Já foram escolhidos os projectos que serão apoiados pelo programa de inovação da EIT Health, implementado a nível europeu, e Portugal é o país mais representado nesta edição, com um total de seis dos 20 projectos seleccionados.
Apoiado por fundos comunitários da União Europeia, o EIT Health RIS Innovation Call é um programa de inovação que visa acelerar ideias inovadoras no sector da Saúde, em regiões europeias com ecossistemas de inovação considerados menos desenvolvidos. A edição deste ano do programa recebeu 89 candidaturas, tendo sido seleccionado um número recorde de 20 projectos inovadores (dinamizados por startups ou consórcios) em fase precoce de implementação, que irão receber um apoio de até 75 mil euros para o desenvolvimento do seu produto ou solução, além de mentoria e outros benefícios.
Os projectos portugueses que integram o programa são a Graphresp, adhesiv. AI (da BH4U), Motiphy+ (da Clynx), TindSkin, CardioWheel (CardioID) e HF@Edge. Além de várias startups, nalguns destes consórcios participam também centros clínicos e científicos nacionais. De acordo com a EIT Health, quase metade dos consórcios escolhidos este ano concentram-se em soluções que trazem os cuidados de saúde a casa dos pacientes ou soluções de telemedicina.
Em entrevista à Marketeer, Marta Passadouro, EIT Health InnoStars Ecosystem Lead, faz o balanço desta edição do programa e aborda a importância que terá para o desenvolvimento de projectos inovadores na área dos cuidados de saúde.
Como, em que contexto e com que objectivos surgiu o EIT Health RIS Innovation Call?
O EIT Health RIS Innovation Call é um programa de apoio único para projectos inovadores de prova de conceito no sector da Saúde, lançados a partir de países considerados inovadores moderados ou modestos. O Esquema de Inovação Regional da Saúde do EIT (Regional Innovation Scheme) é uma iniciativa financiada pela UE e foi estabelecido como parte do EIT Health em 2015 para proporcionar igualdade de oportunidades aos inovadores da próxima geração no sector da Saúde, situados em regiões europeias com ecossistemas de inovação menos desenvolvidos.
Os cidadãos europeus enfrentam novos desafios quando se trata de cuidados de saúde e bem-estar. A população está a envelhecer, os profissionais de saúde enfrentam já uma enorme sobrecarga na prestação de serviços, nomeadamente devido à falta de meios e recursos humanos no sector, e com tendência a agravar nos próximos anos. É urgente criar uma nova mentalidade e soluções inovadoras para enfrentar doenças, pandemias e a crise dos cuidados – agora e no futuro. Esta é a questão basilar do problema.
Existe hoje um fosso distinto entre os países desenvolvidos e as regiões emergentes da Europa. A maioria das soluções inovadoras vem dos países europeus tecnologicamente mais avançados, embora exista um enorme potencial para a próxima geração de inovação nos cuidados de saúde nas áreas menos desenvolvidas da Europa. Não há falta de talento nestas áreas, existe sim uma lacuna significativa nos recursos necessários para alavancar as melhores ideias e levá-las da visão à realidade.
Este programa visa encontrar as melhores ideias e inovações em fase inicial nestas regiões e encorajar os stakeholders do mundo empresarial, hospitalar e académico a construir consórcios que permitam transformar os seus conceitos em realidade e aproximar as inovações da entrada no mercado.
Esta foi a quarta edição do projeto. Qual o balanço desta edição?
O EIT Health RIS Innovation Call já atraiu mais de 80 propostas. Este ano, foram selecionados duas vezes mais projectos do que no ano passado. Os consórcios por detrás das inovações escolhidas receberão um financiamento de até 75 mil euros para o desenvolvimento do seu produto ou solução inovadora, tutoria, participação num bootcamp feito à medida e acesso a potenciais investidores e parceiros através do EIT Health, uma rede de elite de inovadores de saúde, com aproximadamente 150 organizações membros. Por exemplo, em Portugal vemos projectos liderados por startups nacionais a desenvolverem dispositivos médicos já com vista a mercados internacionais, como a Clynx ou a CardioID, fruto de vários anos de desenvolvimento e investigação.
Portugal é o país mais representado no EIT Health RIS Innovation Call 2022, com seis projectos dos 20 escolhidos. Como interpreta este resultado?
Foram apresentadas um total de 89 propostas para a EIT Health RIS Innovation Call 2022, entre as quais foram selecionados 20 projectos. O maior número de propostas finais seleccionadas com sucesso foi, de facto, de Portugal, em comparação com outras regiões, com um total de seis propostas. Portugal é um dos países mais fortes no contexto do RIS.
A resposta robusta à RIS Innovation Call 2022 é apenas um exemplo onde vemos equipas portuguesas da área das tecnologias da saúde a liderar a corrida. Há várias razões – desde logo, os líderes do mercado português estão dispostos a cooperar e a participar activamente no ecossistema europeu de inovação.
Exemplo disso é a participação de Portugal em vários projectos de inovação da call principal do EIT Health, onde parceiros nacionais, como o Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN) – onde se destaca o projecto Bright, dedicado ao diagnóstico de cancro com testes genéricos – e o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) – com destaque para o projecto Harmonics, este dedicado à avaliação do valor de cuidados de acidentes vasculares cerebrais. Fora das regiões com parceiros do EIT Health, em Lisboa e Coimbra, a Universidade do Porto e de Évora são dois polos nacionais do RIS, com a responsabilidade de dinamizar o ecossistema, onde se destaca iniciativas como o i-Days, que anualmente dá acesso a dezenas de estudantes aos princípios do empreendedorismo, essenciais para mais tarde surgirem estes projectos.
Portugal apresenta uma dinâmica muito interessante no que respeita a inovação, havendo diversos stakeholders a trabalhar em sinergias, quer ao nível nacional, quer internacional, para este fim, o que se reflecte no número de propostas aprovadas.
Que tipo de acompanhamento será feito aos projectos seleccionados? Quais as próximas fases?
A nova edição RIS Innovation Call para 2023 foi lançada recentemente a 12 de Agosto e estará aberta pelo período de dois meses, com o prazo de candidaturas até dia 12 de Outubro. As propostas elegíveis serão avaliadas por peritos até meados de Novembro, período após o qual os projectos seleccionados serão anunciados. Não havendo verba destinada a cada região, cabe aos projectos portugueses o desafio de repetir a qualidade e sucesso de 2021.
Aos projectos vencedores é proporcionado apoio financeiro, de até 75 mil euros, para o desenvolvimento futuro do projecto, serviço ou produto, nomeadamente formação e orientação aos participantes, prototipagem, apoio ao Plano de Desenvolvimento Empresarial, formação em pitch, financiamento inicial, estratégias de investimento e oportunidades de financiamento. O grande destaque é serem projectos que vão crescer na rede do EIT Health, beneficiando de uma rede de mais de 150 parceiros por toda a Europa, incluindo as principais indústrias e universidades nas áreas.
Quais os principais desafios que o sector da Saúde enfrenta em Portugal e que podem/poderiam ser resolvidos através da inovação? E que impulso é que a pandemia veio ou não dar nesse sentido?
As inovações apoiadas pelo EIT Health na área da Saúde precisam de responder a necessidades reais que, actualmente, não são satisfeitas pelos meios disponíveis. Acreditamos que a digitalização da Saúde é o maior desafio e será, a curto-médio prazo, uma realidade. Podemos, por exemplo, enumerar o inquérito realizado por nós que concluiu que quase 60% dos inquiridos acreditam que as soluções de saúde digitais ajudaram a melhorar o acesso aos serviços de saúde em áreas e regiões de difícil acesso – como um pronunciamento mais marcado pelos inquiridos de Itália. Na Hungria, Letónia, Lituânia e Portugal, a redução das ineficiências do processo nos hospitais foi mencionada pelos especialistas em saúde como o benefício mais importante da digitalização.
A pandemia veio certamente acelerar este processo. O que se conseguiu implementar num curto espaço de tempo é reflexo da capacidade que temos para o fazer. Existem, no entanto, muitas lacunas que têm de ser abordadas e, neste sentido, o EIT Health, enquanto ecossistema robusto que é, terá um papel fundamental para impulsionar a inovação necessária para atingirmos um grau de digitalização da saúde que satisfaça as necessidades dos doentes e profissionais do sector.
Texto de Daniel Almeida