Assistente pessoal, editora de fotos, tradutora e analista de mercado. A inteligência artificial desenvolveu diferentes habilidades ao longo do tempo e pode ganhar mais uma função em janeiro de 2025: se tornar vereadora.
O caso inédito é promovido por Pedro Markun, de 38 anos, ou “Pedro da IA”, candidato a vereador de São Paulo pela Rede Sustentabilidade. O ativista digital lançou uma candidatura híbrida entre humano — ele mesmo — e uma inteligência artificial, chamada Lex.
Com a propagação das fake news nas redes sociais, o cientista da computação decidiu remar contra a maré. Contratou uma equipe de técnicos e treinou a Lex para atuar como um robô legislador desde o ano passado.
Apesar da pluralidade do banco de dados, Markun afirma que Lex tem um viés voltado a evidências, não a ideologias. O que ela responde é baseado em um crivo humano.
“Eu decidi que eu não ia dar para ela ler livros do Olavo de Carvalho, nem de Adolf Hitler, porque não é essa a inteligência artificial que eu quero. Ela trabalha dentro de regras e de princípios democráticos”, afirma o cofundador das iniciativas Transparência Hacker e do Ônibus Hacker.
Braço direito de Markun, a IA responde perguntas sobre a legislação brasileira, comenta sobre os políticos do país e defende as propostas do candidato, como criar plataformas abertas para os eleitores proporem novas leis e organizar fóruns digitais e presenciais sobre políticas públicas.
Pedro Markun é filho do jornalista e escritor Paulo Markun, que foi apresentador do programa Roda Viva, da TV Cultura, de 1998 a 2008. Morador de Pinheiros, o cientista da computação já tentou se tornar vereador em 2018, mas não teve sucesso.
Bloqueio pela Meta
A Lex, cujo nome foi criado propositalmente para ser confundido com Alexa, da assistente da Amazon, funcionava por meio do WhatsApp desde julho deste ano. Eleitores podiam enviar perguntas sobre política por escrito ou por áudio em português para ela responder com resumos, ideias e sugestões.
No dia 11 de setembro, no entanto, a inteligência artificial foi bloqueada pela Meta, conglomerado de mídias sociais de Mark Zuckerberg, dono do WhatsApp. “Dentro do jogo democrático das eleições, as empresas não podem me tirar a possibilidade de falar com os eleitores”, reclama o candidato.
Em resposta ao bloqueio, o desenvolvedor lançou a campanha “Lex Livre”, para pressionar a Meta a desbloquear a “vereadora virtual”. A equipe do candidato também está desenvolvendo um sistema para a IA voltar a funcionar pelo Telegram, plataforma de mensagens russa.
Em nota, a Meta afirmou que o sistema foi banido por ferir a política do aplicativo, que “explicitamente proíbe o uso do WhatsApp Business por políticos ou partidos, candidatos e campanhas políticas”.
Por Patrícia Basilio