A IA pode embasar políticas públicas que reduzam a exposição aos comerciais de ultraprocessados, incentivando melhores escolhas alimentares

Pesquisadores brasileiros desenvolveram uma inteligência artificial capaz de identificar e classificar alimentos em vídeos publicitários de canais abertos e fechados de televisão. Essa é a primeira vez que a tecnologia é utilizada com esse objetivo. A ideia é que a IA monitore comerciais de alimentos ultraprocessados, ajudando na criação de protocolos internacionais de monitoramento de publicidade de alimentos e órgãos reguladores do Brasil.

IA teve alta precisão na identificação dos comerciais

  • A metodologia foi desenvolvida por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e da Universidade de São Paulo (USP).
  • O trabalho foi divulgado na revista científica Public Health Nutrition.
  • Com a IA, gestores e órgãos reguladores podem reduzir em quase 100% o tempo gasto com a análise de comerciais, uma vez que o processo manual passaria a ser feito de forma automática e com um grande volume de dados.
  • A tecnologia criada pela equipe brasileira apresentou uma alta precisão, conseguindo identificar vídeos com alimentos em 90% dos testes.
  • As informações são do UOL.
Alimentos ultraprocessados são nocivos à saúde (Imagem: Niloo/Shutterstock.com)

Tecnologia pode ajudar a melhorar alimentação da população

Os pesquisadores treinaram a IA para reconhecer alimentos em vídeos de comerciais publicitários a partir de dados de gravações de três canais da televisão aberta e dois canais pagos, coletados em meses específicos de 2018 a 2020, seguindo um protocolo internacional de monitoramento de publicidades de alimentos.

A tecnologia analisou mais de 2 mil horas de vídeos de publicidade de diversos produtos e identificou 20 mil publicidades não alimentícias de roupas, carros e eletrônicos, e 703 publicidades de alimentos, incluindo produtos in natura ou minimamente processados e ultraprocessados.

Nos testes realizados, a análise de 1.420 anúncios levou 42 minutos. Em termos de comparação, uma equipe de pesquisa humana levaria duas semanas para analisar a mesma quantidade de anúncios, processo que incluiria gravar um total de 720 horas de programação de oito dias destes canais.

Além de representar uma economia de recursos financeiros, o método validado pelo estudo pode aumentar substancialmente o volume de dados analisados em comparação com os métodos convencionais e simplificar a comparação e o compartilhamento de informação entre instituições e pesquisadores.

Com essa ferramenta, podemos contribuir para o aumento de evidências científicas que irão embasar políticas públicas orientadas a reduzir a exposição individual à publicidade de alimentos não saudáveis, o que pode impactar em melhores escolhas alimentares.

Michele Rodrigues, pesquisadora da UFMG e uma das autoras da pesquisa

O estudo alerta que ainda é preciso estudar o impacto das publicidades de alimentos na saúde pública para enfrentar os desafios globais de nutrição e alimentação, o que exige uma abordagem integrada entre diversas áreas do conhecimento. Agora, os pesquisadores irão investigar estratégias específicas de marketing e expandir a identificação de produtos saudáveis e não saudáveis de alimentação, ampliando o monitoramento para a mídia digital.

Texto: Alessandro Di Lorenzo