A cobrança cada vez maior da sociedade sobre as empresas por práticas sustentáveis nos processos de produção está levando a um movimento de redução do uso de plástico, com desenvolvimento de embalagens à base de papel e outros materiais biodegradáveis. É uma tendência que cresce no mundo todo, em companhias dos mais variados setores — da indústria de alimentação à moda.
A grife de luxo Louis Vuitton firmou compromisso este ano de dar adeus ao plástico em suas embalagens até 2030. Já a Heinz anunciou que está desenvolvendo recipientes à base de fibra de papel para sua linha de ketchup e demais produtos.
Algumas empresas montaram departamentos exclusivos para desenvolver embalagens sustentáveis. No Brasil, a Braskem, do setor petroquímico, criou este ano, em São Paulo, o Cazoolo, centro de desenvolvimento de embalagens para a economia circular. Trata-se de um investimento de R$ 20 milhões até 2026.
A ideia é fazer parcerias com clientes, marcas, designers, startups e universidades, para chegar a produtos que evitem o impacto ambiental desde a concepção até o pós-consumo. O uso de tecnologias de ponta, como impressoras 3D, máquinas de corte a laser e solda, permite que os protótipos das embalagens sejam feitos de forma rápida.
“Temos desenvolvido projetos e testado soluções para reciclabilidade, com alternativas já disponíveis no mercado. Estamos criando opções de reuso e refis, para uma jornada de consumo circular a partir da embalagem”, conta Yuri Tomina, líder do Cazoolo.
Canudos e tampinhas
No ramo de alimentos, a Nestlé quer tornar 100% de suas embalagens recicláveis ou reutilizáveis até 2025. No mesmo período, a companhia suíça pretende diminuir em um terço o uso de plástico. No Brasil, o compromisso da companhia é reciclar, até 2025, o equivalente a todo o plástico colocado no mercado anualmente. Atualmente, 97% das embalagens da companhia no Brasil já são desenhadas para serem recicladas e/ou reutilizadas.
Entre as iniciativas já colocadas em prática, estão a substituição dos canudos de plástico pelos de papel nas bebidas e a retirada do invólucro plástico da caixa de bombons Especialidades. Alguns iogurtes também já contam com embalagens recicladas, e determinadas bebidas em garrafinhas PET, como o Nescau Pronto, não usam mais tampas de plástico.
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No caso das tampinhas, além de reduzir o uso de plástico, a cadeia deixa de se preocupar com o descarte inadequado desse material. Essa iniciativa representa a não utilização de quase 35 milhões de tampas de plástico pela Nestlé Brasil por ano, o que equivale a 150 toneladas do material.
No mês passado, a Nestlé lançou ainda as cápsulas de café feitas de papel compostável. O Brasil foi o primeiro país a receber a novidade, que teve participação do Instituto de Ciências da Embalagem, criado na Suíça há três anos.
“Estamos em uma jornada para impulsionar a circularidade, fortalecendo as ações para buscar um futuro mais saudável e regenerativo”, diz Cristiani Vieira, gerente de Sustentabilidade da Nestlé Brasil, que investirá este ano R$ 8 milhões em ações desse tipo.
Apesar das inúmeras iniciativas, os números do setor de embalagem no Brasil mostram que ainda há um caminho longo a percorrer. No ano passado, esse segmento movimentou R$ 110 bilhões. Desse total, apenas R$ 27 bilhões se referem a embalagens consideradas sustentáveis.
Mas as empresas têm se esforçado. Muitas startups estão nascendo com o DNA da sustentabilidade, e a embalagem dos produtos já é criada com essa pegada. A Mighty Greens é uma delas. Trata-se de uma fazenda vertical, que produz cogumelos no Rio de Janeiro. Nas fazendas verticais, verduras e legumes são cultivados em prateleiras, com luz e temperatura controladas e sem uso de agrotóxicos.
Pacote que vira adubo
A Mighty Greens desenvolveu, em parceria com a empresa Celomax, do ramo de embalagens, um recipiente à base de celulose que vira adubo, além de aumentar o tempo de conservação dos cogumelos. Foi um ano de estudos, e centenas de testes, para chegar a um material substituto do plástico filme e das bandejas de isopor usados para armazenar os cogumelos nas lojas. A embalagem permite que o cogumelo respire, e solte o excesso de umidade, aumentando seu tempo de duração na prateleira.
“O nosso produto já durava cerca de 15 dias por causa dos nossos processos de produção controlados. Com a embalagem, notamos que o produto chega a durar até 30 dias na geladeira”, explica Rodrigo Meyer, um dos sócios da fazenda vertical.
A embalagem, depois de utilizada, pode ser descartada no lixo convencional ou em uma composteira e se decompõe em semanas. O custo de cada embalagem é de R$ 2, cerca de 17 vezes o preço dos pacotes tradicionais. Mas, conforme ganhe escala, a tendência é que esse preço se reduza, observa Meyer.
Por: Agência O Globo