Embora a agenda ESG ainda seja um desafio ao redor do mundo, o setor tem chamado a atenção dos empreendedores em tecnologia, que lançaram diversas startups com foco no meio ambiente, na governança ou no campo social nos últimos anos.
Segundo um levantamento da ABStartups, a associação brasileira de startups, existem hoje ao menos 102 cleantechs no Brasil, sendo que a maior parte delas (22%) tem menos de um ano de fundação. Metade das iniciativas mapeadas prestam serviços no modelo B2B -ou seja, para outras empresas- e um terço já recebeu algum tipo de investimento.
O relatório também pontua que as iniciativas em ESG são variadas, indo desde a descarbonização do planeta à confecção de produtos de segunda mão. A Energy Source é uma das startups brasileiras que se enquadram neste perfil, por criar baterias de lítio a partir de outras baterias descartadas no primeiro ciclo de vida.
David Noronha, CEO e cofundador da empresa, explica que ela nasceu sob o conceito de economia circular e com base nos 3 R’s: reduzir, reutilizar e reciclar. Em termos ambientais, a operação resgata o material e, consequentemente, impede que eles sejam descartados -muitos ainda em condição de uso- em lugares inapropriados e contaminem a água e o solo.
Com 500 toneladas de material reciclado, que já viraram 2,5 mil baterias de energia solar, a Energy Source foi a primeira iniciativa a receber aporte financeiro do Greentech Angels, um grupo de investidores-anjos criado exclusivamente para startups ESG. O fundo é formado por 12 executivos que se juntaram para apostar nesse mercado que tem potencial de se tornar um dos principais ramos já nos próximos anos.
“O que nós víamos era que, embora houvesse um grande espaço para desenvolver esse tema, havia pouca atenção voltada para ele, também em termos de conhecimento e dedicação”, explica Tiago Rocha, diretor executivo e cofundador do Greentech Angels. “O grupo se juntou em virtude de todos olharem para o ESG como uma área com grande potencial, bons empreendedores e que pode fazer o Brasil se destacar mundialmente”.
Para receber investimentos, as startups passam por um processo de seleção, que considera tanto o impacto do negócio quanto a expectativa de crescimento. Desta forma, por meio de uma votação entre os membros, a maioria decide se vai aportar recursos financeiros e inteligência na ideia empreendedora.
“Um dos requisitos exigidos é que ela tenha um forte impacto, seja ambiental ou social. Nós também priorizamos soluções que sejam escaláveis, ou seja, que tenham possibilidade de se multiplicar em âmbito nacional e internacional, além de ter uma tecnologia que traga segurança”, pontua Ricardo Cavallo, professor do Insper e cofundador do Greentech Angels, antecipando que três novos investimentos devem acontecer ainda no primeiro semestre de 2023.
ESG no novo governo
Uma das bandeiras do novo governo federal é dar mais importância aos temas ambientais e, por isso, mudou o nome da pasta responsável pelo assunto para Ministério do Meio Ambiente e Mudanças do Clima. Além disso, houve a criação de uma secretaria específica para lidar com os assuntos de interesse das micro e pequenas empresas, essa sob o crivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
Na análise de Cavallo, do Insper, o direcionamento político do governo Lula e até o retrospecto dos mandatos anteriores mostram que haverá maior destaque para a agenda ESG, o que, consequentemente, pode beneficiar as cleantechs. “O mercado acredita de uma forma muito assertiva que isso também terá um impacto nas startups verdes, podendo até ser uma surpresa maior do que o esperado”, projeta Cavallo.
Rocha complementa que, independente da conjuntura política, o movimento é de valorização deste setor nos próximos anos porque este é um tema internacional. “Mesmo no contexto global, essas empresas tendem a crescer porque a demanda é alta, já que, em geral, os problemas nos países são similares. Então soluções que são boas e escaláveis em diferentes ambientes podem ter um forte crescimento”, comenta.
Por: Wesley Santana