A menos de um dia para o fim da reunião mais importante de combate à emergência climática no mundo, aumentam as dúvidas sobre nível de ambições do documento que deverá orientar países a agirem
Estamos a menos de 24 horas do prazo estipulado para terminar a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas COP28, maior e mais importante reunião da ONU para traçar soluções conjuntas de combate à emergência climática mundial. Historicamente, o encontro tende a se estender um pouco, mas desde o início das tratativas em Dubai, nos Emirados Unidos, no dia 30 de novembro, o sultão Al Jaber, o polêmico presidente da COP, tem urgido os negociadores e diplomatas a acelerarem o desfecho.
O clima de expectativas na Expo City Dubai, espaço futurístico que sedia o evento, se intensificou ao longo dos últimos dias após o vazamento de uma carta redigida pela OPEP, bloco dos maiores produtores de petróleo do mundo (incluindo gigantes do óleo como Arábia Saudita e os próprios emiradenses) instando seus membros a trabalharem para evitar que o documento final da COP traga qualquer menção à “eliminação” dos combustíveis fósseis, necessidade urgente respaldada pela Ciência para evitar o agravamento do aquecimento planetário.
Ao final da COP é esperado um contundente texto político que mostrará ao mundo o acordo comum ao qual mais de 170 países reunidos aqui chegaram em torno das medidas que precisam ser tomadas para frear a alta do termômetro na Terra, desenhar planos de adaptação e garantir financiamento adequado para a transição ecológica e compensação de danos às nações mais vulneráveis. Um dos pontos altos é a divulgação do Global Sotcktake (GST), balanço do que as partes já fizeram desde a assinatura do Acordo de Paris, em 2015, e o que ainda precisam fazer para alinhar suas metas e ações climáticas.
Dado o tempo que se esvai e os pontos ainda em aberto e divergentes nas negociações, o presidente da COP convocou, no domingo, as chamadas “majlis”, uma formato de reunião na cultura árabe onde os participantes — neste caso, os ministros — se sentam em círculos para conversar na tentativa de deixar divergências de lado. Houve alguns sinais positivos, como a divulgação de um novo projeto de acordo para os objetivos de adaptação global, que determinará como os países pobres se prepararão para extremos climáticos.
Outros ainda precisam avançar: o documento que balizará o GST, por exemplo, possui mais de 200 parágrafos, sendo um quarto deles com opções em aberto para que os ministros decidam quais seguirão para o texto final. “Os negociadores têm a oportunidade, aqui em Dubai, durante as próximas 24 horas, de iniciar um novo capítulo, um que realmente traga resultados para as pessoas e para o Planeta”, disse o secretário-geral da convenção da ONU sobre alterações climáticas (UNFCCC), Simon Stiell, à imprensa nesta segunda-feira.
Sem delongas (“Não temos um minuto a perder nesta reta final crucial e nenhum de nós dormiu muito”), o chefe da ONU para o clima ressaltou que a maior ambição climática significa mais empregos, economias mais fortes, crescimento econômico mais pujante, menos poluição, mais saúde, resiliência e proteção às pessoas em todos os países dos ‘lobos’ climáticos que estão à porta. Desde o anúncio de que a COP28 ocorreria num petroestado, houve grande o temor de que o lobby da indústria fóssil atravancasse as negociações.
“A realidade é que os resultados mais ambiciosos são a única forma de todos os governos saírem do Dubai com uma vitória. E uma coisa é certa: ‘Eu ganho – você perde’ é uma receita para o fracasso coletivo. Em última análise, é a segurança de 8 bilhões de pessoas que está em jogo”, afirmou Stiell, acrescentando que as orientações científicas formam a espinha dorsal do Acordo de Paris, especialmente quando se trata das metas de temperatura mundial e do limite planetário de 1,5 grau Celsius. “Esse centro deve resistir”, cravou.
Texto: Vanessa Oliveira, de Dubai, para Um Só Planeta