quarta-feira,27 novembro, 2024

Nova tecnologia de análise de DNA soluciona crime ocorrido no século 12

Em 2004, trabalhadores da construção civil em Norwich, no Reino Unido, desenterraram restos de esqueletos humanos que levaram a um mistério histórico — havia pelo menos 17 corpos no fundo de um poço medieval. Usando registros arqueológicos, documentos históricos e DNA antigo, pesquisadores britânicos identificaram os indivíduos como um grupo de judeus Ashkenazi, que podem ter sido vítimas de violência antissemita durante o século 12. A descoberta, publicada na revista Current Biology, lança uma nova luz sobre a história médica judaica na Europa, disseram os pesquisadores.

“Já se passaram mais de 12 anos desde que começamos a investigar quem são essas pessoas, e a tecnologia finalmente alcançou nossa ambição”, diz o geneticista evolutivo e autor correspondente Ian Barnes, do Museu de História Natural de Londres. “Nosso principal trabalho era estabelecer a identidade desses indivíduos no nível étnico.”

Descobriu-se que as pessoas mortas carregavam alguns distúrbios genéticos, para os quais os judeus Ashkenazi modernos correm maior risco. Doenças que são particularmente comuns em certos grupos podem surgir durante eventos de gargalo, onde uma rápida redução populacional pode levar a grandes saltos no número de portadores de mutações raras.

Usando simulações de computador, a equipe mostrou que o número de tais mutações de doenças nos restos mortais era semelhante ao que eles esperariam se as enfermidades fossem tão comuns na época como são agora em judeus asquenazes. Os resultados apontam para um evento de gargalo que moldou a população desse grupo judaico moderno antes do século 12, mais cedo do que as crenças anteriores, que datavam o evento cerca de 500 a 700 anos atrás.

Misturados

Ao contrário de outros locais de enterro em massa, onde os corpos foram colocados de forma organizada, os esqueletos deste poço foram estranhamente posicionados e misturados, provavelmente porque foram depositados de cabeça para baixo logo após a morte. Investigações arqueológicas relataram seis adultos e 11 crianças no local incomum do sepultamento.

Juntas, as descobertas sugerem fatalidades em massa, como fome, doenças ou assassinatos. A datação por radiocarbono dos esqueletos datou as mortes por volta do fim do século 12 ao início do 13 — um período com surtos bem documentados de violência antissemita na Inglaterra —, levando os pesquisadores a considerar o crime.

A equipe coletou o DNA de seis esqueletos do poço, usando uma nova tecnologia que decodifica milhões de fragmentos genéticos de uma só vez. Os resultados mostraram que os indivíduos eram quase certamente judeus ashkenazi. Entre eles, quatro eram parentes próximos, incluindo três irmãs — uma de entre 5 a 10 anos, uma de 10 a 15 e uma jovem adulta. A análise também inferiu os traços físicos de um menino de 0 a 3 anos — olhos azuis e cabelos ruivos, este último uma característica associada a estereótipos históricos de judeus europeus.

Surpresa

“Foi bastante surpreendente que os restos inicialmente não identificados preenchessem a lacuna histórica sobre quando certas comunidades judaicas se formaram e as origens de alguns distúrbios genéticos”, diz o geneticista evolucionista e coautor Mark Thomas, da Universidade College de Londres. “Ninguém havia analisado o DNA antigo judaico antes por causa das proibições de perturbar túmulos judaicos. No entanto, não sabíamos disso até depois de fazer as análises genéticas.”

Depois de saber a identidade dos restos mortais, a comunidade local organizou um enterro judaico formal para os indivíduos. Barnes e Thomas dizem que ainda não sabem o que causou diretamente a morte dos 17 indivíduos, e é um quebra-cabeça que o DNA antigo não pode resolver. No entanto, trabalhando com historiadores locais, arqueólogos e a comunidade, os pesquisadores ofereceram novos insights sobre a violência histórica e as origens da população judaica ashkenazi.

“Quando você estuda DNA antigo de pessoas que morreram centenas a milhares de anos atrás, muitas vezes não consegue trabalhar com uma comunidade viva ao mesmo tempo”, diz Barnes. “Foi muito gratificante trabalhar com essa comunidade em uma história que é tão importante para eles.”

Por: Correio Braziliense

Redação
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