sexta-feira,22 novembro, 2024

Solar Hub: tecnologia é chave para desenvolvimento sustentável e preservação na Amazônia

“Se a gente deixar isso aqui acabar, é o fim. A humanidade vai ter um futuro muito ruim. Nós já perdemos [as florestas tropicais] do Congo, do sudeste asiático, da América Central… E a gente precisa fazer alguma coisa pela Amazônia”, me diz Victor Salviati. Ele tem paixão na voz, e fala com a floresta amazônica passando logo abaixo, com sua infinidade de verde e azul brilhando ao sol e visíveis poucos pés de altitude abaixo do avião monomotor.

Pelo ar, leva cerca de uma hora para cruzar os 350 quilômetros entre as cidades de Manicoré e Manaus, ambas no estado do Amazonas. Victor é superintendente de inovação e desenvolvimento institucional da Fundação Amazônia Sustentável, e estamos voltando da visita que fizemos ao Solar Community Hub, estrutura concebida e criada pela Dell e pela Computer Aid International, com apoio da Intel* e suporte da FAS.

Outras empresas e entidades também são apoiadoras. A Microsoft, por exemplo, fornece cursos de capacitação. Os governos do Estado do Amazonas e da Prefeitura de Manicoré também são parceiros por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) e órgãos da área de educação e cultura.

“A boa notícia”, continua Vitor, “é que 80% da biodiversidade está na Amazônia”. Biólogo de formação, o executivo – palavra que soa estranha aplicada a ele, que não parece o tipo que usa terno e gravata no dia a dia – diz que essa preservação só pode ser possível quando se pensa nas comunidades que estão na floresta. É preciso, reitera, trazer desenvolvimento sustentável.

É essa, aliás, a meta do Solar Hub. A estrutura brasileira é a 27ª do tipo no mundo, fruto de um projeto capitaneado pela Dell em parceria com a Computer Aid. O projeto nasceu na Nigéria em 2013 com um cunho principalmente educacional, e assim cresceu desde então, ofertando educação às comunidades em que surgiu. A meta principal era promover inclusão digital para comunidades carentes e sub representadas.

Por parte da Dell, se trata de uma das iniciativas de um programa maior de ESG, que quer alcançar 1 bilhão de pessoas até 2030 com iniciativas de saúde, educação e oportunidades econômicas.

O Solar Hub amazonense, no entanto, é o primeiro que traz outros serviços além dos educacionais, incluindo telessaúde. Também serve de base operacional para projetos de conservação da floresta e de empreendedorismo para as cerca de 1,6 mil pessoas na vivem na região da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Rio Amapá, mais especificamente às margens do Rio Madeira, no município de Manicoré.

Desafio estrutural

O Solar Hub – que na prática se trata de uma estrutura conectada via rádio (e em breve por meio dos satélites da Starlink de Elon Musk) – foi construído com dois contêineres desativados e ligados por uma sala central, de madeira. Fica bem no meio da comunidade Boa Esperança, às margens do Madeira, de onde pode ser alcançado por cerca de outras 11 comunidades próximas, incluindo indígenas, dos povos Mura, Tenharim e Apurinã.

São painéis solares que geram a energia usada pelos notebooks dos alunos, professores e profissionais de saúde da região, além de um servidor da Dell – e, claro, pelo indispensável ar-condicionado para enfrentar o calor amazônico. Além de Wi-Fi para uso da comunidade e de alunos de graduação e pós-graduação, são ali oferecidos cursos de capacitação e profissionalizantes para jovens e adultos, além da tão necessária educação ambiental.

Ao longo dos quase dois anos de projeto, foram realizadas 778 horas de capacitação para jovens e adultos no eixo de educação para empregabilidade.

Também são feitas consultas médicas à distância. É, inclusive, o campeão de agendamentos no estado do Amazonas, com 233 atendimentos feitos ao longo de 2022 e perspectiva de bater o recorde esse ano. Em uma localidade no qual os deslocamentos são difíceis, caros e feitos principalmente por barco, deixar de ir até Manicoré para uma consulta, e depois de novo para um retorno, é visto como uma benção.

Rivelino de Carvalho, profissional de saúde responsável pelo funcionamento da estrutura, explica que uma parceria com a Câmara Municipal de Manicoré dispensa os pacientes de buscarem medicamentos na cidade. Um único deslocamento ainda é necessário: para fazer exames clínicos e laboratoriais na cidade.

Esse desafio logístico, aliás, também se impôs sobre a própria construção do Solar Hub. Os contêineres usados vieram de Manaus de balsa, ao longo de vários dias, e foram içados até a comunidade por tratores, além do esforço físico dos moradores do local. Uma corrida contra o tempo, visto que o igarapé que dá acesso às casas estava prestes a perder o volume necessário para a empreitada.

Graças ao esforço da comunidade e dos que participaram da empreitada, o Solar Hub ficou pronto e foi em julho de 2021, ou quase dois anos atrás.

Dados para a preservação
Outra função importante do Solar Community Hub é o monitoramento socioambiental. Um projeto executado pela FAS utiliza geotecnologia, além do esforço de um grupo de jovens das comunidades na RDS. Os monitores, treinados pela FAZ e com base em dados fornecidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), vão até locais em que são detectados focos de calor.

Esses jovens avaliam e monitoram, in loco, as imagens fornecidas pelos satélites e que podem indicar áreas de desmatamento ou queimadas. Também entrevistam os habitantes das comunidades para entender que uso fazem da terra e dos recursos naturais.

Moradores das comunidades locais são autorizados pela legislação a fazerem os “roçados”, pequenas áreas limpas usando inclusive incêndios controlados para plantação e subsistência. Mas há um limite, e as infrações são verificadas caso a caso. A extração e uso controlado da madeira também é permitido.

Ao longo de 2022, segundo a FAZ, foram capacitados sete jovens monitores ambientais, que monitoraram 13,5 hectares de floresta nativa e 211 hectares de capoeira. A partir da coleta, análise e verificação dos dados e escuta ativa nos territórios, além dos dados de satélite, as associações comunitárias podem encaminhar pedidos formais aos órgãos responsáveis de fiscalização.

“Capacitar pessoas locais [para fazer o trabalho de monitoramento] é mais importante que trazer gente de Manaus”, ponderou Marilson Rodrigo Silva, supervisor técnico de projetos na FAS, durante a visita. “O projeto depende de números, por isso as pessoas da própria comunidade é que tem a sensibilidade para levantar informações sobre extração de madeira, por exemplo.”

Esses dados são usados também para gestão e manejo de recursos naturais nas áreas, e podem ser compartilhados com autoridades locais para a formulação de políticas públicas. Segundo a FAS, a grande meta é melhorar a qualidade de vida das populações amazônicas e, ao mesmo tempo, preservar a floresta.

“Nosso grande objetivo é fazer com que as pessoas entendam que a floresta de pé vale muito mais para elas do que derrubada”, resume Victor Salviati.

Esperança no futuro
Para as comunidades diretamente impactadas pelo Solar Hub, o grande trunfo do projeto é aumentar as perspectivas de futuro para os moradores da região, principalmente os jovens. Alguns “casos de sucesso” já são enumerados, principalmente de alunos de ensino à distância que já aplicam conhecimentos adquiridos diretamente na propriedade.

“A gente percebe um crescimento e um empoderamento da comunidade. Uma transformação da qualidade de vida das pessoas da região”, disse, durante a visita dos jornalistas o vice-prefeito de Manicoré, Paulo Sérgio Barbosa. “Queremos estreitar mais essas parcerias e, em um futuro próximo, expandi-las.”

“O projeto tem no cerne incluir pessoas que conhecem a realidade local”, diz Claudia Muchaluat, presidente da Intel Brasil, durante a visita. “Todo sonho grande começa com coisas que a gente muitas vezes acha impossíveis”, pondera, refletindo a dificuldade de transportar os contêineres e conectar a estrutura bem no meio da floresta amazônica.

Diego Puerta, presidente da Dell Technologies no Brasil, diz que o grande trunfo do Solar Hub brasileiro é justamente melhorar a vida das pessoas por meio da tecnologia. “É o que está acontecendo aqui”, disse o executivo, ressaltando o papel da comunidade e suas lideranças no processo.

Uma dessas lideranças é Maria Ana Hipi da Costa, ou simplesmente Dona Ana, a presidente da comunidade Boa Esperança. Muito religiosa, ela chama o projeto de “benção” e ressalta que é impossível calcular o benefício da estrutura aparentemente simples montada pela Dell, Intel e Computer Aid. “Ninguém explica Deus, e ninguém explica o Solar”, diz, rindo.

Fonte: IT Forte

Redação
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