Sevilha é uma das cidades europeias que sofrem com o calor extremo nesse verão do hemisfério norte. Com temperaturas batendo em 42ºC, muitos cidadãos fazem de tudo para evitar sair às ruas e cozinhar sob o sol. Mas há um espaço na cidade que pode prover um importante refresco à população e que se vale de uma técnica inspirada em tempos antigos da civilização persa.
O espaço é o CartujaQanat, um experimento arquitetônico em soluções de resfriamento que não depende da queima de combustíveis fósseis. O terreno, do tamanho aproximado de dois campos de futebol, inclui dois auditórios, espaços verdes, um passeio e uma área sombreada com bancos. E como? Por meio do qanat, uma rede de canos e tubos subterrâneos que pode reduzir as temperaturas circundantes em até 10°C usando apenas ar, água e energia solar. Ele já foi parcialmente finalizado, e atualmente depende da solução de um imbróglio político para enfim funcionar.
O sistema é modelado à semelhança de antigos túneis cavados para levar água a campos agrícolas que foram documentados pela primeira vez na Pérsia – hoje Irã. Os persas perceberam há mil anos que a água corrente também esfriava o ar nos canais, e então criaram canais verticais para trazer esse ar para a superfície.
“Este não é um sistema de ar condicionado como o que você pode ter em sua casa”, diz Juan Luis López, supervisor do projeto e engenheiro da Emasesa, empresa pública que administra o CartujaQanat. “Usamos técnicas e materiais naturais para reduzir as temperaturas”, explica à Bloomberg.
O CartujaQanat foi projetado por pesquisadores da Universidade de Sevilha, com custo estimado em 5 milhões de euros. No sistema de resfriamento, a água corre por um aqueduto do lado de fora, que passa por painéis solares no telhado e em tanques gigantes no subsolo. O contato com as temperaturas mais baixas resfria a água, enquanto o circuito fechado minimiza o desperdício.
No CartujaQanat, água em tubulações subterrâneas esfria o ar que é ventilado para os ambientes internos, aliviando o calor — Foto: Divulgação/CartujaQanat
Quando o dia começa a esquentar, bombas movidas a energia solar empurram a mesma água por canos que passam na frente de ventiladores para gerar ar frio. Pequenas aberturas no chão e nos degraus permitem que a corrente refrescante penetre na praça.
Disputa política impede uso do qanat
Com a maior parte de sua construção finalizada em 2022, o CantujaQanat já foi usado algumas vezes para demonstração, mas ainda está fechado para os cidadãos de Sevilha. Sua abertura foi adiada desde que o Partido Socialista, que lançou o projeto, perdeu as eleições locais em maio deste ano para o Partido Popular.
O projeto está parado desde então, se encontrando cercado e com a vegetação crescendo ao seu redor. Atualmente, engenheiros ainda estão esperando por duas bombas de água adicionais para garantir que o qanat funcione corretamente.
À Bloomberg, o prefeito José Luis Sanz, do Partido Popular, disse que segue interessado no CartujaQanat e que quer financiamento da União Europeia para mais iniciativas desse tipo. “Os impactos das mudanças climáticas são mais do que óbvios”, diz.
Enquanto isso, Sevilha segue sendo uma das cidades espanholas mais atingidas pela onda de calor que varre a Europa. As altas temperaturas já mataram 103 pessoas nos últimos 12 doze meses na província de Sevilha (que inclui não só a cidade de mesmo nome, mas toda uma região em volta).
Apesar dos obstáculos para o funcionamento do CartujaQanat, o supervisor do projeto, Juan Luis López, se diz otimista com relação ao futuro dele. “O objetivo é testar a tecnologia, aprender com ela e ajustá-la para que possamos replicar o que funciona em outros lugares”, diz ele.
Fonte: Redação, do Um Só Planeta