Com Timothée Chalamet no papel de Willy Wonka, longa conta a história do criador da fantástica fábrica de chocolates; veja alguns pontos da trama que se conectam com a realidade

Willy Wonka se tornou um grande inventor de doces e chocolates conhecido mundialmente? Essa é a história contada no filme Wonka, que estreia nesta quinta-feira (7) nos cinemas.

O longa dirigido por Paul King é uma prequela de A fantástica fábrica de chocolate, livro de Roald Dahl sobre um grupo de crianças que têm a chance de visitar a extraordinária fábrica de doces comandada por Wonka. Desde sua publicação em 1964, a obra já foi adaptada para as telonas duas vezes: a primeira em 1971, com o ator Gene Wilder como o empresário excêntrico, e a segunda em 2005, com Johnny Depp nesse papel.

“Acredito que Willy Wonka é um dos grandes personagens duradouros da literatura infantil”, declarou King ao canal no YouTube HeyUGuys a respeito do protagonista, que agora é interpretado no cinema por Timothée Chalamet (de Duna Me Chame Pelo Seu Nome).

Apesar de seu caráter ficcional e até mesmo mágico, o romance de Dahl não deixa de apresentar influências e referências da realidade. Segundo o The Guardian, o escritor britânico afirmou em sua autobiografia, Boy: Tales of Childhood (sem edição no Brasil), que a empresa Cadbury enviava lançamentos de doces para os alunos da escola dele experimentarem. Isso teria inspirado o autor ao escrever sua famosa obra.

A seguir, confira outros três pontos de Wonka que têm laços com a vida real.

De onde vêm os Oompa-Loompas?

Em Wonka, eles vêm da Loompalândia. No entanto, a primeira edição do livro A fantástica fábrica de chocolate apresenta os Oompa-Loompas como pigmeus levados do continente africano para trabalhar na fábrica de chocolate em troca não de dinheiro, mas de grãos de cacau, segundo a publicação online ReVista: Harvard Review of Latin America, da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Os pigmeus são um grupo de povos da África Central cujos membros são conhecidos por sua baixa estatura média.

Porém, em uma edição revisada da obra e lançada em 1973, os Oompa-Loompas foram reinventados enquanto pequenas criaturas mágicas de pele branca rosada e cabelo castanho dourado. Mais tarde, como aparece no filme de 1971, eles foram transformados em figuras de pele laranja e cabelos verdes, características presentes no personagem interpretado por Hugh Grant no novo lançamento.

O ator Hugh Grant como Oompa-Loompa no filme Wonka (2023) — Foto: Warner Bros. Pictures / divulgação
O ator Hugh Grant como Oompa-Loompa no filme Wonka (2023) — Foto: Warner Bros. Pictures / divulgação

“Essa transformação é um branqueamento textual que obscurece a dinâmica de poder entre Wonka como proprietário da fábrica e os Oompa-Loompas como sua força de trabalho explorada”, escreveram Kate Cantrell e David Burton, da Universidade do Sul de Queensland, para o The Conversation.

Quando o primeiro filme estava em fase de produção, a Associação Nacional para o Progresso das Pessoas de Cor (NAACP, na sigla em inglês), nos Estados Unidos, chegou a ameaçar boicotar o longa devido às problemáticas associadas à representação inicial dos personagens.

Dahl então concordou em descaracterizá-los enquanto pessoas negras tanto no livro quanto no longa-metragem, segundo afirma Donald Sturrock na biografia autorizada de Roald Dahl, de 2011, escrita com base em arquivos presentes no Roald Dahl Museum and Story Centre.

Os monges chocólatras

No longa de Paul King, há um cartel das empresas de chocolate da cidade monopolizando o mercado da guloseima. Assim, os donos das lojas localizadas na chamada Galeria Gourmet se unem para derrotar as tentativas de Wonka de produzir e comercializar suas invenções.

Igreja tem um papel central nessa briga: o padre interpretado por Rowan Atkinson, ator conhecido por estrelar a sitcom Mr. Bean, lidera uma catedral cheia de monges chocólatras que protegem o chocolate fabricado na sua cidade.

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Rowan Atkinson no filme Wonka (2023) — Foto: Warner Bros. Pictures / divulgação
Rowan Atkinson no filme Wonka (2023) — Foto: Warner Bros. Pictures / divulgação

Apesar de não ser possível afirmar que há uma relação de vício entre monges e o chocolate, ambos têm uma relação histórica que vai além de Wonka.

A forma como os maias astecas consumiam esse “alimento dos deuses” – que era chamado de chocolatl na língua náuatle – foi importado das Américas para a Europa pelos espanhóis, conforme a National Geographic. Hernán Cortés teria sido o responsável por levar o chocolate à Espanha em meados do século 16. Nessa época, o segredo da produção desse alimento inicialmente consumido como uma bebida foi confiado aos monges e freiras.

Acredita-se que foi no Monasterio de Piedra, no município espanhol de Calatayud, que o chocolate teria sido preparado pela primeira vez no continente europeu, segundo a Câmara Municipal da própria cidade. Foi lá, inclusive, que o açúcar teria sido adicionado à receita trazida das Américas.

Timothée Chalamet no filme Wonka (2023) — Foto: Warner Bros. Pictures / divulgação
Timothée Chalamet no filme Wonka (2023) — Foto: Warner Bros. Pictures / divulgação

Já no século 18, o cacau foi um importante elemento da dieta dos monges, apesar de não ter sido aprovado de início no Velho Mundo. Entre os clérigos, havia surgido um debate a respeito da permissão para consumir o chocolate durante o jejum, sendo que alguns defendiam o consumo, uma vez que era uma bebida e, portanto, um líquido.

Doces Wonka da vida real

A história original descreve vários doces criados por Willy Wonka, como Gobstopper (o doce que dura para sempre), toffee de cabelo (que faz crescer os pelos do corpo), papel de parede “lambível”, entre outras criações.

Alguns doces Wonka realmente existiram. Mas, é claro, eles foram totalmente inspirados na história de Dahl – e, ao contrário do que é mostrado no cinema, eles não fazem ninguém voar, mudar de cor ou passar por qualquer tipo de reação emocional e física bizarra.

Wonka Rainbow Nerds, balas reais inspiradas em A Fantástica Fábrica de Chocolate — Foto: Divulgação / Amazon
Wonka Rainbow Nerds, balas reais inspiradas em A Fantástica Fábrica de Chocolate — Foto: Divulgação / Amazon

Para promover o filme de 1971 de A Fantástica Fábrica de Chocolate, a marca Willy Wonka Candy Factory foi criada. Mais tarde, em 1988, essa produção foi comprada pela Nestlé, segundo o site Mashed. Alguns dos doces comercializados foram os Everlasting Gobstoppers, Runts, Pixy Stix Nerds. E, ao contrário do que se possa pensar, a famosa barra de chocolate Wonka nunca chegou às prateleiras.

Texto: Beatriz Herminio, com edição de Nathalie Provoste