ParaOil atende cerca de 400 pequenos empreendedores com insumos e tem planos de aumentar a produção para se tornar fornecedora de empresas maiores
Neto de um imigrante japonês que desembarcou no Brasil em 1960, o empreendedor Gilberto Nobumasa cresceu com os ensinamentos do avô sobre respeitar a terra e ajudar ao próximo. Foi por esse propósito que ele fundou a ParaOil, startup que extrai óleos e manteigas vegetais de sementes e plantas da Amazônia para a indústria de cosméticos naturais.
Filho de uma professora e um agricultor, ele aprendeu que a educação seria o seu caminho para um futuro melhor. O desejo dos pais era de que ele trabalhasse em uma multinacional. Engenheiro de formação, especialista em mecânica, ele teve a carteira assinada até decidir empreender. “Sempre senti na pele a dificuldade de trabalhar no campo e via o subaproveitamento dos produtos da agricultura familiar”, conta.
A ideia para a ParaOil surgiu após Nobumasa trabalhar na montagem de uma indústria de óleo de palma. Recordando de todas as sementes de cupuaçu que eram descartadas pelo pai – que vende a polpa do fruto na feira –, ele decidiu pesquisar a possibilidade de extrair os óleos de amêndoas e plantas nativas da Amazônia.
“Temos um mercado que necessita de ingredientes da floresta e milhares de agricultores que jogam as sementes fora. Vi a oportunidade de conectar esses dois mundos a partir do processo de manufatura”, diz. O primeiro produto foi a manteiga de cupuaçu, alternativa à manteiga de karité, de origem africana, em 2019. Na época, o empreendedor produzia apenas aos fins de semana, porque continuava no emprego formal.
No início, Nobumasa encontrou dificuldade para vender os produtos, uma vez que o volume produzido era pequeno e não atendia às grandes indústrias de cosméticos. A saída foi oferecer os óleos e manteigas para pequenas empreendedoras de cosméticos naturais. A ParaOil atende cerca de 400 clientes e está desenhando parcerias com distribuidores maiores após o aumento na produção.
A startup trabalha com murumuru, copaíba, pracaxi, cupuaçu e andiroba, fornecidos por 50 pequenos produtores de três municípios do Vale do Acará, no Pará. Em média, cada família direciona uma tonelada de sementes para a Paraoil, por safra, ganhando cerca de R$ 2,50 por quilo – a venda gera um aumento de 30% na receita, segundo o empreendedor.
Neste ano, o fundador se desligou do emprego formal para focar no crescimento da ParaOil. A estimativa é alcançar o faturamento de R$ 350 mil até o fim de 2023 e, no próximo ano, bater a marca de R$ 1 milhão. “A safra começa em janeiro, então já estamos correndo atrás, contatando comunidades, para que elas forneçam os insumos para aumentarmos a nossa capacidade no ano que vem”, declara.
Até o momento, a startup se financiou de duas formas: por subvenção econômica, a partir de R$ 120 mil recebidos do governo do estado do Pará para montar um laboratório e conquistar as certificações orgânicas dos insumos; e outros R$ 120 mil pela plataforma Sitawi, que fornece capital a juros mais baixos para empresas de impacto social.
Agora a ParaOil está captando sua primeira rodada via equity, com o apoio do programa Sinergia, da plataforma Jornada Amazônia, e procura levantar R$ 800 mil para finalizar a construção de uma fábrica nova, certificações e análises.
Nobumasa lamenta que os investidores de venture capital encontrem dificuldade para ver futuro e aportar capital nas startups da região amazônica. “Uma empresa de software nasce hoje e amanhã está bombando. Quando as startups de bioeconomia falam de floresta em pé, não podemos acelerar muito porque a natureza tem seu tempo”, finaliza.
Texto: Pegn