A liderança exige inovação, mas ignora o cenário emocional e estrutural da equipe. Cobra ideias frescas de pessoas desmotivadas, sobrecarregadas e sem espaço para errar (ou para brilhar)
Sabe aquela sensação de que a galera do seu time anda desmotivada, arrastando o mouse, sem ânimo nem pra inventar uma desculpa boa no grupo do trabalho? Pois é… Em muitos casos, o problema não é talento, é ambiente. É cultura. É o ar-condicionado da inovação que foi desligado sem ninguém perceber.
A liderança parou de reconhecer o esforço — mas quer o dobro de entrega. Os processos viraram um balé de aprovação sem fim. A ousadia virou palavrão. E antes de você marcar outro workshop com post-it colorido e M&M’s na mesa, para fingir que a inovação tá fluindo, talvez seja a hora de parar e perguntar: essa tal de inovação aí… ainda tá viva ou já virou zumbi corporativo?
Nos últimos meses, mergulhei em uma série de pesquisas que ajudam a entender por que tantas iniciativas de inovação simplesmente não ganham tração
Spoiler: os dados não são animadores.
Prepare seu coração (e talvez uma água com gás). A PwC diz que mais da metade dos profissionais por aí estão sentindo uma avalanche de mudanças caindo na cabeça. E o detalhe é que 34% dos brasileiros nem entendem por que essas mudanças estão acontecendo. Tipo aquela reforma no RH que ninguém pediu, mas que agora você tem que elogiar no mural interno.
A Bain & Company já chega com voadora: 88% das transformações empresariais não entregam o que prometeram. Motivo? A sobrecarga dos talentos-chave. Ou seja: a galera que tinha que puxar a inovação está no limite, emocionalmente exaurida, torcendo por uma reunião cancelada para poder respirar. Sem ar, não tem ideia.
Agora vem o dado que é tipo gota d’água de ácido no chão da esperança: segundo a BCG, 83% das empresas dizem que inovação é top 3 prioridade. Mas só 3% estão prontas de verdade para transformar isso em resultado. O nome disso? Sistema de Inovação Zumbi™. A ideia anda. Mas ninguém sabe pra onde. Ou por quê. Ou quem tá liderando.
A inovação morreu. E ninguém mandou flores.
E antes que você diga que isso é drama, lembra: 88% das empresas do índice Fortune 500 de 60 anos atrás não existem mais. Foram adquiridas, evaporaram ou viraram história triste em PowerPoint motivacional.
Transformação hoje não é cool. É sobrevivência. E empresa que não entende isso tá flertando com a irrelevância.
Como pensar em transformação quando os sinais vitais da cultura corporativa já estão comprometidos?
Muitas vezes, tentamos inovar em ambientes organizacionais que perderam sua vitalidade. E, em vez de enfrentar a raiz do problema, buscamos soluções pontuais. Vem aquela ideia de “agitar o time”: um brainstorm improvisado, uma rodada de pizza e entre outras metodologias, que são super válidas, porém no fundo, a equipe está esgotada.
Quando analisamos casos assim, vemos um padrão: o Marcelo, por exemplo, está esgotado após anos sob uma liderança tóxica. A Cibele, trocando de gestor a cada trimestre, nunca conseguiu se adaptar. O Marcos não vê reconhecimento, mesmo se dedicando além da conta. O Vitor já pediu apoio para se desenvolver e não teve retorno. A Valentina, da geração Z, chegou cheia de ideias, mas se viu limitada por processos ultrapassados. E a Ariane até tenta propor algo novo, mas ninguém dá ouvidos.
Resultado? A liderança exige inovação, mas ignora o cenário emocional e estrutural da equipe. Cobra ideias frescas de pessoas desmotivadas, sobrecarregadas e sem espaço para errar (ou para brilhar).
A inovação nasce de uma cultura que fomente confiança, segurança psicológica e propósito. E o primeiro passo para revitalizar esse ambiente não é uma ação pontual, mas um mapeamento real do que está acontecendo. É preciso ouvir o time, identificar os bloqueios e encarar as causas com coragem.
Liderar a inovação exige mais do que pedir ideias, exige criar um ecossistema onde elas possam florescer.
Se o seu time tá quieto demais, talvez o problema não seja a criatividade.
É a cultura que já morreu… e ninguém teve coragem de dizer.
Portanto, se você sente que está apresentando ideias para um ambiente que não reage, talvez seja hora de olhar menos para o slide da próxima reunião e mais para as pessoas à sua volta. A inovação não está em falta. Ela só precisa de espaço e de uma cultura viva.
Por: Eduardo Paraske