Estudo mede passivo de carbono da parcela mais rica do planeta, cerca de 78 milhões de pessoas ao redor do mundo

A elite mundial, com cerca de 78 milhões de pessoas, ou 1% da população do planeta, é responsável por 16% das emissões de carbono, equivalentes aos 66% mais pobres, um grupo de 5 bilhões de pessoas que engloba a classe baixa e uma parcela da classe média. O cálculo foi publicado em estudo da Oxfam, ONG britânica que se dedica a examinar a desigualdade social e seus impactos no contexto da mudança climática.

Em 2019, ano-base da pesquisa, o 1% mais rico gerou em média entre 50 e 100 toneladas de CO2 por pessoa anualmente, enquanto as parcelas de classe média e baixa estacionam em cerca de 2,8 toneladas de CO2 por ano. As emissões da elite são fruto de viagens de avião e jatos privados, investimentos em indústrias que usam combustíveis fósseis intensivamente, e ainda, ao manter um estilo de vida com alto padrão de consumo, “esquentando” indústrias como o agro ou a moda.

Tomando a medição da Oxfam como referência, quando analisadas as emissões per capta, ou seja, por pessoa, o passivo de carbono de um integrante da elite mundial excede hoje em cerca de 27 vezes os níveis aceitáveis projetados para 2030 no planejamento para limitar o aquecimento global em no máximo 1,5°C até 2050.

Na última semana, pela primeira vez a temperatura no planeta excedeu os 2°C acima da era pré-industrial, de acordo com o Programa Copernicus, iniciativa da União Europeia que monitora a Terra a partir da Estação Espacial Internacional.

Colocando a lupa na “nata”, bilionários pertencentes ao clube dos 0,1% mais ricos do mundo, o passivo de carbono por pessoa chega a 8 mil toneladas por ano, segundo a Oxfam. O estudo examinou as emissões do estilo de vida de 20 bilionários (18 deles homens e todos eles brancos), e aponta que o alto nível de emissões está intimamente ligado ao uso de jatos particulares.

“Os proprietários de jatos particulares são, em sua maioria, homens brancos, mais velhos (com mais de 50 anos) que trabalham em bancos, mercado financeiro e imobiliário”, afirma o relatório.

Em outro termo de comparação, a Oxfam afirma que as emissões da elite “anulam” o trabalho de geração de energia limpa de 1 milhão de turbinas eólicas.

“As emissões dos mais ricos estão conduzindo o planeta rumo à catástrofe. Limitar o aquecimento global a longo prazo a 1,5°C requer um corte de 48% nas emissões globais totais até 2030 (em comparação com os níveis de 2019)”, ressalta o relatório.

Os políticos, lembra a Oxfam, também integram a elite. “A análise mostra que todos os senadores dos Estados Unidos, que ratificam tratados climáticos globais em nome dos

EUA, têm um salário que os coloca entre os 1% dos principais emissores de carbono a nível mundial. Parlamentares europeus também estão nesta categoria, assim como os deputados australianos.”

A organização britânica defende taxar os mais ricos para converter o dinheiro em ações para a contenção de desastres provocados pelo clima extremo, bem como a descarbonização das atividades econômicas. O relatório sugere taxas que, combinadas, gerariam um fundo de US$ 9 trilhões (R$ 92,2 trilhões) para o clima, segundo cálculos da Oxfam.

Entre os confiscos, a ONG sugere taxar em 60% o imposto de renda dos super-ricos, além de recolher até 90% de lucros inesperados (windfall profits) de grandes corporações, apontando que as 722 maiores companhias do mundo tiveram juntas cerca de US$ 1 trilhão (R$ 4,8 trilhões) em ganhos desta categoria entre 2022 e 2023.

Texto: Um só Planeta