Uma equipe de cientistas da Nasa especializados em foguetes está desenvolvendo robôs subaquáticos autônomos capazes de ir aonde os humanos não podem, nas profundezas abaixo das gigantescas plataformas de gelo da Antártica. A tarefa dos robôs é entender melhor o quão rapidamente o gelo está derretendo — e quão rapidamente isso pode causar uma catastrófica elevação do nível do mar.

Em março, cientistas do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa colocaram um robô cilíndrico nas águas geladas do Mar de Beaufort, ao norte do estado norte-americano do Alasca, para coletar dados a uma profundidade de 30 metros. Foi o primeiro passo do projeto “IceNode”.

O objetivo final é lançar uma frota desses robôs na Antártica, que se prenderão ao gelo e capturarão dados por longos períodos em um dos lugares mais inacessíveis da Terra.

Há uma necessidade urgente de entender melhor este continente remoto e isolado; o que acontece aqui tem implicações globais.

Uma série de pesquisas recentes sugere que o gelo da Antártica pode estar derretendo de maneiras alarmantes e inéditas, o que significa que a previsão de elevação do nível do mar pode estar subestimada. Se toda a camada de gelo da Antártica derretesse, isso causaria uma elevação do nível do mar em cerca de 60 metros — o que seria uma catástrofe completa para as comunidades costeiras.

Os cientistas estão particularmente interessados em entender o que está acontecendo com as plataformas de gelo da Antártica, enormes blocos de gelo flutuantes que se estendem para o oceano e são uma defesa importante contra a elevação do nível do mar, atuando como uma rolha para segurar as geleiras em terra.

A “linha de aterramento” — o ponto em que a geleira se ergue do leito marinho e se torna uma plataforma de gelo — é onde o derretimento mais rápido pode estar ocorrendo, à medida que a água do oceano quente corrói o gelo por baixo.

Mas obter uma visão detalhada da linha de aterramento na perigosa paisagem da Antártica tem sido excepcionalmente difícil.

“Temos ponderado sobre como superar esses desafios tecnológicos e logísticos há anos, e achamos que encontramos uma solução”, disse Ian Fenty, cientista climático do JPL e líder científico do projeto IceNode.

O plano da Nasa é liberar na água cerca de 10 robôs IceNode, cada um com cerca de 2,4 metros de comprimento e 25 centímetros de diâmetro, por meio de um buraco no gelo ou de um navio na costa. Eles não têm propulsão, mas serão levados pelas correntes oceânicas, dirigidos por um software especial, até seu destino na Antártica, onde ativarão seu “trem de pouso” — três pernas que se estendem e se prendem ao gelo.

Uma vez posicionados, seus sensores monitorarão a rapidez com que a água do oceano, mais quente e salgada, está derretendo o gelo, bem como a velocidade com que a água fria do derretimento está afundando.

A frota pode operar por até um ano, capturando dados ao longo das estações, disse a Nasa.

Depois de concluírem o monitoramento, os robôs se desprenderão do gelo, flutuarão até a superfície do oceano e transmitirão os dados por satélite. Esses dados podem então ser alimentados em modelos computacionais para melhorar a precisão das projeções de elevação do nível do mar.

“Esses robôs são uma plataforma para levar instrumentos científicos aos locais mais difíceis de alcançar na Terra”, disse Paul Glick, engenheiro mecânico de robótica do JPL e investigador principal do IceNode.

A equipe está atualmente focada em desenvolver as capacidades técnicas dos robôs e há mais testes planejados. Atualmente, não há um cronograma exato para quando eles serão implantados na Antártica, disse Glick à CNN, “mas idealmente gostaríamos que fosse o mais rápido possível”.

Robôs já foram usados para explorar sob o gelo da Antártica antes. Um projeto de pesquisa recente utilizou um robô em forma de torpedo chamado Icefin, um veículo operado remotamente que registrou informações sobre calor do oceano, salinidade e correntes.

Mas, enquanto o Icefin incluía um sistema de propulsão e permanecia ligado a um cabo, através do qual era controlado e podia enviar dados de volta, os IceNodes serão totalmente autônomos.

Ambos os sistemas se complementam, disse Rob Larter, geofísico marinho do British Antarctic Survey, que participou do projeto de pesquisa usando o Icefin.

Enquanto o Icefin pode liberar dados em tempo real, as implantações são limitadas pelo tempo que um buraco pode ser mantido aberto antes de congelar, geralmente uma questão de dias. Os IceNodes poderão coletar dados por períodos muito mais longos, mas não os transmitirão até que sua missão termine.

O uso de ambas as máquinas é desafiador e envolve um risco substancial para equipamentos sofisticados, disse Larter à CNN, “mas essas abordagens inovadoras e a tomada de riscos são necessárias para descobrir mais sobre o mundo crítico e oculto sob as plataformas de gelo.”

Laura Paddison, da CNN