necessário, é mais fácil realizar uma auditoria interna“, explica.
Redução da pegada de carbono e aumento da inclusão
Popularizado a partir da pandemia, o trabalho híbrido se consolidou por não apenas melhorar a sustentabilidade financeira das empresas, mas também conservar recursos naturais e reduzir o impacto ambiental, além de melhorar o bem-estar dos funcionários e aumentar a inclusão.
“Um bom gerenciamento do trabalho híbrido pode gerar economia de recursos naturais e colaborar para objetivos como a redução de uso de energia elétrica, água e outros. Nossa ferramenta permite que as salas sejam reservadas, e dessa forma cada espaço só é aberto quando há demanda, evitando que espaços vazios consumam energia elétrica e ar-condicionado“, aponta Mário Verdi, CEO da Deskbee.
O trabalho híbrido tem outra faceta na diminuição das emissões de carbono: a redução dos deslocamentos dos funcionários, o que diminui o uso de transportes poluentes.
“Outra maneira pela qual o trabalho híbrido pode colaborar na agenda ESG é por meio de uma melhor gestão de recursos humanos, promovendo bem-estar e inclusão. A possibilidade de trabalhar de qualquer lugar e em horários flexíveis cria mais oportunidades para pessoas que moram localidades distantes dos grandes centros; e facilita a entrada no mercado de trabalho de grupos como as mães solo, que muitas vezes não conseguem conciliar um modelo presencial com as necessidades de cuidados dos filhos, e as Pessoas Com Deficiência (PCDs), que evitam deslocamentos diários, que podem ser difíceis, visto que a maior parte das cidades ainda sofre com falta de acessibilidade“, complementa.
Gestão transparente é aliada da governança e meio ambiente
O uso da tecnologia de gestão Enterprise Resource Planning (ERP) vem crescendo no Brasil. É o que revela uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Entre as empresas de serviços, 84% responderam que utilizam o ERP em sua operação e gestão; entre as empresas de grande porte, o percentual é de 96%. O uso do sistema de gestão é um aliado estratégico nas práticas de ESG, aponta Odair Behnke, gestor de operações com o mercado da WK:
“Com soluções inteligentes de ERP, como o WK Radar, as empresas podem fazer um acompanhamento dos aspectos relacionados à governança, um dos pilares do ESG. O sistema de gestão contribui ainda para o compliance fiscal, seguindo as normas internacionais de relatórios financeiros (IFRS) e o acompanhamento das metas econômico-financeiras de maneira integrada à operação”.
Tecnologias para o setor florestal ajudam na preservação do meio ambiente
A tecnologia tem ajudado cada vez mais os produtores e gestores florestais no respeito às normas e na preservação do meio ambiente. Soluções de monitoramento das atividades e de rastreabilidade das máquinas, por exemplo, auxiliam com uma visão detalhada do que acontece nas fazendas.
“Com uso de sensores e softwares avançados, é possível registrar a posição da máquina e o processo que está sendo realizado de segundo a segundo, obtendo relatórios detalhados sobre área trabalhada, distância percorrida, velocidade, produtividade, entre outros fatores relevantes”, comenta Claudia Garcia, gerente de contratos florestais da divisão de Agricultura da Hexagon.
No âmbito ecológico, esse tipo de tecnologia é capaz de ajudar, sobretudo, na diminuição dos riscos de invasão a espaços protegidos, como as áreas de preservação permanente (APP), detalhadas no Código Florestal pela sua importância para a preservação de recursos hídricos e da biodiversidade. Faixas marginais de cursos d’água, topos de morros e manguezais, por exemplo, estão entre elas.
“Temos muita procura de empresas que trabalham com silvicultura preocupadas em preservar o meio ambiente e atender a legislação para que não ocorra invasões em áreas de APP nos seus processos. Com esse tipo de solução, os operadores conseguem visualizar os limites de atuação na tela do display embarcado na máquina e evitam qualquer ultrapassagem”, reforça.
ESG no campo: oportunidades com exportação e redução de perdas e desperdício
A rastreabilidade de alimentos é uma estratégia nos processos de ESG na cadeia agroalimentar, haja vista que a tecnologia impacta positivamente na qualidade dos alimentos que chegam ao mercado e na validação de processos de qualidade exigidos pelos países exportadores.
“Investidores estão de olho em negócios que têm esse pensamento, dando preferência para mercados que já os possuem. Ou seja, esse investimento apresenta menor risco para realização de aportes”, aponta Pietro Schenardi, Customer Manager da PariPassu.
A tecnologia de rastreamento de alimentos contempla os três pilares do ESG, fornecendo dados para controle em todo o processo, desde o campo até a indústria e varejo. No pilar ambiental, é possível comprovar que o alimento passou por um percurso livre de qualquer prejuízo ao meio ambiente, como uso abusivo de agrotóxicos, cultivo em área de desmatamento, e desperdício de recursos naturais. No pilar social, o rastreamento identifica e certifica todos os profissionais da cadeia de alimentos, sendo um instrumento para detectar qualquer irregularidade relacionada à força de trabalho. Em governança, a rastreabilidade contribui para a transparência, responsabilidade fiscal, combate a posturas antiéticas. “A rastreabilidade é uma ferramenta necessária para legitimar todas as práticas ESG da cadeia produtiva e torná-las conhecidas”, destaca Pietro.
Abordagens mais inteligentes sobre entrega e transporte
Com o aumento das vendas online, o impacto da cadeia de suprimentos no meio ambiente é um ponto de atenção para as empresas. A maioria das marcas que oferece canais de venda direta ao consumidor não tem a capacidade, por exemplo, de permitir que o cliente agregue pedidos em um período de vários dias ou altere um pedido além de um período de arrependimento de 30 a 60 minutos. Ou seja, após clicar no botão de compra e concluir a transação, não é possível mais alterar, cancelar ou mesmo adicionar nada ao pedido. Essa inflexibilidade leva a situações em que as compras feitas em vários dias ou no mesmo dia acabam sendo entregues por várias transportadoras diferentes.
Graças aos recursos oferecidos por tecnologia de soluções de gestão de pedidos, ponto de venda e engajamento do cliente, há uma maneira mais inteligente de gerenciar as operações, permitindo que o consumidor tenha mais influência sobre suas próprias decisões na cadeia de suprimentos do varejo.
De acordo com Marco Beczkowski, diretor de vendas e CS da Manhattan Associates Brasil, essas capacidades criam essencialmente um pedido com um status de rascunho quando ele ainda está no armazém, permitindo que o cliente faça mudanças e adições, até o momento em que vai para o caminhão:
“Essa abordagem pode ajudar a eliminar o excesso de ofertas de entrega, junto com materiais de proteção e embalagem associados a vários pedidos menores; além da pegada de carbono do processo de devolução”.
Investimento em saúde mental nas práticas de ESG
“Cuidar da saúde mental dos colaboradores está diretamente ligada ao S da sigla ESG, porque o meio social nas empresas é construído a partir do bem-estar dos colaboradores e do envolvimento com as questões sociais da comunidade“, destaca Rodrigo Roncaglio, CEO da Guia da Alma.
A plataforma é especializada em saúde mental para empresas e pessoas que reúne a oferta de terapias complementares, cursos e conteúdos dedicados à temática online.
“Hoje, profissionais com transtornos mentais comuns equivalem a 50% mais dias de faltas nas empresas do que os que apresentam problemas físicos. É preciso focar na saúde e bem-estar mental dos funcionários, para assegurar a eles uma vida mais saudável, e gerar frutos positivos para o negócio em quesitos como produtividade, satisfação e boas práticas de trabalho“, avalia.
Ainda de acordo com o especialista, para começar a desenvolver a saúde mental e ESG na empresa, os CEOs, líderes e gestores de RH devem focar em seis pilares: ações coletivas que foquem no bem-estar emocional dos funcionários, atitudes que influenciam na conservação do meio ambiente, oferta de terapias complementares como benefício corporativo, atividades laborais de descompressão, meditação e relaxamento, treinamento de líderes com foco na gestão humanizada de pessoas e o desenvolvimento de programas de saúde mental.
Texto: Redação Economia SC