Pesquisadores analisaram deslocamentos, dispositivos de tecnologia e uso de energia para calcular quanto um funcionário deixaria de emitir fora do escritório
No auge da pandemia da Covid-19 e do isolamento social, o novo normal era ver escritórios vazios e prédios comerciais com as luzes apagadas. Se antes da crise sanitária apenas 7% das empresas brasileiras adotavam o trabalho remoto, em 2021 esse percentual chegou a 58% e, um ano depois, com as medidas de flexibilização, caiu para 33% — segundo dados do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV). A pandemia foi o pontapé inicial dessa tendência, que apesar de ter apresentado queda no último ano, está longe de voltar aos níveis do passado.
Já nos EUA, cerca de 50% de todos os americanos começaram a trabalhar remotamente na pandemia e recentemente muitos voltaram a trabalhar no escritório. Atualmente, 20% continuam atuando de casa pelo menos em meio período.Os benefícios do ‘home office” se tornaram um tema muito debatido no mercado e há quem defenda que é melhor para a saúde não só dos trabalhadores, como também do planeta.
Mas afinal, trabalhar de casa reduz ou não nossa pegada de carbono? Para comprovar isso, um novo estudo inédito analisa a sustentabilidade e fornece uma visão abrangente sobre o potencial de mitigação climática do trabalho remoto nos EUA — em um cenário de poucas análises neste sentido. Os resultados foram publicados neste mês na revista Proceedings of the National Academy of Sciences USA.
Os pesquisadores analisaram cinco fatores: deslocamentos x viagens sem deslocamento, dispositivos de tecnologia da informação e eficiência energética do escritório x uso de energia residencial. E a descoberta foi a seguinte: trabalhar de casa tem o potencial de reduzir as emissões de carbono de uma pessoa em mais da metade (54%) e aquelas que o fazem até quatro dias por semana podem reduzi-la em até 29%.
No entanto, isso só se aplica se os trabalhadores implementarem medidas como desligar luzes e eletrodomésticos desnecessários, abastecer sua casa com energia solar ou eólica e reduzir o uso do carro ou usar um elétrico. Fengqi You, engenheiro de sistemas da Universidade Cornell e coautor do artigo, disse que “alguns resultados foram surpreendentes”.”Não é tudo sobre quantos dias você trabalha em casa e mais sobre como você vive de forma sustentável.”, acrescentou Yanqiu Tao, engenheiro de sustentabilidade da Cornell e também autor do artigo.
Embora tenha sido focada nos EUA, os pesquisadores acreditam que os mesmos princípios básicos devem valer para outros países industrializados. “O tipo de padrões que vemos em todo o mundo são muito semelhantes”.
O estudo também trouxe outras conclusões. Uma delas refuta a ideia de que os trabalhadores em home office não dirigem durante o dia. Na verdade, eles se deslocam com mais frequência do que seus colegas no escritório, em várias viagens curtas de carro. Além disso, em casa as pessoas passam a usar mais energia ao longo de um dia em ar-condicionado e lava-louças. Mesmo assim, há a redução das emissões.
Como alternativa aos escritórios, eles sugerem que os edifícios podem ser mais ecológicos, com aparelhos mais eficientes em termos energéticos e em uma rede descarbonizada. Dessa forma, ir para o trabalho poderia igualar as emissões de gases estufa em relação ao remoto. Outra medida para reduzir a pegada de carbono seria usar o transporte público menos poluente.
O que é certo, segundo os autores, é que o trabalho remoto veio para ficar e pode absolutamente fazer parte de um futuro mais verde e sustentável.
Texto: Sofia Schuck, Redação Um Só Planeta