quinta-feira,19 setembro, 2024

“Quem come cabeça de pacú jamais vai embora” jornalista fala sobre seu amor por Cuiabá  

Quem come a cabeça de pacú não vai embora nunca mais de Cuiabá”. Pelo menos é isso que diz uma das lendas mais populares entre o povo cuiabano. O Pacú é um peixe da família dos caracídeos, muito abundante no rio Cuiabá e seus afluentes. Conforme a superstição, todo forasteiro que o ingerir está destinado a permanecer na capital mato-grossense para sempre.   

O jornalista e professor Onofre Ribeiro é aquilo que os cuiabanos apelidaram de “pau rodado”, alguém vindo de fora do estado, mas que se apaixonou pela cidade e por aqui ficou. Natural de Minas Gerais, Onofre mudou-se para Brasília para estudar jornalismo na Universidade de Brasília (UNB). O jornalista conta que veio para Mato Grosso aos 32 anos, ainda no início do período de divisão do estado.   

“A UNB era uma universidade que olhava muito para o centro-oeste com um olhar de futuro e eu trabalhei na imprensa em Brasília. Na época estava começando a acontecer a divisão de Mato Grosso, o Governo do Estado recrutou alguns jornalistas para virem para cá. Poucas pessoas quiseram vir, na época havia um preconceito muito grande com o povo indígena. Eu sempre gostei de desafio, então vim para cá em 76. Eu vim para passar uma chuva, me molhei e nunca mais fui embora”, relembra com alegria.   

De acordo com ele, desde o momento que chegou fora acolhido rapidamente de braços abertos pelos cuiabanos. E isso se ampliou ainda mais quando trouxe sua família. “O meu coração está aqui. Eu já era pai de três filhos e aqui nasceu o meu mais novo, o Tiago”, expressa.   

“São os jovens que provocam as verdadeiras mudanças, eles se casavam sem olhar o RG um do outro para saber de onde tinha vindo. A partir disso, muito rapidamente se misturou tudo. Era uma cidade que, naquela época, vivia em torno do serviço público e hoje é uma cidade muito poderosa”, recorda.  

Com 50 anos de experiência, o jornalista revela que ao prestar vestibular sua primeira opção era medicina, pois era o desejo da família.” Estive muito próximo de conseguir entrar em medicina, mas fiquei muito bem classificado em jornalismo. Após a colocação eu poderia até ter feito a transferência de curso, mas optei por não fazer.  Me lembro até hoje da primeira aula que eu assisti, era da disciplina de antropologia. Quando eu ouvi toda aquela conversa tive certeza que estava no lugar certo e esqueci a medicina de vez”, conta.   

Aos 80 anos de idade, o jornalista se mostra um exímio amante da história e muito antenado às novas tecnologias. Nada nasce agora, tudo tem um porquê, diz ele. Como um bom contador de histórias, ele possui aquela “coceira” inquietante, a chamada pulga atrás da orelha. Mesmo com a carreira consolidada, um currículo admirável e sendo considerado uma grande personalidade histórica dentro do jornalismo, sua busca por conhecimento e atualizações são constantes. “Eu sou provocado o tempo inteiro a estudar cada vez mais e o meu maior provocador sou eu mesmo”, afirma.   

Atualmente Onofre apresenta o programa semanal de entrevistas chamado Perspectivas e possui um canal no YouTube onde aborda temas como política, economia, tecnologia e tendências. Além disso, o profissional também atuou durante alguns anos como professor.   

Segundo ele, o que mais o atrai na cidade é o coração caloroso das pessoas que aqui residem. Neste momento, com os cabelos grisalhos, filhos adultos e quase 47 anos de vivência em Mato Grosso, Onofre se mostra nada arrependido das decisões que tomara até então. Tanto pela escolha em seguir o caminho do jornalismo, como a escolha de se mudar para a cidade mais calorosa de todo Centro-Oeste.   

“Eu cheguei em Cuiabá em agosto de 76, era uma cidade pequenininha com menos de 100 mil habitantes. Era mesmo muito modesta, mas possuía um pessoal profundamente acolhedor. Sai de Minas muito jovem, fiquei em Brasília 16 anos. Então a minha família, a família da minha mulher e meus amigos ficaram lá. A verdade é que eu não gosto muito de Brasília, é uma cidade muito árida e eu gosto desse jeito cuiabano que se traduz naquela famosa história de comer a cabeça de pacú. Bom, o que posso dizer é que já comi muita cabeça de pacú”, brinca.  

Olhar sob o futuro   

“Olhando o tanto que o estado evoluiu economicamente e ainda irá evoluir cada vez mais, penso que é preciso pensar em Cuiabá não apenas como uma capital, mas como um grande centro cultural, econômico, político e humano do estado. A mistura dos povos deu origem a uma mistura de bolo muito interessante, nova e disruptiva. O estado ainda vai crescer muito. Segundo dados do IMEA, em 2030 Mato Grosso irá produzir cerca de 130 milhões de toneladas de milho, soja e algodão. Essa quantia é a que o Brasil produziu em 2010. Mato Grosso está caminhando para se tornar um estado ainda maior, com muita tecnologia e empreendedorismo e Cuiabá é o ponto de apoio desse universo que está crescendo. Acredito que Cuiabá será uma metrópole pequena, porém, extremamente cosmopolita e com uma qualidade fundamental que é a afetividade humana. Esse é meu olhar para o futuro de Cuiabá”, finaliza.   

Texto: Victória Oliveira

Victória Oliveira
Victória Oliveirahttp://www.360news.com.br
Victória Oliveira é jornalista e estudante de cinema integrante do time 360 News. Especialista em escrever sobre atualidades, tecnologia, cultura e entretenimento.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

LEIA MAIS

Recomendados