segunda-feira,23 setembro, 2024

Cidades inteligentes: prefeituras usam tecnologia para ampliar serviços e qualidade de vida

Horas perdidas no trânsito, transporte público insuficiente e lotado, poluição, serviços que não funcionam e pouca atenção ao meio ambiente. É um cenário que traduz um estilo de vida que parece conspirar contra nós mesmos.

O conceito de cidade inteligente (ou, no inglês, smart city) veio para mudar esse quadro, ao proporcionar soluções, com ajuda de tecnologia, para melhorar a qualidade de vida da população, considerando fatores sociais, econômicos, de mobilidade, inovação, educação, saúde, governança e transparência do governo. E isso está intimamente ligado a uma economia sustentável.

— O BID [Banco Interamericano de Desenvolvimento] considera cidades inteligentes aquelas que colocam a pessoa no centro do desenvolvimento, incorporando tecnologia da informação e comunicação na gestão, para formular políticas públicas e ter governo e serviços eficientes — diz Luís Felipe Bismarchi, doutor em ciência ambiental e pós-doutor em administração pela USP e hoje professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi).

Desde 2015, a Urban Systems publica o Ranking Conected Smart Cities. Na edição de 2022, Curitiba está no topo da lista, seguida por Florianópolis e as paulistas São Paulo, São Caetano do Sul e Campinas. Para o estudo, a empresa se debruçou sobre os dados de 676 municípios com mais de 50 mil habitantes, colhidos com base em 11 eixos temáticos e 75 indicadores.

No final, é feita uma ponderação a partir de três pesos diferentes atribuídos aos dados, chegando a uma nota final de, no máximo, 70 pontos. Mesmo na dianteira, Curitiba só alcançou 38,6 pontos.

Fomento a inovação

Entre os 11 eixos trabalhados pela Urban Systems estão aspectos de uma cidade funcional, como melhoria da mobilidade, bom planejamento urbano, oferta de serviços de saúde, educação e segurança, disponibilidade de energia renovável, entre outros.

Em muitos aspectos são itens semelhantes aos critérios de outro ranking municipal, o Índice de Desenvolvimento Sustentável das Cidades, que mede o progresso dos locais no cumprimento dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas.

Curitiba, que já era referência em mobilidade, planejamento urbano e meio ambiente, criou, em 2017, o programa Vale do Pinhão, a fim de promover ações para se tornar uma cidade inteligente. Por intermédio do programa, a prefeitura atraiu a academia e o setor privado para fomentar a inovação. E criou um arcabouço legal, para dar suporte jurídico às empresas e gerar emprego e renda. Em paralelo, começou a trabalhar seu “arcabouço tecnológico”, com a consolidação de uma base de dados para poder criar produtos e serviços digitais.

Um dos resultados foi a criação da plataforma Curitiba App, que dá acesso a mais de 600 serviços digitalizados com login único. Por meio dele, é possível contatar o Curitiba 156, que recebe solicitações de serviços (de asfalto e iluminação, por exemplo) e fornece informações como horário e itinerário de ônibus, bem como o Saúde Já, que possibilita a marcação de consultas.

— Tudo no mesmo lugar. O cidadão pode pagar IPTU, acessar o crédito da nota (fiscal) curitibana, saber qual é o próximo curso de empreendedorismo ou o que vai ser exibido no Teatro Paiol — diz Cris Alessi, presidente da Agência Curitiba de Desenvolvimento e Inovação.

Como outras cidades, Curitiba está prestes a assinar um contrato de PPP, no caso com a geradora de energia Engie, para modernizar sua iluminação pública. Além da colocação de lâmpadas de LED em toda a cidade, a empresa terá de instalar em 30% das luminárias da cidade dispositivos como sensores para medir e gerar dados sobre, por exemplo, qualidade do ar e trânsito.

Segundo Marcus Cunha, diretor de Soluções para Cidades da Engie, a tecnologia LED está sendo procurada porque pode reduzir em 50% a 60% o consumo de eletricidade. As luminárias recebem remotamente comandos para regular o nível de luminosidade e detectar defeitos.

Em paralelo, a cidade está construindo o Bairro Novo do Cachimba, que, segundo a prefeitura, será o primeiro local inteligente do país, com adoção de boas práticas ambientais, moradias para mais de mil famílias e estímulo à economia circular com capacitação dos moradores.

  • De material de construção a itens de limpeza: Produtos inovadores permitem tornar casa mais sustentável

O incentivo aos negócios locais é um objetivo importante para os municípios que buscam ser mais inteligentes. Bismarchi, da Fipecafi, lembra que o marco legal das startups é uma ferramenta que permite às cidades fazer chamamentos com base em problemas identificados pelo município:

— É um avanço importante, porque até então a contratação pública já deveria descrever em detalhes o que teria de ser feito. Isso obriga que a prefeitura seja inovadora e permite que as cidades inteligentes atuem na transição para uma economia de baixo carbono.

Hortas urbanas

A BeGreen Fazendas Urbanas, por exemplo, obteve financiamento do Desenvolve SP. A empresa tem hortas em áreas de shoppings em São Paulo, Campinas, Belo Horizonte, Salvador e Goiânia e no topo de dois prédios: um industrial, da Mercedes Benz, em São Bernardo do Campo, e na sede do iFood, em Osasco, ambos em São Paulo.

No primeiro, parte da produção é destinada ao consumo no refeitório da empresa e parte é doada. Na Mercedes, além do uso no refeitório, o trabalhador também pode comprar e levar o produto para casa.

A ideia de criar a BeGreen, em 2017, surgiu, recorda o CEO Giuliano Bittencourt, depois de descobrir que quase 70% dos alimentos perecíveis produzidos acabam indo para o lixo. Isso acontece porque a cadeia é cheia de elos e distante do consumidor, diz. Segundo ele, o grande mote da BeGreen é levar a produção para perto de onde as pessoas consomem, o que reduz a emissão de CO2 e o desperdício, aumenta a produtividade, além de entregar um produto fresco, sem agrotóxico.

O método de produção é hidropônico de cultivo em estufas. De acordo com Bittencourt, a BeGreen utiliza 90% menos água que o modelo tradicional, desperdiça apenas 2% do cultivo e produz 28 vezes mais que um produtor convencional.

As fazendas em shoppings, além de fornecerem para os restaurantes do local, são abertas à população, que pode colher e comprar os alimentos. Há ainda um modelo de assinatura para receber o produto em casa, desde que esteja no raio de até um quilômetro.

— Áreas verdes e integração entre as regiões são os maiores desafios das cidades — comenta Patricia Ellen, ex-secretária de Desenvolvimento Econômico de São Paulo e atual sócia da consultoria Systemiq.

O problema, pontua a executiva, é que as cidades não são apenas vítimas das mudanças climáticas e das desigualdades. São, na verdade, causadoras e aceleradoras de muitos dos problemas ligados a esses temas. Os centros urbanos são, por exemplo, responsáveis por cerca de 70% das emissões de gases de efeito estufa globais.

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