A pandemia reforçou a preocupação com saúde. A imunidade foi um dos assuntos mais importantes durante este período e sua relação com alimentação saudável é direta. Com certeza a preocupação com qualidade de vida e sua ligação com alimentação saudável continuará sendo uma pauta crescente. Outros dois hábitos que vieram forte com a pandemia e permanecem são o interesse por culinária, quer seja por necessidade inicialmente ou por curiosidade. Obviamente que a alimentação fora de casa voltou forte com o fim das restrições de circulação, mas muitos consumidores continuarão cozinhando em casa e aberto a novas experiências gastronômicas. Outro comportamento foi o crescimento de delivery de comidas prontas na pandemia e que continua até hoje. Há uma grande diversidade de aplicativos de delivery e opções de alimentos, com entregas rápidas e acessíveis financeiramente.
Enquanto os mais jovens, é importante estimular o consumo por meio de canais digitais, por exemplo, a população com mais de 60 anos está mais ligada a importância à saúde. É natural que haja uma maior preocupação com saúde, alimentação, qualidade de vida e longevidade à medida que envelhecemos. O maior desafio é antecipar a adoção de hábitos saudáveis na criança e no jovem e não esperar que se envelheça para que consuma mais produtos saudáveis. A atratividade dos alimentos processados e ultraprocessados é muito grande, por várias razões: disponibilidade, conveniência, preço acessível, propaganda, atratividade visual e palatabilidade. Temos que olhar para os produtos HF, considerando todos esses aspectos e buscar caminhos para o aumento de consumo entre os mais jovens, antecipando um hábito que seguirá ao longo da vida. Vivemos num paradoxo, ao mesmo tempo que se fomenta tanto a alimentação saudável, a população, em geral, está cada vez com mais problemas de saúde relacionados à má alimentação, como obesidade, diabetes, pressão alta etc. A obesidade, especificamente, está aumentando consideravelmente entre os mais jovens. Enquanto temos regressão no consumo de HF no Brasil, as categorias relacionadas à indulgência (salgadinhos, snacks, biscoitos e refrigerantes) crescem. Precisamos reverter esse quadro!
Outro quesito que é preciso levar em consideração é em relação à inflação dos alimentos. O brasileiro, em particular, está gastando mais e comprando menos alimentos. E a questão de preço sempre é importante, ainda mais no cenário atual. As alterações climáticas, aumento no custo de produção e menor oferta fizeram com que os aumentos de HF estivessem acima dos níveis de inflação nos últimos anos. Nas vendas no varejo, tivemos aumento de vendas de HF, mas com retração de volume de venda, o que é preocupante. Devemos focar no aumento de consumo de frutas e hortaliças, não restringindo ao aspecto de saúde, mas também mostrar ao consumidor os benefícios econômicos, sem esquecer de sabor e prazer. Podemos nos alimentar bem, com menos calorias e mais saúde com baixo custo. Os supermercados utilizam o setor de HF como um dos grandes atrativos para gerar ferramentas para atrair clientes, quase todas as redes têm seus dias de promoção dessa categoria, como “dia da feira”, “quinta verde”, “dia do sacolão” etc. Nas promoções e ações comerciais rotineiras, devemos sempre passar a mensagem que é possível se alimentar, de maneira saudável com menos calorias e mais qualidade nutricional, gastando pouco e com prazer através das frutas, legumes e verduras.
E o que a cadeia de hortifrútis precisa se atentar quanto aos hábitos de consumo da população daqui por diante? O aumento do consumo de HF dever ser prioritário para todos os participantes da cadeia, seja produtor, comerciante ou varejista. Com a integração entre o campo e o varejista conseguimos levar ao consumidor melhores produtos e soluções. O varejista deve conhecer o sistema de produção, bem como dividir com o setor produtivo as demandas dos clientes e, juntos, entregar a melhor experiência de compra.
Fonte: CEPEA