De um lado, a venda pode representar um grande golpe ao Google, e de outro, anunciantes e rivais das buscas devem comemorar

O Departamento de Justiça dos Estados Unidos (DOJ) oficializou, na quarta-feira (20), o pedido à Alphabet, dona do Google, para vender o Chrome, o navegador mais popular do mundo na atualidade. Isso ocorre após a decisão do juiz Mehta, em agosto, de que o Google desfruta de um monopólio ilegal no mercado de buscas. O caso foi aberto durante o primeiro governo de Donald Trump. Mas quem ganha e quem perde nessa história?

Se o Google acabar tendo que vender ou desmembrar o Chrome, isso será um grande golpe para a empresa. Enquanto isso, os anunciantes e os rivais de pesquisa provavelmente vão comemorar a notícia, de acordo com especialistas do setor ouvidos pelo Business Insider.

Separar o Chrome do Google e impedir acordos de posicionamento de pesquisa padrão “colocaria a pesquisa Google em concorrência com outros caminhos para os anunciantes alcançarem clientes em potencial”, disse John Kwoka, professor de economia da Northeastern University. “Os anunciantes encontrariam concorrentes para seus negócios, em vez de precisarem pagar a um mecanismo de pesquisa dominante.”

Para Teiffyon Parry, diretor de estratégia da adtech Equativ, perder 3 bilhões de usuários mensais do Chrome seria “um golpe e tanto” para o Google. “O Chrome serviu excepcionalmente bem ao Google, mas sua perda seria um inconveniente administrável”, disse.

Mesmo com a venda do Chrome, o Google tem muitas outras maneiras de alcançar os usuários e coletar dados, incluindo o Gmail, o YouTube, uma série de dispositivos físicos e a Play Store. A empresa também tem um aplicativo autônomo que funciona como um navegador da Web e tem o potencial de substituir efetivamente o Chrome.

Implicações para a web

Lukasz Olejnik, um consultor independente de segurança cibernética e privacidade, tem preocupações a respeito do que pode acontecer com a web em geral se o Chrome for vendido. “O Chrome está adotando inovações na web com muita rapidez”, disse ele, dando como exemplo de inovação do Google nos recursos de segurança do Chrome.

Sem o suporte financeiro do Google, o Chrome pode ter dificuldades por conta própria, e é possível que o progresso na web diminua, enfraquecendo o ecossistema, explicou ele. “O pior cenário é a deterioração da segurança e da privacidade de bilhões de usuários e o aumento do crime cibernético em níveis inimagináveis”, alertou.

O Chrome sobreviveria sozinho?

Uma das maiores dúvidas é como um spin-off do Chrome poderia funcionar. Uma análise da Bloomberg avaliou o Chrome em US$ 15 bilhões a US$ 20 bilhões se ele fosse vendido ou desmembrado. Os órgãos reguladores antitruste permitiriam que um grande rival o comprasse?

É “improvável” que a Meta tenha permissão para adquiri-lo, escreveu o blogueiro de tecnologia Ben Thompson, na quarta-feira. Isso deixaria alguém como a OpenAI como possível comprador, disse ele, acrescentando que a “distribuição que o Chrome traz certamente seria bem-vinda, e talvez o Chrome pudesse ajudar a impulsionar o inevitável negócio de publicidade da OpenAI”.

E se o Google tiver que vender o Chrome, ele também será proibido de fazer acordos de distribuição com quem comprar o navegador?

“A única maneira de [um Chrome derivado] ganhar dinheiro é por meio de um acordo de pesquisa integrada”, disse o comentarista de tecnologia John Gruber em um podcast recente.

Resposta do Google

O Google planeja recorrer de qualquer decisão, o que pode atrasar a decisão final em vários anos. Em uma declaração no início desta semana, Lee-Anne Mulholland, vice-presidente de assuntos regulatórios do Google, disse que o DOJ estava promovendo “uma agenda radical que vai muito além das questões legais neste caso”.

“O governo, ao colocar seu polegar na balança dessa forma, prejudicaria os consumidores, os desenvolvedores e a liderança tecnológica americana exatamente no momento em que ela é mais necessária”, acrescentou.

Por Fabiana Rolfini