sexta-feira,22 novembro, 2024

Startup de saúde usa inteligência artificial para manter médicos atualizados

Uma das limitações dos sistemas de inteligência artificial é que as informações usadas para treiná-los ficaram congeladas no tempo. Se você perguntar ao famoso chatbot da OpenAI, o ChatGPT, se as vacinas contra a Covid funcionam contra a variante mais comum que circula em 2023, ele responde: “Como um modelo de linguagem de IA, não tenho acesso a dados ou informações em tempo real além da minha última atualização em setembro de 2021.”

Muita coisa mudou desde essa data – há novas cepas da doença, novas aprovações de vacinas e medicamentos e dezenas de milhares de novos estudos científicos. Para que os chatbots sejam úteis no mundo da medicina, eles precisam ter acesso às pesquisas mais recentes.

Com investimento de US$ 32 milhões (R$ 151 milhões), quase uma dúzia de funcionários com doutorados (ou candidatos a um) e um supercomputador no deserto de Nevada, Daniel Nadler tem trabalhado para resolver esse problema com sua nova startup OpenEvidence.

O treinamento constante de modelos de aprendizado de máquina requer um grande (e muito caro) poder de computação, mas há outra opção. É um desafio técnico e de engenharia que, segundo o fundador, envolve combinar esses modelos de linguagem com uma infinidade de documentos clínicos em tempo real.

Nadler, 40 anos, basicamente fornece à IA acesso a um novo conjunto de dados antes de responder à pergunta feita pelo usuário – um processo que os cientistas da computação chamam de “geração aumentada de recuperação”.

Se você perguntar ao chatbot da OpenEvidence sobre a questão das vacinas e a nova variante da Covid, ele responde que “estudos específicos sobre essa variante são limitados” e inclui informações de pesquisas publicadas em fevereiro e maio de 2023 com citações. A principal diferença, diz Nadler, é que seu modelo “pode responder com um livro aberto, ao contrário de um livro fechado”.
Do mercado financeiro à saúde
Essa não é a primeira experiência de Nadler como fundador de uma startup de IA. Ele vendeu sua empresa anterior, a Kensho Technologies, para a companhia de análises e pesquisa de mercado financeiro S&P Global por US$ 550 milhões (R$ 2,5 bilhoes) – mais US$ 150 milhões (R$ 708 milhões) em ações – em 2018. A Kensho é uma ferramenta baseada em IA para traders de Wall Street que analisa milhões de dados de mercado para ajudar a identificar oportunidades de arbitragem – compra e venda de determinado ativo.

Durante a pandemia, quando o número de estudos científicos sobre a Covid-19 aumentou de zero para dezenas de milhares em poucos meses, Nadler percebeu que os profissionais de saúde enfrentavam um problema semelhante ao dos traders: como separar informações confiáveis ​​e importantes do barulho? 

Ele logo descobriu que isso não valia apenas para os estudos da Covid, mas para o campo médico de forma mais ampla, já que são publicados cerca de dois artigos científicos por minuto. “A base do problema era idêntica”, diz Nadler. “Uma sobrecarga de informações e a necessidade de triagem dessas informações e de usar computadores para fazer isso.”

Potencial de negócios de inteligência artificial e saúde
Investidores de capital de risco aportaram mais de US$ 46 bilhões (R$ 217 bilhões) em startups de inteligência artificial e aprendizado de máquina com foco em saúde nos EUA na última década, de acordo com dados da empresa de finanças PitchBook. O investimento atingiu um pico de US$ 13,4 bilhões (R$ 63 bilhões) em 2021 e caiu para US$ 10,3 bilhões (R$ 48,6 bilhões) em 2022. As startups levantaram US$ 3 bilhões (R$ 14 bilhões) em 205 negócios até agora este ano.

Nadler fundou a OpenEvidence em novembro de 2021. Depois de investir US$ 5 milhões (R$ 23,6 milhões) de seu próprio dinheiro, ele diz que fechou uma rodada de financiamento da Série B de US$ 27 milhões (R$ 127 milhões) em julho de 2022, avaliando a startup em US$ 425 milhões (R$ 2 bilhões). Ele abriu a rodada para ex-investidores da Kensho, incluindo o bilionário capitalista de risco Jim Breyer, o bilionário cofundador da Vista Equity Partners, Brian Sheth, e o banqueiro de investimentos Ken Moelis, entre outros. Em março, a OpenEvidence foi selecionada para ser acelerada pela Mayo Clinic Platform. Desde então, Nadler diz que mais de 10 mil médicos se inscreveram para acesso antecipado.

A OpenEvidence está tentando assumir o grande banco de dados usado por dois milhões de profissionais de saúde em todo o mundo, chamado UpToDate, da empresa de dados global com sede na Holanda, Wolters Kluwer. 

Para Nadler, seu negócio, que usa a inteligência artificial, tem uma vantagem em relação a plataformas que são editadas por humanos, como o UpToDate. A OpenEvidence é interativa em vez de uma página estática de texto, o que significa que os usuários podem adaptar suas perguntas a cenários específicos de pacientes e fazer acompanhamentos, em vez de ter que ler grandes textos. Ele também pode digitalizar dezenas de milhares de periódicos em comparação com centenas. 

A OpenEvidence está recolhendo informações de mais de 35 milhões de artigos científicos. Nadler diz que vasculha a Biblioteca Nacional de Medicina dos EUA, que tem mais de 31 mil periódicos revisados ​​por pares, várias vezes ao dia. Segundo ele, há cerca de 24 horas de atraso para processar os novos artigos de periódicos e colocá-los no sistema.

Limitações
Uri Alon, pesquisador de pós-doutorado no Language Technologies Institute da Carnegie Mellon University, que não é afiliado à OpenEvidence, diz que é preciso ter cuidado, porque nada é 100% seguro. Segundo ele, esses modelos sempre poderão errar, assim como os humanos. “Se você desse a um humano um monte de documentos ou parágrafos, deixasse ele ler e depois fizesse perguntas e pedisse para dizer de onde veio a resposta nos documentos, até os humanos cometeriam erros.”

Até agora, o uso da OpenEvidence é gratuito para os primeiros usuários, profissionais médicos licenciados. Antonio Forte, professor de cirurgia plástica na Mayo Clinic, e membro do conselho consultivo médico da OpenEvidence, diz que a maior diferença ao usar a OpenEvidence nas últimas semanas foi a economia de tempo. Em vez de ter que ler o equivalente a um capítulo de livro, ele pode obter uma resposta “em 30 segundos, não em 10 minutos”.

Nadler diz que ainda não se decidiu sobre um modelo de receita para a sua empresa. Ele está entre os modelos de assinatura e anúncios, mas está inclinado para uma mistura dos dois. De uma coisa ele tem certeza: a OpenEvidence não se tornará um chatbot para o paciente comum. “Existe um limite muito claro para qualquer dano que possa advir do uso da tecnologia para um paciente, porque vai estar sempre sendo intermediado por um profissional.”

Fonte: Katie Jennings

Redação
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