Especialista mostra estratégias para que propostas de alta qualidade ganhem a disputa com ideias fracas, que irão gastar muito tempo e trazer pouco retorno

O desafio de uma empresa que procura inovar de forma contínua não costuma ser a falta de ideias. A verdadeira questão, segundo Stephen Wunker, diretor administrativo da consultoria New Markets Advisors, é garantir que, entre centenas de propostas fracas que tomariam muito tempo e não levariam a lugar algum, somente as ideias certa ganhem destaque e sejam concretizadas pelos líderes.

Em artigo de sua autoria publicado no Harvard Business Review, Wunker afirma que quatro pilares da inovação ficaram evidentes durante a pesquisa para seu livro The Innovative Leader: Step-by-step lessons from top innovators for you and your organization (em uma tradução livre, O líder inovador: lições passo a passo dos principais inovadores para você e sua organização).

Ao lado dos coautores Jennifer Luo Law e Hari Nai, Wunker entrevistou 50 líderes de diversos setores, de gigantes da tecnologia como Google e Microsoft a escolas primárias. Nesse levantamento, notaram padrões de inovação bem-sucedidos se repetindo em ambientes bem diferentes, seguindo essas estratégias.

Veja a seguir quais são os pilares da inovação que aumentam as chances de cultivar as ideias certas.

1. Detecção de tendências

Para Wunker, muitas empresas só prestam atenção às tendências quando elas já atingiram seu auge e estão chegando ao fim do seu ciclo de vida.

Outras acabam optando por discutir tendências de maneira abstrata, sem as vincular a mudanças específicas nas necessidades dos clientes, nas capacidades dos fornecedores, nos desafios operacionais ou nas pressões competitivas. Isso pode levar a erros graves, já que as empresas pagam caro por ativos de que talvez não precisem

Uma empresa que fugiu dessa armadilha, diz Wunker, foi a PepsiCo, gigante multinacional de alimentos e bebidas que, de 2012 a 2018, realizou uma competição entre consumidores para buscar novos sabores para as batatas Lay’s .

A empresa não precisava realmente de novas ideias — ela já tinha muitas —, mas essa foi uma maneira de acompanhar quais sabores estavam em alta e onde. O vencedor do primeiro ano foi o sabor de pão de alho com queijo. O concurso teve as características de programas eficazes de detecção de tendências: revelou movimentos em tempo real, teve custo reduzido, foi objetivo e produziu resultados interessantes para a marca.

Patrocinar um concurso, procurar tendências em conferências de indústrias adjacentes, conversar com seus usuários mais apaixonados são exemplos do que os líderes podem fazer para entender quais tendências se encaixam com sua empresa, e quando.

2. Parcerias estratégicas

Quando o assunto é inovação, não é preciso se restringir à sua equipe ou organização. Grandes ideias podem vir de colaborações com fornecedores, clientes, universidades, startups ou empresas que usam tecnologias relevantes de uma maneira totalmente diferente, diz Wunker.

Isso significa que os líderes precisam encontrar pessoas dentro da equipe para construir relacionamentos de longo prazo, ter conversas estratégicas e buscar capacidades de parceiros que podem não ser imediatamente aparentes.

Para o diretor administrativo, é preciso colocar especialistas em parcerias tecnológicas estratégicas à procura de oportunidades. “Faça-os trabalhar em colaboração com equipes da linha de produção, que podem usar essas parcerias para concretizar a inovação”, diz ele no artigo.

3. Programas de intraempreendedorismo

“Para onde vão os funcionários com grandes ideias? Muitas vezes, eles simplesmente saem da empresa”, diz Wunker. Muitas organizações hesitam em aceitar ideias dos colaboradores porque elas não se encaixam no modelo operacional da companhia, podem consumir recursos e demorar para gerar resultados.

Para estimular o intraempreendedorismo, os líderes precisam oferecer uma maneira estruturada para que os funcionários inovadores desenvolvam seus conceitos sem se comprometerem totalmente com o projeto – antes de estarem prontos.

No Google, por exemplo, os funcionários têm a opção de competir por financiamento e pela oportunidade de trabalhar em seu conceito por seis meses, com a garantia de que terão seu antigo emprego de volta depois.

4. Comunidades de inovadores

Inovações podem acontecem nas interseções entre diferentes áreas da organização. Mas muitas empresas não proporcionam as oportunidades para que os inovadores de setores distintos se conectem de forma informal. I

“Não custa muito ofornecer às pessoas com interesses comuns em inovação um meio de se conectarem e trocarem ideias. No mínimo, isso os ajudará a se manter motivados. Na melhor das hipóteses, pode desencadear colaborações interdisciplinares que abram vetores de mudança antes invisíveis”, diz o especialista.

Ele cita como exemplo a Bayer, que criou uma comunidade interna de 700 inovadores ao redor do mundo que competem entre si e indicam representantes locais para participar de uma reunião anual. As conexões permitem discussões sobre métodos de trabalho, modelos de negócios e ideias de produtos que podem ser realizadas por meio de parcerias entre as unidades de negócios.

Por Thâmara Kaoru