Micróbio, ou microrganismo, provém da expressão grega que significa “pequena vida”. Toda pequena vida está conectada a organismos maiores, seja o corpo humano ou outros ecossistemas naturais. E não é porque são seres microscópios que esses organismos celulares estão a salvo da emergência climática. O que acontece com eles pode reverberar para toda a cadeia de vida. Atento às conexões, um novo estudo da Faculdade de Artes e Ciências da Universidade de Miami examina como o mundo invisível dos micróbios do solo responde às mudanças globais no planeta.
Estudantes de pós-graduação e pós-doutorado do laboratório de biologia estudaram as sequências de DNA de procariotos, um grupo de micróbios que inclui todas as bactérias e archaea (também chamadas de arqueobactérias). As descobertas estão em um estudo recente publicado na revista Nature Ecology & Evolution. Em um primeiro momento, os pesquisadores buscaram classificar os microorganismos em duas categorias: especialistas e generalistas.
Os generalistas podem sobreviver em uma ampla variedade de condições ambientais e habitats, enquanto os especialistas são mais restritos ou limitados a condições específicas de sobrevivência. Essa é uma categorização aplicada a outros seres vivos também. O urso panda, por exemplo, alimenta-se apenas de bambu dentro de um habitat específico. Não apenas seu habitat é restrito, mas também sua dieta, e se a planta de bambu se extinguir, os ursos panda também podem se extinguir.
Para determinar se os micróbios são generalistas ou especialistas, os pesquisadores usaram diferentes dimensões e condições ambientais relativas ao solo em que vivem, como temperatura, água, nutrientes entre outras. Durante dois anos, a equipe de estudantes analisou mais de 200 amostras de solo coletadas pela National Ecological Observatory Network em regiões dos Estados Unidos.
“A ideia por trás do projeto era descobrir se esses micróbios podem existir dentro de uma gama estreita ou ampla de condições ao longo de muitas dimensões ambientais diferentes”, disse Damian Hernandez, pós-doutorando. Dos mais de 1.200 procariotos examinados, Hernandez e a equipe descobriram que a maioria (90 por cento) dos micróbios eram generalistas multidimensionais ou especialistas multidimensionais.
Essencialmente, se um micróbio era generalista em um eixo ambiental, quase sempre era generalista em todos os outros eixos; e se era especialista em um eixo ambiental, especializou-se em todos os eixos. Esses papéis influenciam de forma diferente a comunidade onde atuam. “Os micróbios generalistas são muito flexíveis e podem suportar uma ampla gama de condições. Mas os micróbios especialistas são sensíveis a muitas condições ambientais diferentes porque estão restritos a múltiplos eixos ambientais e, portanto, qualquer mudança no ambiente pode prejudicar sua sobrevivência. Hipoteticamente, se um ecossistema é estruturado por micróbios especialistas, é mais provável que seja sensível às mudanças ambientais”, disse.
Como os generalistas podem viver em uma ampla variedade de habitats, isso os torna mais resistentes às mudanças climáticas ou à fragmentação do habitat. E a boa notícia é que os generalistas também são muito dominantes nas comunidades microbianas, segundo os cientistas. Já os micróbios especializados podem ser muito suscetíveis a mudanças ambientais. No entanto, eles são importantes “organizadores comunitários”, sendo mais propensos a promover o crescimento das plantas, desintoxicar o solo, digerir carbonos complexos na terra e adicionar nutrientes ao solo.
“Isso é muito preocupante porque o que também aprendemos no estudo é que os especialistas microbianos estão altamente conectados dentro da rede microbiana e podem ser considerados espécies-chave para manter e conduzir a diversidade e a função do microbioma”, disse a professora Michelle Afkhami, que lidera o laboratório de biologia da Universidade de Miami. “Neste estudo, podemos começar a entender – em um sentido mais amplo – algumas de funções biológicas e papéis das comunidades microbianas e como elas responderão às mudanças globais no planeta”, acrescenta.
Fonte: Redação, do Um Só Planeta