Há expectativa de que uma possível redução na produção internacional poderia se transformar em uma oportunidade para o Brasil
Empresas do setor de óleo e gás observam as recentes mudanças nos mercados internacionais com o efeito Donald Trump, mas cenário está longe de se tornar um fato decisivo para futuros investimentos. As taxações do presidente norte-americano foram responsáveis por quedas no mercado financeiro e reduzir a cotação do valor do barril de petróleo nos últimos dias.
O principal motivo disso, segundo o presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP), Roberto Ardenghy, é que não é possível definir se as tarifas de importação implementadas pelo governo norte-americano serão transformadas em uma tendência de fato. O executivo participou nesta quarta-feira (9) do Fórum Brasileiro de Líderes de Energia Oil & Gas, na Fundação Getulio Vargas (FGV).
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Segundo Ardenghy, o que ocorre por enquanto é uma antecipação de expectativas do mercado. Ele não vê uma direção no curto prazo para a redução de demanda. “Petróleo é um ativo muito sensível, é insumo industrial e por isso ficou de fora da lista de impostos. Mas é muito cedo para dizer se vai haver recessão. Vamos ter que esperar que Trump comece a negociar com os países, um por um”, completou.
O cálculo é que pode haver redução de produção se o cenário se transformar em tendência, ou seja, se o protecionismo de Trump continuar. Por enquanto, o IBP não trabalha com essa hipótese e projeta uma cotação esperada para o barril entre US$ 60 a US$ 80 para dezembro deste ano.
Uma possível situação de redução na produção internacional poderia se transformar em uma oportunidade para o Brasil. Não apenas pelo valor do imposto brasileiro ser o patamar mais baixo, o que torna o produto brasileiro mais competitivo nos Estados Unidos em relação a outros países, mas também porque o protecionismo norte-americano pode abrir mercados internacionais para o país.
Na produção de petróleo, a oportunidade seria especialmente para a exploração offshore, que tem um custo de extração mais baixo. O petróleo produzido em campos marginais, geralmente onshore, trabalha com margens mais apertadas e pode ter impacto maior dos impostos em um cenário de recessão global.
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Para a Petrobras, as recentes quedas na cotação da commodity não são suficientes para parar nenhum projeto. A petroleira trabalha com cenários de resiliência com preços de até US$ 28 o barril.
“Tudo é de longo prazo. Aprovamos projetos resilientes que vão ser instalados daqui a dois, três, quatro, cinco anos. Se você olhar, depois do que passamos em 2020, isso aqui é brincadeira”, disse a diretora de Exploração e Produção da empresa, Sylvia Anjos, que também participou do evento na FGV.
Mesmo com uma avaliação mais otimista por parte das empresas, o governo vê os acontecimentos como um sinal amarelo. O secretário de Petróleo, Gás e Biocombustíveis, Pietro Mendes, citou durante o evento que a percepção do governo brasileiro em relação às taxações estrangeiras é negativa para o setor energético como um todo.
Desde que Donald Trump passou a anunciar aplicação de tarifas de importação para vários países, incluindo o Brasil, o mercado internacional teme a possibilidade de recessão e a redução da produção de petróleo no país, o maior produtor da commodity do mundo.
Ainda nesta quarta-feira (9/4), o presidente dos Estados Unidos anunciou uma pausa de 90 dias em novas tarifas em sua guerra comercial, com exceção da China, e os impostos serão reduzidos a 10% para todos os países. A notícia foi suficiente para um aumento na cotação do petróleo, chegando a ser comercializado por US$ 66 nesta tarde.