A New Holland Agriculture, fabricante global de máquinas agrícolas que pertence ao grupo italiano CNH Industrial, recebeu nesta terça-feira (18), um grupo de produtores rurais na SF Agropecuária, localizada no município de Brasilândia (MS). O motivo do convite, aceito por cerca de 150 pessoas, entre técnicos e produtores, foi mostrar como está se comportando na lida do campo o primeiro trator movido a gás biometano comercializado pela marca no Brasil.
Em todo o mundo, a New Holland já vendeu cerca de 200 unidades fabricadas em Basildon, na Inglaterra. “Estamos comprovando que o trator é mesmo mais econômico que o diesel”, diz o produtor Fábio Pimentel de Barros, dono da agropecuária que se dedica à criação de suínos, com abate de cerca de 180 mil animais por ano, mais bovinos e agricultura. São 33 mil bovinos e 1.500 hectares de lavouras de soja, milho e sorgo.
Como combustível, o trator utiliza o gás gerado a partir da decomposição de resíduos dos suínos. Mas, de acordo com o produtor, a compra da máquina, que custa cerca de R$ 1 milhão, representa ganhos ambientais e operacionais que vão além da atividade na suinocultura.
“O biometano representa energia limpa, renovável e que tem uma produção de CO2 muito menor que as demais. Além disso, também traz maior conforto para o operador, por causa do baixo nível de ruído em comparação com um trator comum. Outra grande vantagem é que o combustível dele eu já tenho na fazenda.”
A fazenda investe em biodigestores para a produção de biogás há cerca de uma década, até agora utilizado para a geração de energia elétrica e para abastecer um caminhão movido a biogás e destinado à entrega de suínos ao frigorífico. “O gás que vira eletricidade é vantajoso, mas o gás que substitui o diesel é três vezes mais vantajoso em termos de economia”, diz Barros. De acordo com a fabricante, a redução de custos pode variar de 25% até 40%, na comparação com o combustível fóssil.
Mas o que é o biometano?
Para entender como se chega ao biometano, é preciso saber como ocorre a chamada biodigestão anaeróbia e o que é um biodigestor. A biodigestão é um processo biológico que utiliza micro-organismos para decompor materiais orgânicos na ausência de oxigênio, produzindo biogás e biofertilizante. O processo serve para tratar resíduos orgânicos, como esterco dos animais criados em confinamento, subprodutos da cana-de-açúcar como a vinhaça, por exemplo, além de restos de alimentos e até lodo de esgoto, entre outros.
O biodigestor é por, assim dizer, o processo inicial da “fabricação” do biometano. Trata-se de um tanque fechado onde os resíduos são misturados com água e os micro-organismos responsáveis pela biodigestão. Esses resíduos são “quebrados” em moléculas menores, liberando gases como metano, dióxido de carbono e sulfeto de hidrogênio. O biogás produzido pode ser utilizado como fonte de energia renovável, enquanto o biofertilizante pode substituir fertilizantes químicos. No caso do biometano para o uso no trator, ele é filtrado para, a grosso modo, ficar mais limpo. As emissões de GEE (gases de efeito estufa) são cerca de 80% menores, na comparação com um motor diesel padrão. Com o biometano como combustível, o impacto da emissão de gás carbônico do trator na natureza é virtualmente zero.
O trator que teve sua primeira unidade vendida no Brasil começou a ser testado em 2017 e foi apresentado como um produto de portfólio no ano passado, durante a Eima International (International Agricultural and Gardening Machinery Exhibition), em Bolonha, na Itália, que neste ano vai acontecer de 4 a 10 de novembro. Ele foi projetado para atender às médias e pequenas propriedades rurais.
No caso da produção de biometano da SF Agropecuária, o processamento é de 50 metros cúbicos por hora do gás. Para um motor de 180 cavalos, como é caso da máquina comprada, o consumo é de 10 metros cúbicos/hora, com autonomia após carregamento de cerca de 550 quilômetros, uma média de comparação. Para acoplar o gás, o tanque de combustível foi substituído por um conjunto de tanques ao redor do centro do chassi. São 453 litros de capacidade de gás, equivalente a 79 quilos.
“Esse tipo de trator dá ao produtor a possibilidade de utilizar o biogás gerado dentro da propriedade (a partir dos dejetos dos animais, por exemplo) para abastecer o equipamento, aproveitando o chamado ciclo virtuoso da fazenda, que se torna cada vez mais autossuficiente do ponto de vista energético e ambientalmente correta”, diz Flávio Mazetto, diretor de marketing de produto da New Holland Agriculture para a América Latina. O trator também vem equipado com telemetria e funcionalidades para a agricultura digital, como a conexão da frota e dados agronômicos e da propriedade, além de sistema de orientação integrada e informações automáticas para as manobras de cabeceira.
Por: Vera Ondei