Em 2023, o planeta registrou o período de três meses mais quente da história. Ondas de calor atingiram cidades, prejudicando a saúde das pessoas e perturbando suas rotinas. A temperatura da China, por exemplo, registrou recordes, levando as pessoas a procurarem abrigos antiaéreos.
Já chuvas arrastaram pontes e casas em Nova Délhi, na Índia, que registrou seu dia mais chuvoso em mais de 40 anos. Hilary, a primeira tempestade tropical que atingiu a Califórnia em 84 anos, causou inundações: o volume de chuvas um ano inteiro na cidade foi registrado em um único dia. Em setembro, Hong Kong foi atingida pela maior chuva desde que os registros começaram, há 140 anos.
Além de sofrerem com mudanças climáticas, no ano passado cidades também foram atingidas por desastres naturais. Um terremoto na Síria e na Turquia em fevereiro matou quase 60 mil pessoas. Por fim, há o desastre humano: a guerra entre Rússia e Ucrânia provocou o aumento dos preços da energia, tornando lares mais vulneráveis à pobreza energética.
Como forma de avaliar o desempenho de cada cidade para lidar com esses problemas, a divisão de Impacto da revista The Economist criou um ranking das cidades mais resilientes, conceito que pode ser definido como a capacidade de evitar, resistir e se recuperar de choques, como desastres naturais; e de estresses de longo prazo, como pobreza, infraestrutura degradada ou migração.
Para analisar o desempenho de cada uma, foram avaliados quatro tópicos: infraestrutura crítica, meio-ambiente, cenário sócio-institucional e economia.
Veja abaixo o ranking que avalia 25 cidades em todo o mundo: nove da região Ásia-Pacífico, cinco das Américas, sete da Europa e quatro do Oriente Médio e África. A seleção inclui cidades desenvolvidas e emergentes.
As cidades mais protegidas contra choques e mudanças climáticas
| Posição | Cidade | Pontuação |
| 1 | Nova York | 84,9 |
| 2 | Los Angeles | 84,4 |
| 3 | Londres | 83,2 |
| 4 | Cingapura | 82 |
| 5 | Paris | 81,3 |
| 6 | Melbourne | 80,9 |
| 7 | Amsterdã | 79,9 |
| 8 | Tóquio | 79,6 |
| 9 | Barcelona | 79 |
| 10 | Munique | 78,6 |
| 11 | Hong Kong | 77 |
| 12 | Varsóvia | 75,4 |
| 13 | Dubai | 69,5 |
| 14 | Xangai | 69,4 |
| 15 | Santiago | 66,1 |
| 16 | Istambul | 65,9 |
| 17 | Cidade do México | 62,7 |
| 18 | São Paulo | 62,7 |
| 19 | Cidade do Cabo | 62,1 |
| 20 | Bangkok | 58 |
| 21 | Nova Délhi | 53,3 |
| 22 | Jacarta | 51,6 |
| 23 | Cairo | 44,7 |
| 24 | Dhaka | 43 |
| 25 | Lagos | 39,6 |
Fonte: Economist Impact
Nova York lidera o ranking, com 84,9 pontos. Ela é seguida por Los Angeles (84,4 pontos) e Londres (83,2 pontos). A cidade asiática com melhor posição no ranking é Cingapura, que fica em 4º lugar, com 82 pontos. Já a cidade da América Latina mais bem ranqueada é Santiago, no Chile, que fica em 15º lugar com 66,1 pontos. Única cidade brasileira, São Paulo fica em 18º lugar com 62,7 pontos, empatada com a Cidade do México.
Infraestrutura
As cidades, em geral, se saíram bem no quesito infraestrutura, que engloba os tópicos eletricidade, água, transporte, edificações e conectividade digital. Mas as pontuações mais altas foram alcançadas por Dubai, Xangai, Nova York e Cingapura. Esses locais ricos têm maiores oportunidades para desenvolver infraestrutura em comparação com cidades europeias limitadas por sistemas de décadas ou séculos.
Dentro deste pilar, a infraestrutura digital e o transporte foram um entrave para a resiliência das cidades. As cidades que utilizam dados e tecnologia para criar eficiências operacionais e compartilhar informações com seus cidadãos – ou seja, as cidades inteligentes – são melhores em lidar com choques.
A qualidade irregular da internet, que pode dificultar o acesso a serviços digitais, reduziu a pontuação geral de resiliência no pilar de infraestrutura crítica. Tecnologias digitais e análises avançadas de dados podem ajudar a prever riscos, otimizar sistemas existentes e manter o público informado. Essa maior digitalização, contudo, vem com riscos, mas a maioria das cidades no índice construiu salvaguardas contra isso.
A maioria das cidades de economias emergentes carece de estruturas regulatórias adequadas, estratégias e incentivos para a modernização da infraestrutura. Apenas algumas cidades no índice alcançaram altas pontuações porque garantem a preparação da infraestrutura para choques, enquanto gerencia emissões atuais e futuras. No item qualidade do transporte público, São Paulo ficou em antepenúltimo lugar.
Meio ambiente
As cidades estão escolhendo diversas soluções para se adaptarem a inundações e estresse térmico, desde o plantio de vegetação em telhados, florestas de mangue (infraestrutura verde), até a reabilitação de áreas úmidas (infraestrutura azul).
As cidades também estão se descarbonizando ao adotar energias renováveis e tecnologias de emissão negativa, como captura, armazenamento e remoção de carbono. No entanto, a escalabilidade dessas tecnologias provavelmente será desafiadora para cidades emergentes com recursos limitados.
Socioinstitucional
As cidades demonstraram desempenho mais fraco no pilar socioinstitucional, principalmente devido à desigualdade de renda e métricas de saúde e bem-estar ruins.
Apenas nove cidades têm um plano único e abrangente para apoiar grupos vulneráveis.
No entanto, um ponto positivo é que as cidades estão promovendo uma cultura de prontidão para agir em caso de desastre. A maioria das cidades obteve alta pontuação nesse aspecto ou está trabalhando para melhorar sua prontidão.
Economia
As cidades tiveram as pontuações médias mais baixas no pilar econômico, o que diminuiu o desempenho de algumas cidades que se saíram bem em outras áreas.
A baixa penetração de redes de segurança financeira prejudica as salvaguardas contra ameaças e mina a capacidade de uma cidade de se recuperar de choques.
Outro aspecto da resiliência econômica é a capacidade de uma cidade de incubar inovação, o que pode promover soluções para uma variedade de problemas, desde congestionamentos até estresse hídrico. Infelizmente, a maioria das cidades obteve baixa pontuação no indicador de ecossistemas de startups.
Por Marília Almeida, Valor Investe
