Crise climática, transição energética, mobilidade sustentável, cidades inteligentes para as pessoas. Estes quatro conceitos estão interligados e formam um círculo magnético, do qual não podemos escapar, e que vai atrair grande parte da atenção política, dos investimentos e das tecnologias no futuro próximo.
O mais recente Eurobarómetro sobre o clima revela que 93% da população europeia está convencida que as alterações climáticas são um problema grave, com a maioria (52%) a ser a favor de acelerar a adoção de energias renováveis. Os portugueses até estão acima da média europeia na perceção dos riscos. Mas preserverar na utopia de um mundo melhor implica não só pensar no que podem fazer as instituições, mas também os cidadãos individualmente. E aqui há também muito a fazer. Por exemplo, só 28% dos europeus dizem ter adotado o uso de transportes públicos ou bicicleta em substituição do carro privado e, em Portugal, essa percentagem desce para 16%. Um indicador que reforça a ideia de um estigma à volta do transporte público e que, por outro lado, ele ainda não terá uma cobertura suficientemente abrangente e acessível.
Com tantos avanços tecnológicos na mobilidade, às vezes, questões como a saúde, a qualidade de vida e a segurança ficam relegadas para o segundo plano na discussão. Mas são essenciais e fazem parte do mesmo ciclo magnético. Quando melhoramos uns, há um ‘efeito borboleta’.
Um pouco por todo o mundo está a impor-se a ideia de que as cidades têm de ser cada vez mais para as pessoas e não para os carros. Por isso, criam-se zonas de zero emissões, jardins no lugar de artérias, ciclovias e reduz-se o limite de velocidade a 20km/h, como a cidade do Porto anunciou recentemente. São medidas com impacto direto na segurança e na saúde. As estatísticas da ANSR dizem mesmo que poupam vidas: num atropelamento a 30 km/h morrem em média uma em cada dez pessoas; já a 50km/h ou mais são oito em cada dez os que perdem a vida.
Ao nível da saúde, é conhecido, embora subestimado, o dano causado pelas emissões de co2 e de nanopartículas emitidas por aviões e navios, associado a doenças respiratórias e até a cancro do pulmão.
A inovação tecnológica ao serviço da urgência climática pode acabar, assim, por ajudar a poupar o planeta, mas também a melhorar a saúde pública e a segurança rodoviária. Um exemplo são os veículos conectados e autónomos, com sensores de segurança para detetarem obstáculos e evitar acidentes, e as “estradas inteligentes”, com avisos eletrónicos para reforço da segurança.
Na frente tecnológica, a mudança vai avançando também com a gradual reconversão da industria automóvel europeia a caminho da era elétrica, imposta por Bruxelas para os anos 30. O setor já recuperou da crise intensa dos anos da pandemia e, em Portugal, os veículos elétricos já representam cerca de 10% das novas vendas. Mas convém lembrar que ainda só representam cerca de 2% do parque automóvel.
Na aviação, as companhias estão obrigadas a incorporar, já a partir de 2025, percentagens cada vez maiores de combustíveis sintéticos (e-querosene) com vista a uma descarbonização em 2050, tendo para isso conseguido da Comissão Europeia um “selo verde” para os seus investimentos. Aqui, a grande promessa é a transição para o hidrogénio até 2050. O mesmo se espera que aconteça na indústria naval, setor que tem uma pegada carbónica pesada, e onde os investimentos se estão a orientar tanto para o hidrogénio como para a energia eólica como fonte propulsora. Existem já a circular no mundo cerca de 20 navios assistidos pela energia do vento, mas há projetos em curso para construir navios que a usam como fonte propulsora principal e que podem baixar as emissões até 90%. Portugal conta, de resto, com massa crítica na inovação aplicada à navegação, com uma empresa a hidrogenizar o fuel óleo.
Por: Carla Aguiar