A empresa Marfrig está testando um suplemento alimentar como forma de reduzir as emissões de metano (CH4) na pecuária. O arroto dos bovinos, conhecido como fermentação entérica, é responsável por dois terços dos gases de efeito estufa emitidos pelo agronegócio brasileiro, de acordo com o Observatório do Clima.
A companhia realiza um programa-piloto com o Silvair, produto da Cargill, misturado à ração de 350 animais na fase da engorda ao longo de seis meses. Os controladores da Marfrig têm 280 mil cabeças de gado. No final do experimento, será possível estabelecer qual é o custo da inovação para o produtor.
A suplementação é capaz de reduzir de 10% a 30% dos gases de efeito estufa emitidos pelo rebanho. A ação faz parte do plano de descarbonização do frigorífico que pretende, até 2035, reduzir um terço das emissões dos 10 mil pecuaristas que compõem a sua cadeia de produção em comparação ao ano de 2019.
Como o suplemento reduz as emissões dos bovinos?
O Silvair é um composto químico de nitrato de cálcio (Ca(NO3)2) que transforma o metano produzido pela ruminação dos bovinos em amônia, uma substância inofensiva ao clima.
Em testes, o suplemento reduziu cerca de 1 quilo de dióxido de carbono (CO2) equivalente por dia em cada vaca leiteira, economizando até 36 toneladas de CO2 por ano em um rebanho de 100 animais.
A concentração do suplemento na ração não deve ser superior a 2%, isso porque o Ca(NO3)2 é potencialmente tóxico ao animal. Após ser produzido e acumulado durante a ruminação, a substância pode entrar no sangue dos bovinos, no entanto a Cargill recomenda que a suplementação seja de 1%.
O produto tem aprovação para uso comercial na Europa, mas ainda não é utilizado em larga escala no mundo. A solução foi desenvolvida em mais de dez anos de pesquisa e também é uma fonte de proteína dietética de cálcio solúvel, com benefícios para a formação óssea, o ganho de peso e melhorias para eficiência alimentar.
Emissões de metano pela pecuária
A agricultura é responsável por 40% das emissões de gases de efeito estufa no mundo. No agronegócio brasileiro, 64% das emissões têm origem na fermentação entérica, de acordo com o Observatório do Clima. Isso coloca o Brasil entre os 12 grandes produtores mundiais de proteína animal que respondem pela maioria do CH4 emitido.
O impacto do metano é 80 vezes maior do que o dióxido de carbono para o aquecimento global. Contudo, o CH4 permanece por menos tempo na atmosfera, e evitar a sua emissão resulta em um benefício mais rápido para a limitação do aumento da temperatura. A redução do metano pode contribuir para evitar 0,3°C de aquecimento até 2050.
Além da suplementação alimentar, o uso de pastagens não degradadas, a implantação de sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) e a inclusão de óleos na dieta também contribuem para a redução das emissões de metano e aumento da produtividade na pecuária.
Fonte: Capital Reset. WRI Brasil, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Observatório do Clima, Marfrig, Global Research Alliance
Por: Canal Agro