segunda-feira,25 novembro, 2024

Os horizontes de Inovação e o impacto no campo

Conceitos como Internet das Coisas (IoT), Big Data e Inteligência Artificial já têm sido empregados em soluções oferecidas pelas AgTech, modelo de startup que se define como empresas que buscam soluções inovadoras no agronegócio, por meio de novas tecnologias. 

Essa empolgação do setor só aumenta, na medida em que a representatividade do agronegócio na balança comercial brasileira é considerável. Entre janeiro e abril de 2022 o agronegócio registrou um superávit de US$ 43,7 bilhões. No ano de 2021, dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) conseguidos em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária no Brasil (CNA), apontaram que o Produto Interno Bruto (PIB) do setor apresentou um crescimento de 8,36% o que significa uma expressiva participação de 27,4% no PIB brasileiro. Sem contar que ainda o agro é responsável por 50% de tudo aquilo que o Brasil exporta. 

E, na medida em que esses números crescem, também se estabelece a necessidade de ficar de olho no que tem sido tendência em termos tecnológicos que permite não apenas uma atualização e eficiência, mas também uma posição de vanguarda e de competitividade no mercado. 

De acordo com o Agtech Report de 2021, as AgTechs estão capitalizando tecnologias inovadoras que prometem retornos financeiros, sociais e ambientais para um conjunto cada vez mais diversificado de apoiadores, incluindo tecnologia, impacto e investidores não tradicionais. Os grupos de capital de risco investiram US$10,5 bilhões em 751 negócios do setor no último ano, um aumento no valor do negócio de mais de 58% ano a ano.

O anseio por integrar esse ecossistema de cifras milionárias, assim como o aumento da demanda por práticas agrícolas ecologicamente corretas e a crescente conscientização sobre as mudanças climáticas e questões de segurança alimentar,e claro mudança no comportamento do consumidor, abrem espaço para que tecnologias imersivas – como gamificação, realidade virtual e aumentada – e também disruptivas – como Web3, blockchain, NFT e metaverso – comecem a fazer parte do interesse e do repertório agro. 

No entanto, é preciso salientar uma questão importantíssima: ao decidir-se por caminhar em uma trajetória de inovação, é preciso entender – primeiro – se e como todo o aparato tecnológico existente e disponível pode, realmente, trazer benefícios para quem mais interessa e importa nesta equação: as pessoas. A transformação genuína de todo e qualquer setor da economia só acontece quando o usuário do que se almeja é colocado no centro.  

A grande questão a ser respondida nesse momento é a seguinte: estão os produtores e os fornecedores de tecnologia preparados para explorar o máximo do que as tecnologias oferecem? Os integrantes da cadeia produtiva sabem entender a dor do consumidor? Perguntas como essas são fundamentais e precisam ser respondidas em sua essência, antes de se investir desenfreadamente em algo que não vai se traduzir em eficiência e maior facilidade para que as pessoas possam colocar o campo na mesa. É importante sempre lembrar: tecnologia é apenas um meio de facilitar a vida do consumidor. 

Temos exemplos interessantes que utiliza e destacarei um deles. A John Deere, que comercializa linhas de máquinas e implementos agrícolas e equipamentos de construção, assim como máquinas florestais,  desenvolveu um aplicativo de realidade aumentada que permite saber como ficaria um dos seus tratores na sua própria lavoura. Ao escanear o terreno com o celular é possível visualizar em 3D o modelo no espaço e, ainda, conhecer suas tecnologias e interagir em alta resolução.

Nesse contexto é importante ressaltar também que poucas são as cabeças pensantes que conseguem, hoje, falar sobre tecnologia imersiva e como ela pode contribuir para o agronegócio brasileiro. Na prática, ainda existem várias dúvidas sobre a aplicabilidade de negócio. E esse é o grande x da questão. De que adianta, por exemplo, introduzir blockchain na produção para rastrear a cadeia, estabelecer os princípios para a neutralização de carbono, se não tiver, na outra ponta, a aplicabilidade no negócio.

Por outro lado, enquanto o “be-a-bá” sustenta o hoje, a experimentação nos leva para o amanhã. E se neste momento tem uma inquietação te incomodando, estou aqui para te apresentar os horizontes de inovação que chamamos de H1, H2 e H3. 

Pense no H1 como, inovações incrementais, ou seja, aquilo que precisamos resolver agora, seja ela com um novo processo seja uma feature. Rastreabilidade é algo que pode entrar como exemplificação aqui. Sua implementação se faz urgente para evitar uma série de problemas e desgastes na qualidade do que é oferecido aos consumidores e na relação com eles. E já não falta no mercado opções de soluções que podem ser adotadas com agilidade.

No H2 estão os novos modelos de negócios a serem implantados e que podem ser úteis no dia a dia dos produtores. De forma prática, esse passo pode ser ilustrado pelo que faz a startup Agrotools que desenvolveu uma ferramenta de monitoramento por satélite que é capaz de acompanhar toda a cadeia das empresas e é utilizado hoje por grandes marcas. 

O H3, por sua vez, é onde estão as questões que demandam a aplicação do modelo disruptivo e das tecnologias que se apresentam hoje, o que inclui grande parte do que é tido pelo mercado como imersivo. É aqui que entra a palavra da moda: metaverso. 

No mundo ideal, as empresas deveriam investir 70% do seu tempo no H1 – para garantir a excelência do serviço prestado no presente; 20% no H2 – para manter-se competitiva e eficiente; e 10% no H3 – para experimentar, errar, acertar e se encontrar no mundo futuro que é construído todos os dias.

No mundo real, a grande maioria se esquece do H3 e só o percebe quando aparece um player que engole o mercado. E o perigo disso é a corrida desenfreada pelo buzz, sem entender o que está por trás das novidades e como é que ela, de fato, gera negócios, lucros e impactos positivos ao ecossistema. 

Desse modo, quanto mais o homem do campo for capaz de incorporar o H3 no seu dia a dia, maior é a chance de ser o protagonista dessa história, porque ninguém pode fugir da realidade: vivenciamos uma verdadeira revolução no campo. As soluções que se apresentam precisam ser desenvolvidas e ajustadas às necessidades de cada produtor para poderem gerar dados cada vez mais precisos para auxiliar nas tomadas de decisão.

O que vem para corroborar com essa tese é o dado apresentado pela Comissão Brasileira de Agricultura de Precisão. Ele mostra que 70% das propriedades agrícolas, em razão da implantação da digitalização, já usam alguma inovação tecnológica.

O Censo AgTech de Startups Brasil mostrou que no ano passado existia mais de 300 agrotechs no País. Outro estudo, da AgTech Mining Report, realizado pela plataforma de inovação Distrito, apontou para investimentos no setor na casa dos US$ 160 milhões, para o desenvolvimento do uso da internet das coisas, automação, robotização, marketplace e agricultura de precisão.

A economia digital já é uma realidade. A pandemia e o isolamento social alavancaram a transformação digital de inúmeros mercados. Entretanto, uma revolução já em curso – chamada de web 3.0 – está prestes a exigir que empresas agro que lidam com o avanço da relevância da tecnologia intensifiquem a busca por inovação no seu modelo de negócio.

As novas tecnologias desatualizam impérios empresariais ao mesmo tempo em que o ritmo de conhecer e exercer inovação nunca acompanha a evolução da própria inovação em si. Ou seja, se temos um amanhã que será diferente e ainda desconhecido, a única coisa que se pode fazer agora é agir. 

Camilla Gurgel é diretora executiva & partner na 16 01, consultoria de inovação responsável por projetos entregues para Bayer, SICREDI, Unilever, Ambev, Nestlé, Google, Cubo Itaú, Uber e Gerando Falcões. Entusiasta no assunto Inovação no agro, recentemente integrou o painel Experiências 360º, do campo à mesa do consumidor, realizado no AgTech Meeting. 

Fonte: Growth Comunicações

Por: Portal do Agronegócio

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