Com dados dos Estados Unidos e da Europa Central, pesquisa alerta para riscos relacionados a qualidade da água, saúde dos ecossistemas e vida aquática
Nos próximos 70 anos, sistemas fluviais poderão passar por períodos de níveis de oxigênio tão baixos a ponto de induzir o desaparecimento de certas espécies de peixes e ameaçar a biodiversidade aquática, especialmente no sul dos Estados Unidos. É o que revela um artigo publicado no último dia 14 de setembro na revista Nature Climate Change.
O estudo reconstruiu dados historicamente escassos sobre a qualidade da água de quase 800 rios dos Estados Unidos e da Europa Central por meio do uso de inteligência artificial e do desenvolvimento de um modelo de aprendizagem profunda (deep learning).
O aquecimento foi observado em 87% dos rios estudados, e a perda de oxigênio, em 70%. “A perda de oxigênio nos rios é inesperada, porque normalmente presumimos que os rios não perdem oxigênio tanto quanto os grandes corpos d’água, como lagos e oceanos”, afirma Li Li, professora de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Estadual da Pensilvânia (Penn State), em nota.
A pesquisadora acrescenta que áreas costeiras, como o Golfo do México, já costumam apresentar “zonas mortas” no verão, mas o novo artigo mostra que isso também pode acontecer em sistemas fluviais.
Para a análise, um modelo de computador foi treinado em uma gama de dados, como taxas de precipitação anual, tipo de solo e luz solar referentes a 580 rios nos Estados Unidos e 216 rios na Europa Central.
Apesar de serem medidas essenciais para a vida dos organismos aquáticos, a temperatura e o nível de oxigênio são difíceis de quantificar devido à falta de dados consistentes em diferentes rios, além das variáveis que podem alterar os níveis do elemnto em cada bacia hidrográfica, afirma Wei Zhi, professor assistente de pesquisa do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Penn State.
O modelo criado pelos pesquisadores permitiu prever taxas futuras de desoxigenação, que se mostraram entre 1,6 e 2,5 vezes maiores do que as taxas históricas. Ao passo que rios urbanos apresentaram o aquecimento mais rápido, os agrícolas demonstraram um ritmo de elevação de temperatura mais lento, mas desoxigenação mais rápida.
A investigação também revela que os rios estão aquecendo e perdendo oxigênio de modo mais acelerado que os oceanos, o que apresenta impactos não somente na vida marinha, como também na em humanos.
A Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (NOAA) estima que a maioria dos estadunidenses vive a menos de um quilômetro de rios ou riachos; além disso, a perda de oxigênio impulsiona a emissão de gases do efeito estufa e leva à liberação de metais tóxicos no ambiente.
Li destaca que os rios têm sido negligenciados enquanto mecanismos para entender as mudanças climáticas, e esse é o primeiro estudo dedicado à análise abrangente da temperatura e oxigenação desse sistema.
Texto: Redação, da Galileu