Os três últimos anos foram muito desafiadores para o setor de inovação, devido a fatores como pandemia, crise econômica, inflação e instabilidades geopolíticas. Após um pico em 2021, os anos de 2022 e 2023 foram representados por diminuição do volume de investimentos em startups, associado à desaceleração na abertura de novas empresas, o que é normal depois de recordes de aportes anteriores.
O aumento dos juros afetou diretamente o valor de mercado das empresas nascentes e a alta da inflação fez muitos investimentos migrarem para modelos mais seguros. Parte da justificativa é que, se a inflação aumenta, os custos com matérias-primas, insumos e salários sobem, reduzindo a margem de lucro da empresa e o consumo pelo mercado. Com as startups, esse movimento é ainda mais arriscado, já que a companhia se encontra em processo de validação e com alto gasto para escalada do produto. As demissões em massa vistas em todo o mundo foram uma tentativa de adequação a esse cenário. Além disso, acrescenta-se o fato das startups terem trabalhado com valuations hiperestimados, com múltipos de 7 a 10 vezes, o que não condiz com a realidade e receita da empresa.
Por outro lado, diante da crescente evolução da IA generativa, o mercado redirecionou seu entusiasmo em direção às soluções tecnológicas. No início de 2023, a Microsoft investiu US$ 10 bilhões na OpenAI e uma rodada de US$ 6,5 bilhões foi feita para a Stripe por um conjunto de fundos. Ambas as empresas triplicaram seu valor de mercado ainda naquele ano. A ação gerou otimismo e os maiores fundos do mundo reportaram aumento de investimento em soluções de IA e machine learning.
Em comparação a 2022, o ano de 2023 foi realmente marcado por uma desaceleração, mas com certa preparação para a retomada do volume de dinheiro aportado em startups em 2024, principalmente nas early stage. As fintechs, retailtechs, healthtechs e edtechs são as que mais devem se beneficiar do otimismo causado pela IA generativa. As big techs como Microsoft, Amazon, Apple e Alphabet Inc., dona do Google, contribuem positivamente para o aquecimento do setor, com investimentos multibilionários em uma nova corrida pela IA.
O lançamento da Gemini, IA do Google, levanta as expectativas do mercado, que vê com bons olhos o uso da tecnologia na educação, saúde, segurança e análise de dados em todos os segmentos.
Olhando para o cenário brasileiro, o Brasil já é o país com mais startups ativas da América Latina, ocupando posição de destaque internacional. Apesar da queda no número de novas organizações, o volume aumenta a cada ano, chegando ao número recorde de quase 13 mil. Isso demonstra que as empresas nascentes estão cada vez mais preparadas para o novo mercado, escalando de forma mais rápida. Fato que ainda reflete na diminuição do tempo que uma companhia precisa para atingir o valor de mercado de US$ 1 bilhão e ser considerada um unicórnio.
Por Rafael Kenji