Marcado por grandes festas, as duas mais aguardadas para encerrar o ano em dezembro são o Natal e chegada do Ano Novo e suas possibilidades. Em todos esses momentos, os alimentos ajudam a transformar os encontros de famílias e amigos, e que sempre são preparados de um modo especial. Mas, até chegar a esse momento há um longo caminho percorrido que começa nas propriedades rurais para a produção das guloseimas.
Na verdade, começa mais para trás no tempo, com os programas de melhoramento genético, novas formas de manejo, tecnologias inovadoras com as de precisão e IA, por exemplo, além da eterna batalha contra pragas e doenças para ter alimentos sãos e saudáveis.
Não por acaso, a imagem de fartura e variedade é uma tradição para retratar mesas bem postas e recheadas de pratos tradicionais da culinária festiva. Por trás da cena, os principais atores são os produtores rurais, que produzem para o mercado interno e também para as ceias de outros países. E, claro, o Brasil também importa alimentos que são produzidos lá fora para esse período. Segundo a plataforma Agrostat, que compila dados de importação e exportação, o Brasil investiu R$ 1 bilhão para trazer alguns dos principais componentes das ceias, como lentilha, ameixas e outros. Mas também exportou bastante, como as carnes.
O peru é a ave símbolo das ceias de final de ano. A carne branca e magra é rica em proteína e pobre em gordura, com sabor marcante e diverso do frango. O Brasil é o terceiro maior produtor global, depois de EUA e União Europeia. Criado em sistema integrado agroindústria-produtor, os machos alcançam 25 kg em 22 semanas de idade e as fêmeas 15 kg com 20 semanas. Paras as ceias, os animais são abatidos antes, ao redor de 10 semanas. Os perus são criados em maior volume no Sul do país, mas na última década as granjas cresceram no Centro-Oeste.
Frango
O frango, uma proteína barata, se presta a preparações que o colocam com requinte nas ceias. Em geral marinado e assado, com temperos que valorizam a suavidade do sabor de sua carne. O Brasil é um grande produtor de frango e, segundo a ABPA, deve fechar o ano de 2022 com 14,5 milhões de toneladas de carne produzidas.
Com o consumo per capita de 45,56 quilos por habitante, 67,83% da produção fica no mercado interno. A maior parte do que é exportado vai para a Ásia, com a China como principal destino. Neste ano, até novembro, o Brasil exportou 4,4 milhões de toneladas, por US$ já foram embarcadas 494.120 toneladas por US$ 8,9 bilhões, um crescimento de quase 30% em relação a 2021.
Suíno
Os símbolos da carne suína nas festas são o lombo e o pernil, principalmente nas festas do Ano Novo. Reza a lenda que não se deve comer carne de animais que ciscam para trás, enquanto o porco, em seu comportamento natural, enfia seu focinho para frente.
O Brasil é um grande produtor de suínos, em estados como Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, mas também com forte presença em Minas Gerais e em estados do Centro-Oeste. O país é um grande produtor para o seu mercado interno e para exportação, principalmente aos países asiáticos. Segundo a ABPA, a produção brasileira dessa proteína deve encerrar o ano de 2022 com até 5 milhões de toneladas produzidas, superando em 6,5% o total produzido em 2021. Deste total, 3,9 milhões de toneladas deverão ser destinadas ao mercado interno. Entre janeiro e novembro, o país exportou 1 milhão de toneladas, por US$ 2,3 bilhões.
Castanhas
Castanhas são indispensáveis nas comemorações, seja como entradinhas ou no pós ceia. Castanha do Pará, castanha de caju, noz pecã, baru, macadâmia são algumas das opções produzidas no Brasil. Segundo o levantamento mais recente do Conselho Internacional de Nozes e Frutas Secas, o país produz cerca de 32,5 mil toneladas dessas nozes e castanhas.
Mas há, também, castanhas que o Brasil importa para completar as opções. Segundo a plataforma Agrostat, entre janeiro e novembro deste ano, o país importou 29,3 milhões de toneladas de nozes e demais castanhas por US$ 105,2 milhões (R$ 554,4 milhões), incluindo avelãs e nozes mariposas, entre outras.
Espumante
Com o papel de ser o principal item na hora dos brindes, o espumante só existe graças à forte produção de uvas já estabelecida no Brasil. Segundo dados recentes da Uvibra (União Brasileira de Vitivinicultura), que ainda não divulgou o balanço de 2022, cerca de 30 milhões de litros de espumantes brasileiros foram comercializados no país em 2021. A estimativa da auditoria Ideal Consult é de que neste ano haja um aumento de 18%. As exportações atingiram 935 mil litros no mesmo período, com Estados Unidos como principal destino, responsável por 72,5% do total vendido.
Arroz
Uma porção de arroz não pode faltar em um prato completo nessas ocasiões especiais. O Brasil possui uma área estimada de 1,5 milhão de hectares dedicada ao cereal e sua produção está prevista em 10,4 milhões de toneladas, segundo dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).
O arroz agulhinha é o principal consumido pelo brasilerio, representando cerca de 80% do mercado, mas o país também produz em menor escala variedades como o arroz negro e o arroz arbóreo, muito utilizado para o preparo de pratos como o risoto. Mas o mais tradicional, amado e odiado, é o arroz com passas ou com outras frutas secas.
Lentilha
Uma das tradições das festas, principalmente na passagem do ano, é o preparo da lentilha, prato popularmente conhecido por ‘trazer sorte’ para quem o consome. A tradição veio com os imigrantes italianos.
Curiosamente, apesar da tradição, o Brasil não é um produtor da leguminosa. Neste ano, o país já importou 16,2 mil toneladas de lentilha, avaliadas em US$ 18,9 milhões (R$ 99,6 milhões). O maior produtor de lentilha do mundo é o Canadá, responsável por cerca de 38% do cultivo global, de acordo com a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura).
Grão-de-bico
O grão-de-bico também está na lista das tradições das ceias. Assim como a lentilha, seu consumo pode atrair prosperidade e sorte. Ele entra como ingrediente da salada e no arroz. Este grão de origem asiática é pouco produzido em campos brasileiros e precisa ser importado de países como Argentina e do México.
Em 2022, segundo o AgroStat, o Brasil importou 9,5 mil toneladas pelo valor de US$ 8,6 milhões (R$ 45,3 milhões). Mas esse quadro está mudando. Em áreas do Centro-Oeste, principalmente Mato Grosso e Goiás, em regiões nas quais o milho não se adapta como segunda safra, o grão-de-bico vem se mostrando uma possibilidade. Embora ele seja de clima frio, o Brasil está tropicalizando o grão. A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) estima uma área cultivada total de cerca de 12 mil hectares, a maior parte no Rio Grande do Sul.
Frutas natalinas
A época de Natal também é marcada pelo consumo de frutas diferenciadas, como damasco, ameixa, cerejas e lichias. As três primeiras dessas frutas não são produzidas amplamente no Brasil, sendo importada a maior parte do que é consumido. Para 2022, o Brasil importou 2,7 mil toneladas de damasco, 7,5 mil toneladas de ameixas e 4,6 mil toneladas de cerejas — tudo isso por um valor total de US$ 58,9 milhões (R$ 310,4 milhões).
Já a lichia é produzida em pequena escala, a um ponto em que não há empresas no país processando a fruta ou estimativas de produção. A produtividade normal da lichieira varia entre 30 a 45 quilos por planta. Já para as uvas de mesa, o Brasil possui uma grande variedade ao consumidor, como a niágara, a mais tradicinal, além de núbia, vitória e isabel. Há no país um grande esforço da Embrapa em pesquisar e desenvolver variedades de mesa, um mercado crescente, assim como ocorre para as uvas destinadas à produção de espumantes e vinhos.
Farinhas
As farinhas entram como complemento aos pratos, nas farofas, caldos e molhos. Uma das principais é a produzida a partir do milho, cultura amplamente plantada no Brasil. Segundo a Conab, na safra 2022/23, a área plantada do cereal no país é de 22,3 milhões de hectares, com a produção chegando a cerca de 125,8 milhões de toneladas.
Já para a mandioca, a produção estimada da raíz neste ano é de 18,03 milhões de toneladas, colhidas em uma área de 1,24 milhão de hectares. O país é o quarto maior produtor global, principalmente para a destinação de adoçantes e amidos. Originária da América do Sul, a mandioca constitui um dos principais alimentos energéticos para cerca de 700 milhões de pessoas, principalmente nos países em desenvolvimento.
Por Erich Mafra