sexta-feira,22 novembro, 2024

Um olhar do mercado financeiro sobre ESG, descarbonização e transição energética

O Brasil pode vir a ser uma potência verde de baixo carbono, tornando-se a primeira grande economia a completar a transição energética

Em junho de 2004, um grupo de 20 instituições financeiras globais responsável pela gestão de mais de US$ 6 trilhões endossou uma iniciativa patrocinada pelo Pacto Global da ONU intitulada “Who Care Wins”, estabelecendo pela primeira vez a integração de aspectos ambientais, sociais e de governança (ESG) nos critérios de investimentos do mercado financeiro e nas práticas empresariais em geral.

Desde então existe uma pressão crescente por parte dos investidores, consumidores e stakeholders para entender como as empresas criam valor ao incorporar objetivos ESG na sua estratégia de negócios.

De forma prática, o que é o ESG? Trata-se de uma estrutura de gerenciamento de risco e investimento que busca avaliar os desafios e oportunidades que os fatores ambientais, sociais e de governança representam para o valor de uma empresa.

O ESG deve ser visto como uma história de sucesso, uma vez que, em poucos anos, evoluiu de um tema restrito ao mundo das finanças para um assunto que está no topo das agendas corporativas em todo o mundo.

De acordo com o relatório Global Sustainable Investment Review, em 2020, o volume de investimento ESG atingiu US $ 35,3 trilhões, representando um total de 35,9% dos ativos globais sob gestão. Enquanto isso, no Brasil, o número de empresas que compõem o Índice de Sustentabilidade (ISE) da B3 mais que dobrou, saltando para 70 ações, contra média de 30 na última década.

AS EMPRESAS TAMBÉM PODEM SE BENEFICIAR DA DESCARBONIZAÇÃO AO EXPLORAR NOVOS MERCADOS PARA PRODUTOS COM EMISSÕES RELATIVAMENTE BAIXAS.

O Brasil tem uma oportunidade única, com a matriz elétrica mais renovável dentre as grandes economias (80% versus 29% da média do G20), posicionando o país para uma neo-industrialização verde. Lembrando que a transição energética não se restringe a energia renovável, visto que a eletrificação apenas não será suficiente para atingir a neutralidade de carbono e que outras tecnologias precisam ser desenvolvidas e implementadas.

Destacamos, entre estas novas tecnologias, o hidrogênio, para o qual o Brasil deve aproveitar seus recursos renováveis abundantes, que nos posicionam com potencial para ser líder global do H2 verde. É uma oportunidade única para atração de investimentos de cadeias produtivas de fertilizantes, siderurgia e química verdes, menos passíveis de serem eletrificadas.

Crédito: Petmal/ iStock

As empresas também podem se beneficiar da descarbonização ao explorar novos mercados para produtos com emissões relativamente baixas. Por exemplo, montadoras atendendo a uma nova demanda por veículos elétricos ou híbridos e levando à criação de novas cadeias de insumos, como lítio, níquel e nióbio, abundantes no nosso país, para a fabricação de baterias, painéis solares e afins.

O BRASIL TEM UMA OPORTUNIDADE ÚNICA, COM A MATRIZ ELÉTRICA MAIS RENOVÁVEL DENTRE AS GRANDES ECONOMIAS.

Segundo a consultoria McKinsey, o Brasil possui ainda um potencial de emissão de créditos de carbono estimado em 15% da demanda global, que pode atingir US$ 50 bilhões em 2030. Isso nos posiciona na liderança deste mercado, cuja regulamentação  está em curso no país.

O Brasil pode vir a ser uma potência verde de baixo carbono, tornando-se a primeira grande economia a completar a transição energética. Para que se exerça tal potencial, incentivos adequados, custo de capital competitivo e regulação moderna e equilibrada serão fatores chave para consolidar tais vantagens.

Acreditamos que as empresas que adotarem as práticas ESG e investirem na transição energética e na descarbonização como parte da sua proposta de valor serão aquelas que mais se beneficiarão desta tendência secular, com benefícios claros para os seus stakeholders e para a sociedade em geral.

Texto: Carlos Penteado Braga 

Redação
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