quinta-feira,19 setembro, 2024

Técnicas de tingimento natural ganham cada vez mais espaço e novos representantes

A conta na indústria da moda não fecha e os dados não deixam dúvidas. Quase três quintos de todas as peças de roupa acabam em incineradores ou em catastróficos aterros sanitários um ano após serem fabricadas. Entre 2% e 8% das emissões globais de gases de efeito estufa são produzidas pelo mercado de vestuário e calçado. E, ainda, cerca de 25% dos compostos químicos produzidos globalmente são utilizados na indústria de acabamento têxtil. Diante deste cenário alarmante, as marcas estão sendo obrigadas a repensar as suas cadeias produtivas para tentar reduzir danos ambientais e, de quebra, atender a um novo tipo de consumidor, aquele que prioriza roupas e acessórios feitos de maneira mais consciente. Assim, antigas técnicas, como a de tingimento natural, estão sendo cada vez mais valorizadas.

A pesquisadora de moda Paula Acioli frisa a importância do artesanal na construção do conceito de luxo. “É preciso voltar no tempo e lembrar que as artes e ofícios, ou Métiers d’art, expressão usada pela indústria para classificar atividades artesanais na alta-costura, em Paris, e na alta moda, em outros países, como joalheria, bordados, plumaceria, chapelaria, são a verdadeira origem da moda de luxo. A riqueza do trabalho secular de artesãos era o que conferia distinção à realeza e à nobreza no passado”, lembra. “A missão das grifes de luxo, em um contexto pós-pandêmico, com as novíssimas gerações engajadas em causas sustentáveis e ambientais, é ressignificar o trabalho artesanal mostrando seu valor histórico e atemporalidade”, emenda.

Esse é justamente o caso da gaúcha Luiza Leindecker, 36 anos. Natural de Torres, no Rio Grande do Sul, ela cresceu em contato com o trabalho manual. Na infância, a designer aprendeu a costurar e tricotar com a mãe e a avó. Mais tarde, se formou em Design de Moda e se mudou para o Rio, em 2013. Foi no projeto de conclusão de curso sobre uma tribo de povos originários que Luiza descobriu, e se encantou, com os métodos de tingimento natural.

Com a vontade de repensar o processo produtivo de roupas, a estilista deu vida à marca L! feito à mão. A etiqueta usa casca de romã, índigo e sobras de pau-brasil para tingir vestidos, calças “e blusas de algodão e linho. Tudo feito em caldeirões na garagem de casa, onde Luiza transformou em ateliê, no Jardim Botânico. “Com a L!, além de incentivar a responsabilidade socioambiental, quero mostrar que o tingimento natural não é uma coisa hippie, pode ser minimalista”, afirma a designer.

Oferecer alternativas mais ecológicas de produção por meio da inovação sustentável é também o que inspira o trabalho da estilista Flavia Aranha, 39, com sua etiqueta homônima. Natural de Campinas (SP) e radicada na capital paulista, a estilista conheceu o tingimento natural após uma viagem à Índia, experiência que a motivou a criar roupas que passou a chamar de “vivas”. As peças são feitas a partir de fibras naturais, como malva. Agora, em meio a um novo momento como mãe do pequeno José, de apenas um mês, ela se prepara para ampliar sua área de atuação, vendendo matéria-prima e promovendo workshops sobre tingimento. “A transformação da cadeia só vai acontecer quando esses processos forem democráticos”, reflete.

O consultor de sustentabilidade André Carvalhal vê esse movimento reverso com ótimos olhos. Ele também destaca que, em paralelo ao esforço dessas criadoras, há o crescimento da moda “insustentável”, o chamado ultrafast fashion. “Mas estamos em outros tempos e precisamos de novas formas de pensar, comunicar, produzir e vender. Por isso, as marcas devem compartilhar seus processos de produção, dialogar com o público. Isso, para mim, é consumo consciente. Só assim é possível saber o que se consome e o impacto que um determinado produto causa, analisa o autor de uma série de livros, como “Moda com propósito” e “Como salvar o futuro”.

A Eze Denim, de Claudia Schiessl, de 48 anos, coloca em prática o que André prega. A etiqueta carioca, fundada em 2014, busca reescrever a história de um dos maiores vilões da indústria da moda, o jeans. Para isso, a marca trabalha com seis pilares: responsabilidade de cadeia produtiva, tingimento natural, lavagem ecológica, material eco, causa e comércio justo. As peças utilizam materiais naturais de florestas regeneradas, como o Liocel, tecido criado a partir da fibra extraída de eucaliptos certificados pelo FSC (Forest Stewardship Council/Conselho de Manejo Florestal, em tradução livre), além de plantas, como cânhamo, erva-mate e catuaba, responsáveis por dar vida às cores das criações. “Novos caminhos alternativos que unem tecnologia e pesquisa têm surgido a toda hora. É importante dar luz a essas iniciativas para que os consumidores tomem decisões acertadas”, afirma Claudia.

É uma questão de escolha.

Fonte: O Globo

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