segunda-feira,25 novembro, 2024

O que acontece com as ações de uma empresa quando ela investe em ESG?

Pergunte a qualquer pessoa que trabalhe com ESG, o conjunto de métricas socioambientais e de governança que ganhou o mercado nos últimos anos, sobre a frase que mais ouve quando descreve o conceito, e ela te dirá: “só funciona se der dinheiro”. Chega a ser cansativo. Até porque, em nenhum momento, os defensores de um capitalismo humanizado, voltado para o avanço do bem-estar social, propuseram a quebra sistemática de empresas como solução. A ideia é bem mais sofisticada.

O engraçado é que, sempre que um pesquisador resolve olhar para a questão, levantar dados e relacionar desempenho financeiro com aderência aos preceitos da sustentabilidade, o retorno é positivo. Foi assim, por sinal, que surgiu o movimento Capitalismo Consciente, a partir do trabalho do professor Raj Sisodia, da Babson College, sobre empresas com marcas muito fortes e pouco investimento em marketing. O segredo? Colocar o propósito à frente do lucro – o que, ironicamente, aumentava o lucro, descobriu Sisodia.

Na semana passada, um grupo de brasileiros apresentou novas evidências dessa relação simbiótica entre não destruir o único planeta capaz de abrigar vida humana e a rentabilidade das empresas no longo prazo. Carolina Sverner, Andrea Minardi e Fernando Tassinari Moraes, mestrandos do Insper, investigaram se as práticas ESG impactam o valor das ações das companhias.

Momento ESG é o mais importante para o desempenho da ação

Talvez a dúvida sobre a relação entre ganhos financeiros e práticas ESG seja motivada por uma diferença entre a lógica do mercado de capitais, e o ritmo constante de benefícios econômicos proporcionado pelo investimento em ESG. Afinal, se tem uma coisa que o investidor mais gosta além de retorno financeiro, é retorno financeiro rápido. Isso, empresas ESG dificilmente irão proporcionar. “Geralmente, essas empresas estão bem precificadas, e o investidor prefere manter”, afirma Carolina Sverner, uma das autoras do estudo.

Aí está o pulo do gato. O preço de uma ação, no final do dia, pode ser resumido a uma relação entre risco e retorno. O risco nas empresas ESG é sempre menor, então as oscilações são menores. O retorno, no entanto, é garantido por um prêmio de risco, e é maior se comparado a companhias não aderentes ao ESG.

Sverner e seus colegas também identificaram algo mais direto sobre essa relação: o movimento das notas de ratings ESG impacta na mesma direção o valor dos papéis. Se sobe, sobe, e vice-versa. Não espere de uma empresa madura social e ambientalmente grandes saltos de preço – a não ser que essa empresa seja uma grande fabricante de cosméticos que resolve comprar a concorrente e acaba com um problema de endividamento. Já aquelas companhias que estão no meio de uma jornada ESG, e começam a ver suas notas de rating avançarem, se apresentam como boas opções para um retorno seguro e, até certo ponto, rápido.

O quanto o ESG influencia no preço da ação

E aí vem o “X” da questão. Estabelecido que o ESG aumenta o preço da ação, de quanto é esse prêmio? Pelas contas do trio do Insper, considerando as ações que compõem o índice S&P 500, ele varia de 0,23% a 0,35%. Parece pouco, mas não é. Essa variação positiva se dá sobre ações que deram retorno, ou seja, considerando empresas com bom desempenho, excluindo as que tiveram queda, os papéis ESG têm maior chance de oferecer retornos acima do mercado, com menos risco. “No mínimo, sai de graça”, afirma Sverner. Se você é da turma do “só acredito vendo”, está aí uma oportunidade: invista em empresas ESG e tire a prova.

Texto: Rodrigo Caetano

Redação
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