sexta-feira,22 novembro, 2024

Sem volta atrás: como os CEOs têm adotado a inteligência artificial

IBM Institute for Business Value e a Oxford Economics entrevistaram três mil CEOs de mais de 30 países e 24 indústrias para um relatório lançado esta semana, sobre como as organizações têm lidado com os desafios e as vantagens trazidos pelas aplicações de inteligência artificial. O estudo traz resultados interessantes, sobretudo porque abrange o período imediatamente posterior ao boom das IAs generativas.

Como em muitas empresas no Brasil, a pesquisa mostra que a adoção de IA muitas vezes parte dos funcionários que, com ou sem autorização para tanto, decidem automatizar parte de suas funções. É a partir dessas iniciativas que muitos executivos descobrem na prática como incorporar a IA em suas organizações e retiram insights para projetos mais estruturados.

Quando perguntados sobre a adoção de IA generativa, esse cenário fez com que 43% dos CEOs já tenham reduzido vagas de trabalho e 28% pensem em fazê-lo nos próximos 12 meses. Ou seja, nesse processo de descoberta, iniciado pela própria força de trabalho, fica claro que alguns postos podem ser substituídos. Ao mesmo tempo, outros postos são abertos. 46% dos CEOs declaram ter aberto novas vagas de trabalho e 26% acreditam que o farão nos próximos 12 meses. O estudo ressalta a tendência histórica de que novas tecnologias tornam algumas funções obsoletas, enquanto outras tornam-se necessárias.

Isso significa que as organizações já demandam um preparo específico de suas equipes para lidar com as aplicações de inteligência artificial, abrangendo desde expertise técnica no desenvolvimento de produtos e cibersegurança, até habilidades humanas como a escuta ativa, a empatia e a comunicação não violenta no trabalho em equipe, que não raro, é multidisciplinar. Essa necessidade não é vista com otimismo pelos executivos sob a gestão dos CEOs. Apenas 29% deles acredita que suas equipes internas possuem a expertise necessária para adotar IA generativa.

A preocupação tem razão de ser. Os desafios trazidos pela IA, especialmente a IA generativa, não são poucos. 61% dos CEOs relatam preocupação com a origem das bases de dados utilizadas pelas IAs, o que provavelmente está relacionado a saber se a utilização dos dados é lícita e se os dados têm qualidade, ou seja, são verdadeiros, atualizados e precisos. Dados são a matéria-prima da inteligência artificial e em regra, as aplicações de IA sempre necessitaram de uma quantidade massiva de dados para o treinamento de seus algoritmos. Comparativamente, o funcionamento das IAs generativas exige uma quantidade menor de dados para seu treinamento. Contudo, a questão da qualidade dos dados imputados permanece.

57% levantam questões sobre a segurança dos dados, que deve abranger tanto a segurança dos dados das organizações, incluindo a confidencialidade necessária aos negócios, quanto a proteção dos dados pessoais. Aliás, cibersegurança e proteção de dados entram, neste ano, nas prioridades de 43% dos CEOs. As organizações têm enfrentado anos cada vez mais difíceis desde a pandemia em 2020, com um aumento notável dos incidentes de segurança e dos prejuízos decorrentes. Os CEOs de organizações globais apontam também as dificuldades em lidar com diferentes padrões técnicos e regulatórios. O relatório, muito acertadamente, aponta que novas tecnologias como as IAs generativas e a computação quântica apenas tornam o cenário mais complexo e desafiador.

Bradesco usa ChatGPT na análise de documentos oficiais

Além disso, 53% mencionam as limitações das regulamentações. Embora a inteligência artificial ainda não tenha regulamentação própria na maioria dos países, incluindo o Brasil, que está em plena discussão sobre seu Marco Legal da Inteligência Artificial, existem muitas normas dispersas que impactam o tema, especialmente na seara do consumidor, do trabalho, da proteção de dados e da não discriminação. São áreas sensíveis para todas as organizações, pois podem trazer danos relevantes em termos financeiros e reputacionais.

Apesar dos desafios, os CEOs veem a adoção de inteligência artificial como um passo adiante em sua transformação digital. Um passo estratégico, sem volta, e que se traduzirá em vantagem competitiva. Por isso, 43% deles declaram que suas organizações já estão utilizando IA generativa em decisões estratégicas, 36% em suas decisões operacionais e 50% a estão integrando em seus produtos e serviços. O Relatório é um retrato dos primeiros meses de utilização massiva das IAs generativas nas organizações. Vale acompanhar os desdobramentos em termos de vantagens competitivas, impactos sociais, financeiros e regulatórios.

Nuria López é sócia da Daniel Advogados.

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