A história do rock em Cuiabá é marcada por muitas bandas e músicos, lugares importantes e diversas sonoridades que oscilam do clássico rock’n’roll ao extremo death metal. Uma característica comum aos diferentes gêneros musicais que compõe o cenário roqueiro cuiabano é a associação ao underground: um modo particular de ser-estar no mundo marcado pela autonomia criativa.
Trata-se de uma história que em boa medida existe apenas na memória de músicos e entusiastas do rock autoral em Cuiabá. E se memória é tanto preservação quanto acumulação do passado no presente, o documentário Ser Underground: A história do rock cuiabano (2021, 74 min), dirigido por Joe Fagundes e i. bê. gomes, atualiza essa história ao costurar entrevistas com importantes personagens da cena roqueira a raras imagens de arquivos.
Contemplado pela Lei Aldir Blanc (Edital nº 05/2020 – SECEL-MT / MT NASCENTES), o documentário reúne mais de 50 entrevistados entre músicos, produtores culturais e jornalistas para narrar o percurso do rock pela cidade. As gravações foram realizadas em janeiro e fevereiro, e a montagem das mais de 13 horas de entrevistas foi feita ao longo do ano de 2021.
Para além de um registro auto-elogioso, os dois diretores apresentam um recorte audiovisual que lança luz sobre um segmento da cultura urbana cuiabana que propositalmente se coloca às margens – mas que há tempos circula e reverbera pela cidade.
A emergência do rock em Cuiabá
A narrativa do documentário se inicia na década de 1960 com a Jacildo e Seus Rapazes, banda considerada precursora do rock’n’roll cuiabano. O primeiro baterista dela, Moracyr Isac da Anunciação (1937-2021), traz em seu relato uma Cuiabá distante – quando ainda eram ativos lugares como o Balneário Sayonara e o Clube Dom Bosco. É interessante notar como a cidade já se apresentava como uma antena ao captar uma expressão artística estrangeira como o rock’n’roll .
Porém, é na década de 1980 que o rock cuiabano ganha uma sonoridade mais agressiva e assume uma identidade underground. E pelos relatos dos entrevistados é possível afirmar que o rock cuiabano é underground tanto por uma escolha estética quanto por falta de opção: da dificuldade em se obter instrumentos e discos à falta de espaços para shows, a cena roqueira cuiabana foi construída à base de improvisos e muita criatividade.
Kabbalah, Blokeio Metal, Caximir, Lynhas de Montagem e G.T.W. são algumas das bandas que ajudaram a moldar esta fase da cena roqueira cuiabana – com forte associação ao lema punk do it yourself (faça você mesmo). Este espírito inventivo se manteve nos anos 1990 à medida que bandas surgiam e, na mesma proporção, separavam-se. Era amplo o raio sonoro do rock cuiabano nesse período: do pop rock com traços locais da Pacu Atômico ao death metal da Extremunção, do punk rock da Joãozinho & Maria ao crossover da banda Dross.
A partir dos anos 2000 surgem muitas bandas de heavy metal, como Gorempire, Necrosodommy, Hellzen, Malignant Excremental e tantas outras. E este gênero ganha força com a inauguração do Cavernas Bar, um lugar unânime entre os roqueiros da cidade e que ajudou a inserir Cuiabá na rota de shows underground nacionais e internacionais. Trata-se de um espaço agregador que reafirma a existência de uma cena musical que, apesar do real, resiste para além da memória dos músicos que a compõe.
SERVIÇO
O quê: Lançamento do documentário Ser Underground: A história do rock cuiabano (2021, 74 min), dirigido por Joe Fagundes e i. bê. Gomes
Quando: 11 de dezembro de 2021
Onde: Cinema do Sesc Arsenal
Entrada gratuita