Cuidados como estudo, planejamento e dedicação podem ajudar aspirantes a empreendedores nessa transição
Uma parcela de 67% da população adulta do Brasil está envolvida com empreendedorismo, segundo a pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2022. Desses, cerca de 45% já têm um negócio e quase 55% ainda são potenciais empreendedores — aqueles que pretendem começar a montar a própria empresa nos próximos três anos. Mas como essa parcela da população pode deixar um emprego formal e criar um empreendimento de forma tranquila? Planejamento financeiro, estudo do segmento e dedicação são alguns dos elementos que ajudam nessa transição.
PEGN conversou com especialistas e listou as principais dicas para ter sucesso ao migrar para o empreendedorismo. Confira:
Adquira conhecimento
O desejo de ter maior liberdade profissional, construir riqueza e fazer a diferença no mundo são alguns dos fatores que podem levar uma pessoa a decidir empreender. Mas, antes de deixar de lado a estabilidade de um emprego e virar o seu próprio chefe, é importante entender com o que se gostaria de trabalhar e obter os conhecimentos necessários.
“No começo, pode ser que muitas possibilidades se apresentem. Fazer uma seleção considerando o perfil necessário e o nível de familiaridade com o negócio a ser criado é essencial”, opina Cintia Martins, consultora de negócios do Sebrae-SP. Ela também indica a importância de pesquisar o mercado a fim de entender como ele se comporta e se existe espaço para se destacar.
Para entender melhor o segmento e garantir que conseguirá atuar na área, é possível começar a se dedicar ao tema enquanto ainda está empregado. Graziella Maria Comini, professora do Departamento de Administração da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da Universidade de São Paulo (FEA-USP), sugere a participação em eventos, a avaliação de tendências e o contato com empreendedores do setor.
“Conversar com pessoas é muito relevante nessa etapa e, quando a pessoa desconhece totalmente uma área, pode pensar na possibilidade de encontrar um sócio que domine o assunto”, diz a professora.
Planejamento
Com o conhecimento da área do negócio adquirido, é o momento de começar a colocar as ideias no papel. Um bom caminho é pensar em algumas perguntas sobre como o empreendimento vai funcionar. Martins sugere algumas questões:
- Terei um ponto físico?
- Minha estratégia será online?
- Quem serão meus clientes?
- Qual será minha entrega de valor?
- Como meu produto ou serviço chegará ao cliente?
- Qual será a minha estrutura de custos?
Criar metas, ações e prazos também ajuda na execução e gestão do tempo neste momento. E não se esqueça de fazer o planejamento financeiro — considerado o “coração da empresa”, segundo a consultora do Sebrae. “Quando você vai empreender, deixa de lado a previsibilidade do salário mensal e passa por um período de desembolso”, pontua Comini. Segundo ela, é comum levar cerca de dois anos para começar a reverter essa curva e ver os ganhos superarem os custos.
Por meio desse plano, o empreendedor saberá quanto precisa investir, quais serão os gastos mensais e quanto precisa ter no caixa para sobreviver por um tempo mínimo de seis meses. Esse fôlego inicial será essencial durante o desenvolvimento do negócio, que nem sempre terá entrada de caixas nos primeiros meses.
Algumas etapas para esse momento são:
1. Definição dos objetivos empresariais
Entender o que quer alcançar com o empreendimento é uma maneira de se direcionar e decidir o investimento que será realizado. Nesse momento, também é essencial considerar o impacto que esse valor terá na vida pessoal. “[Estime] quanto você pode guardar sem que afete a dinâmica familiar, porque se não podem surgir muitas discussões internas que afetam a continuidade do empreendimento”, diz a professora.
2. Monitoramento contínuo
O que está no papel nem sempre ocorre como esperamos, por isso, ficar de olho se as metas estão sendo alcançadas servirá como um termômetro para decidir quando é o momento de ajustar o planejamento inicial.
“Os dados financeiros contribuem para decisões assertivas”, ressalta Martins. Para analisar se os resultados estão chegando, fique atento ao fluxo de caixa — não foque em apenas ter dinheiro sobrando, e sim em ter recursos suficientes para manter o negócio.
3. Revisão de preços
A precificação feita no início nem sempre é a ideal – e muito menos definitiva. Considere se os gastos do dia a dia, como os custos do negócio e pagamentos de fornecedores, estão sofrendo mudanças e fique de olho nos valores que estão sendo aplicados no mercado.
Colocando em prática
Para tirar o plano do papel e colocar em ação, o empreendedor precisa decidir como a empresa será formalizada. “É preciso compreender se haverá sócios ou não, realizar a abertura junto aos órgãos responsáveis e, se necessário, contratar uma contabilidade”, complementa Martins. Uma das formas mais comuns de começar é se tornando Microempreendedor Individual (MEI).
Também é preciso pensar no desenvolvimento de marcas e logos e em como o negócio será divulgado. Uma dica de Comini para facilitar essas etapas, que podem demandar gastos com a contratação de profissionais, é buscar serviços de empresas juniores — que são realizados por alunos de universidades, com o apoio de professores, e costumam ter um preço abaixo do mercado.
Nessa etapa, é preciso sempre ter em mente o planejamento financeiro e monitorar os resultados obtidos. Caso o empreendedor tenha muitas dúvidas durante o planejamento e a abertura, Comini sugere a busca por cursos gratuitos que orientem as pessoas sobre negócios e empreendedorismo.
Negócio iniciado: é possível conciliar com o emprego?
Não há uma resposta certa sobre a conciliação entre trabalho formal e empreendedorismo, mas as especialistas possuem uma visão comum: quanto mais tempo dedicado, maiores as chances de sucesso. Para a professora, ter a atenção dividida pode afetar os empreendimentos que estão em busca de investidores. “Qual é a energia que eu estou gastando para alcançar o ponto de equilíbrio entre receita e custos?”, questiona.
Ambas sugerem que, caso financeiramente não seja possível deixar o emprego desde o início, o empreendedor pode contratar alguém ou ter um sócio que poderá se dedicar integralmente.
Caso a escolha seja por conciliar os dois trabalhos, como saber o momento certo de seguir apenas com o negócio? Martins sugere que as metas iniciais sejam atingidas e que seja possível sustentar os gastos da empresa e do empreendedor. Se for o caso, também é importante envolver a família na conversa para avaliar a situação financeira do momento.
Elas ressaltam, porém, que análise deve ser feita caso a caso. “É muito importante tomar as decisões baseadas em dados e fatos, para que não haja frustração e desgastes durante o processo”, pontua Martins.
Texto: Pegn