sexta-feira,22 novembro, 2024

Startup faz logística reversa para fabricantes de eletroeletrônicos e prevê faturar R$ 50 milhões

A Circular Brain atende corporações e associações, conectando-as com os operadores de reciclagem e fazendo a gestão da rastreabilidade dos resíduos

Você com certeza tem na sua casa uma gaveta com inúmeros eletroeletrônicos parados, como telefones antigos, baterias e controles sem uso, fora os equipamentos maiores, que não sabemos bem como descartar, como geladeiras, fogões e computadores. A startup Circular Brain nasceu para movimentar a economia circular desses itens, remunerando os recicladores e vendendo créditos de reciclagem com dados de gestão de logística reversa para fabricantes.

Originalmente biomédico, Marcus Oliveira abandonou um doutorado em neurociência fora do Brasil para tocar a empresa de reciclagem de eletrônicos da família. O mercado também atraiu Marcelo Fornari, formado em engenharia da computação e com experiência em hardware e software. Interessado no descarte dos equipamentos, ele conheceu o trabalho de Oliveira, que mostrou o caminho para a abertura de uma empresa de reciclagem.

Anos mais tarde, em 2019, Oliveira decidiu fundar uma startup para ir além do que a empresa familiar oferecia, notando uma necessidade do mercado. “Mais do que coletar e processar, havia a necessidade de gestão, transparência e rastreabilidade dos resíduos”, pontua. Ele chamou Fornari para ser sócio e desenvolver a plataforma, chamada Circulare. “A Circular Brain foi uma evolução do nosso histórico como empreendedores do setor. Ainda é jovem, nasceu com a pandemia, mas temos mais de 10 anos de história prévia no mercado”, ressalta Oliveira.

A empresa surgiu em um momento em que a legislação (DD n° 127/2021/P) passou a exigir que todo fabricante ou importador faça a logística reversa de equipamentos eletroeletrônicos de uso doméstico e acessórios, com algumas metas de recolhimento. Em 2021, a exigência era de 1% do volume colocado em mercado em 2018. O percentual aumenta com o passar dos anos: em 2023, está em 6%, e no próximo ano irá para 12%. “A lei diz que eles precisam comprovar que conseguem captar isso do consumidor e destinar de forma adequada, a nível nacional”, diz Fornari.

A plataforma da startup permite a conexão entre as fabricantes, que precisam compensar esses volumes, e os recicladores, que retiram os produtos com os clientes. A lógica é parecida com a dos créditos de carbono: as companhias pagam por quilo de material retirado e descartado corretamente e recebem créditos equivalentes. “É lastreado com documentos em órgãos oficiais. Controlamos a emissão dentro do nosso software, que é integrado aos sistemas das empresas. Democratizamos que o reciclador passe a prestar serviço para grandes empresas, tornando-se um player nacional de reciclagem, criando emprego e renda regionalmente”, afirma Oliveira.

Atualmente, a Circular Brain trabalha com cerca de 25 operadores localizados em mais de 10 estados brasileiros, e está em processo de credenciamento de novos recicladores para aumentar a eficiência e diminuir os custos. Segundo os sócios-fundadores, os profissionais são avaliados pela equipe da startup e precisam estar em conformidade com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

A startup nasceu com a mentalidade de cumprir a jornada de captação com fundos de venture capital, focando em apresentar um modelo de negócio escalável e replicável. A primeira captação aconteceu ainda no pré-operacional, em janeiro de 2020, quando os sócios levantaram R$ 1 milhão com um investidor-anjo. Em outubro de 2021 foi feita a primeira rodada com fundos para estruturar o produto. Em março de 2022, a Circular Brain pivotou o modelo de negócios e mudou o foco, inicialmente nos recicladores, para as fabricantes.

Em janeiro de 2023, o novo direcionamento engrenou. Neste ano, o crescimento está previsto em 20 vezes, com o faturamento saltando de R$ 2,5 milhões para R$ 50 milhões. “Existia demanda e oferta, mas faltava a conexão. O reciclador não atendia às exigências de estrutura, não passava as informações de maneira sustentada. Nós validamos, fazemos a gestão e a governança da logística reversa. Somos uma camada de proteção para o sistema”, aponta Oliveira.

Dois grandes contratos assinados explicam o crescimento neste ano: com a Whirlpool e a Associação Brasileira de Reciclagem de Eletroeletrônicos (ABREE), cujos associados comprarão os créditos exclusivamente da startup. Ao todo, a Circular Brain atende entre 60 a 80 fabricantes, com contratos individuais por empresa ou com associações. A estrutura logística de retirada de itens é feita em parceria com o Mercado Livre.

Agora, a startup se prepara para uma nova captação, com o objetivo de levantar uma Série A. “Já estamos falando com vários fundos nacionais e internacionais que olham setores de impacto. O recurso será para ampliar o ecossistema e as interações na cadeia”, afirma Oliveira. Segundo o fundador, a visão de longo prazo é transformar a Circulare em uma solução de economia circular, adicionando pilares como reuso, recondicionamento, uso compartilhado e assistência técnica.

Texto: Rebecca Silva

Redação
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