Pedro Luiz Côrtes afirma que políticas governamentais poderiam ter sido tomadas para evitar algumas das consequências da seca
Com a recente seca que vem atingindo a Amazônia, especialistas avaliam que a região poderá viver a pior situação em toda a sua história — fator que pode se estender para o ano de 2024, segundo previsão do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).
Pedro Luiz Côrtes, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, explica que a ação do fenômeno El Niño, ao mesmo tempo em que provoca a redução significativa de chuvas no Norte e no Nordeste, gera o aumento de chuvas na região Sul. Assim, até o momento ele se encontra dentro dos parâmetros normais, embora esteja evoluindo possivelmente para aquilo que é chamado de “Super El Niño”, já observado entre 2015 e 2016.
Causas
“O que tem chamado a atenção é que, mesmo antes de uma possível ocorrência de um Super El Niño, nós já estamos presenciando eventos extremos”, comenta o professor. Assim, quando há chuva, ela apresenta-se de forma muito forte e, quando há seca, ela demonstra-se de forma muito intensa. Ou seja, os fenômenos naturais continuam ocorrendo e as suas consequências estão sendo observadas de uma forma muito mais intensa que o usual.
Ainda neste século, a Amazônia também passou por alguns períodos de estiagem, em 2005, 2010 e 2015, que foram os responsáveis por períodos de seca extrema na região. Atualmente, o País se encontra em um período que é tradicionalmente mais seco, em decorrência do fenômeno, mas também do aquecimento intenso do oceano Atlântico. “Os oceanos estão mais quentes que o normal e isso muda a dinâmica dos ventos, fazendo com que ocorram esses extremos em relação aos eventos climáticos”, adiciona.
De uma maneira simplificada, com o acúmulo de gases de efeito estufa na atmosfera, o “cobertor” que protege o planeta — que é a atmosfera — fica mais denso. Assim, a energia que nós recebemos do sol é retida de uma forma maior, fator que confere mais energia para o sistema climático e faz com que os eventos aconteçam com uma intensidade muito maior.
Ações governamentais
O professor avalia ainda que as consequências que estão sendo observadas mostram uma falta de preparo e antecipação dos governos estaduais, municipais e federais, já que essa previsão já estava disponível há alguns meses. A esfera governamental poderia, portanto, ter se preparado com o fornecimento de subsídios ou montando uma estrutura de suporte para que a população não sofresse tanto.
No caso da Amazônia, por exemplo, a falta de rodovias afeta diretamente a vida dos indivíduos, que dependem dos rios para a navegação pela região — característica que impede o recebimento de água, alimentos, medicamentos etc. Assim, o fenômeno apresenta implicações econômicas, sociais e ecossistêmicas, uma vez que a mortandade dos botos é apenas um sinal de um problema muito maior.
O professor também adiciona que a redução da estiagem, com um retorno de chuvas não muito intensas, está prevista apenas para janeiro. Com isso, a seca nessa região só conseguiria ser solucionada no primeiro semestre do ano que vem, juntamente com a possibilidade de que o problema que está sendo observado na região amazônica se estenda para a região central do País, característica que pode afetar a disponibilidade de água e a produção de energia elétrica.
Texto: Redação, do Jornal da USP