sábado,23 novembro, 2024

Produzir cacau na agricultura familiar é promissor e expansão da cultura é expectativa para MT

O planejamento e o manejo são alguns dos quesitos fundamentais no plantio do cacau para atingir amêndoas de qualidade com valor agregado.  Para isso, é preciso considerar as variedades/clones de cacau, produção de mudas, técnica de enxertia, sistema de irrigação, poda de formação, tipos de pragas, fungos e ácaros. Esses são alguns dos conhecimentos trazidos pela comitiva da “Expedição de Mato Grosso a Rondônia: do cacau ao chocolate, do leite ao café” e que serão multiplicados para produtores mato-grossenses para expansão da cultura na agricultura familiar do Estado. 

“O pé de cacau começa a produzir a partir do terceiro ano, mas é preciso seguir algumas particularidades, como por exemplo, que as mudas sejam adquiridas de um viveiro certificado. A planta precisa de sombreamento e uma das melhores culturas é a banana, mesmo tendo outras opções”, explicou o agente de Negócio do Senar, Leandro Ezequiel Oliveira, que orientou e acompanhou a comitiva, e ressaltou que a cultura é promissora. 

A expedição levou à Rondônia uma comitiva com 40 pessoas, entre representantes da Empaer (Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural), Secretaria de Estado de Agricultura Familiar (Seaf), Prefeitura de Aripuanã, agricultores familiares, indígenas, representante do Consórcio do Vale do Juruena, e da Assembleia Legislativa de Mato Grosso. 

¿A iniciativa faz parte do projeto “Sistemas Agroflorestais manejados participativamente com tecnologias agroecológicas”, realizado pela Empaer, em parceria com a Secretaria de Estado de Agricultura Familiar (Seaf), a Prefeitura de Aripuanã, e apoiado pelo Programa REM. A visita de intercâmbio aconteceu entre 14 e 21 de maio. 

O agente de Negócios, que também auxiliou na construção do roteiro, destacou ainda a importância da análise de solo, que precisa ser realizada anualmente. Cada variedade de cacau tem uma forma de poda e tempo adequado de se realizar. Ele ressaltou a importância de se ter outras variedades em uma mesma área, porém de forma que consigam ser identificadas para evitar que se houver alguma infestação de pragas não comprometa todas as plantas.

“Rondônia ainda está caminhando para ser destaque nacional, sendo a Bahia, Pará e o Espírito Santo referências. Assim como vocês, nós também fomos buscar aprendizado com eles. Nessa troca de saberes já começamos a colher resultados positivos em competições nacionais e internacionais. Ganhamos o Concurso Nacional de Qualidade e Sustentabilidade do Cacau Especial do Brasil e fomos classificados para participar do “Cocoa of Excellence (CoEx)”, que é uma premiação internacional realizada anualmente em Paris, França, em setembro”, disse.

Na primeira visita às propriedades, a comitiva foi recebida por Antônio Ferreira Luca e Marinilza Luiza Ferreira, que há 17 anos produzem cacau, mas depois da assistência técnica que orientou a substituição das plantas antigas por clones, a produção triplicou. “Aqui somos acompanhados pelo Senar que além de orientar a forma certa de fazer ainda ajuda na gestão do negócio. São mil pés da fruta, que estão produzindo bem e com investimento já construímos uma casa de fermentação com cochos de madeira de jaca, a mais adequada por não deixar resíduo ou cheiro”.
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A segunda experiência foi com a ganhadora do Concurso de Qualidade e Sustentabilidade do Cacau de Rondônia, a professora aposentada e cacauicultora Maria do Carmo Ferreira. Sua lavoura de 1,8 mil pés de cacau começou de forma despretensiosa e para os netos que cresciam no terreno da propriedade. “Ganhar esse prêmio trouxe novas perspectivas. Hoje, minha meta é produzir amêndoas de qualidade que só consegui graças à orientação técnica. Viver do cacau é possível e o seu retorno segue por mais de 30 anos”.     

O grupo também conheceu o José Nonato, popular Zé Lucas, de 99 anos. Na sua propriedade com quatro mil pés da fruta produz de forma ordenada com controle de pragas e irrigado. Lúcido e comunicativo, ele conta que produz cacau desde 1978, mas somente de uns anos pra cá, junto dos filhos – resolveram investir na cultura e estão tirando a renda da família na venda da polpa e das amêndoas. “Nosso cacau produz o ano todo. É uma cultura que exige cuidado, mas o retorno do investimento é certo. Eu recomendo”.

Já na cidade de Jaru, o ganhador do concurso nacional, Deoclides Pires da Silva, junto de familiares receberam a equipe na sua propriedade de 1.305 hectares de lavoura de cacau. Ele é assistido pela Emater-RO, sob assistência técnica de Francisco Hildemburg, popular Chiquinho da Emater. Ele optou por cultivar a variedade CCN51, mas teve gente que torceu o nariz com a escolha. “Eu não sabia que essa variedade tinha fama de não dar um bom chocolate, apesar de ser um cacau de alta produtividade e fácil de manusear, mas não é aceito na região da Bahia”.

Segundo o cacauicultor, ele descobriu por meio de especialistas que em Rondônia o perfil sensorial é diferenciado, ou seja, uma variedade que não é bem vista no nordeste brasileiro pode fazer sucesso no norte do país. “Mas, além disso, nosso cuidado e dedicação fizeram toda a diferença para que o resultado fosse positivo”, destaca ele.

A comitiva, que trouxe como meta lançar a primeira marca de chocolate da agricultura familiar de MT, também participou de uma degustação com a agrônoma e confeiteira, Jhanne Franco. Graduada em chocolataria, ela produz chocolates com cacau rondoniense e defende que seu produto é fino, de qualidade e livre de corantes, gorduras saturadas e aromas artificiais. “Nossa missão é mostrar o chocolate como alimento e com o lema – Chocolates fazem bem”, ela reforça.

Saiba mais: Expedição para Rondônia traz conhecimento e define metas para iniciar produção de cacau em Mato Grosso

Por: Maricelle Lima Vieira | Empaer-MT

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