Com o intuito de auxiliar as sessões de terapia de crianças com diagnóstico de Transtorno de Espectro Autista (TEA), professoras da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) desenvolveram um robô com funcionalidades que vai ajudar nas atividades de interação social, aprendizagem e comunicação. Otto, como foi batizado, tem aproximadamente 24 cm de comprimento, características físicas de um personagem de desenho infantil, e foi doado ao Centro de Reabilitação Integral Dom Aquino Corrêa (CRIDAC), na cidade de Cuiabá, onde será testado e avaliado.
A professora e pesquisadora no projeto, Thais Reggina Kempner, do Curso de Engenharia de Controle e Automação, do Câmpus de Várzea Grande, conta que a pesquisa iniciou-se há um ano devido ao crescente número de diagnósticos de crianças com o TEA. “Ficamos sensibilizadas com dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC), que mostram que a prevalência de crianças com TEA vem aumentando progressivamente ao longo dos anos. Na última publicação do CDC, em 2021, a prevalência estava em 1 a cada 44 crianças”, explica.
Integram o projeto as professoras do Instituto da Computação da UFMT, Eunice Pereira dos Santos Nunes e Luciana Correia Lima de Faria Borges, que também é coordenadora do projeto da Fábrica de Alta Tecnologia Assistiva (FATA) que engloba a pesquisa. “Mesmo após um criterioso levantamento bibliográfico sobre as produções na área, algumas indagações ainda permaneceram para o desenvolvimento do design e modelagem 3D do Robô Otto. Desta forma, aplicamos um questionário de pesquisa semiestruturada no formato on-line, a 22 familiares de crianças que apresentam TEA e 13 membros da equipe multidisciplinar composta por professoras, psicólogas e fonoaudiólogas que tratam crianças com o transtorno”, ressalta
O CRIDAC será parceiro na validação, durante seis meses, com oito crianças, de dois e oito anos, com grau de comprometimento de TEA níveis um e dois. Otton possui dez botões interativos que ensinam as crianças. Ao todo são 170 frases que versam sobre os números, o alfabeto, vocabulário do cotidiano das crianças, sensações, reconhecimento de cores, frutas, legumes e animais.
“Gravamos a voz em estúdio, com uma criança de 11 anos. Além disso, sabendo da importância da apresentação de expressões faciais no processo terapêutico para o desenvolvimento social das crianças TEA, foi inserida uma matriz de emissão de luz (LED 8×8) associada a movimentos dos braços e pernas do robô que permitirão representar emoções como felicidade, tristeza, vergonha, medo, raiva, entre outras”, ressalta a pesquisadora.
Nesta primeira etapa três alunos como bolsistas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), financiadas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso (Fapemat), sendo eles Aldalice Rodrigues Dias, Adriano de Marchi Junior, Gabriel Ribeiro Bastos de Souza Rebouças, e também um aluno voluntário, João Victor de Sá.
Projeto segue para nova etapa
Após a etapa de validação junto ao CRIDAC, o projeto iniciará a segunda fase que terá duração de mais um ano, com o apoio da Fapemat. “Fomos aprovados com esse projeto no edital Mulheres e Meninas na Computação, Engenharias, Ciências Exatas e da Terra 2022. Nosso título é ‘O protagonismo de meninas e mulheres no desenvolvimento de tecnologias assistivas com robótica’, e agora contamos com mais cinco bolsistas mulheres no projeto. Três alunas da graduação e duas do ensino técnico profissionalizante”, explica a docente.
Nessa etapa, o projeto segue levantando e pesquisando uma série de questionamentos e constatações que proporcionam a realização de alterações no robô, sempre visando a melhoria do brinquedo. “Dentre os objetivos específicos com a avaliação do protótipo iremos avaliar o que mais ou menos chama a atenção da criança, Corrigir possíveis bugs no software, Estimar quais elementos ajudam a criança no processo de aprendizagem e outros”
A professora conta também que o objetivo inicial não é a comercialização do robô. “Objetivamos a divulgação do trabalho através de publicações de artigos e periódicos. Sabemos que este projeto é inovador não apenas no Mato Grosso, e que os resultados trarão uma contribuição internacional com relação ao tema pesquisado”, finaliza.
Por: Luiz Carlos Bezerra – Jornalista