Se depender das big techs, o atendimento médico, os serviços da área de saúde e a atenção ao próprio bem-estar de cada pessoa não serão mais os mesmos. Amazon, Google, Microsoft, Apple e Oracle são as grandes companhias de tecnologia que hoje disputam um mercado que pode valer cerca de US$ 11 trilhões e, com isso, trazem transformações que cada vez mais chegam à vida dos consumidores.
“É um mercado gigante, com trilhões de dólares em jogo. E as big techs de que falamos são as maiores companhias do mundo, com uma base de usuários enorme. O que elas veem aí é essencialmente um sistema fragmentado que pode se beneficiar de automação, inteligência artificial e sistemas que elas podem fornecer”, comenta o analista-chefe Alex Lennox-Miller, que estuda como tecnologias emergentes têm impactado as organizações de saúde.
A análise foi feita em um painel da CB Insights, empresa com banco de dados global que fornece inteligência de mercado sobre companhias privadas e atividades de investidores. O evento online dissecou as estratégias mais recentes das cinco big techs no mercado de saúde e como isto vem impactando no atendimento ao cliente.
No cenário, entram em cena não só a caça por oportunidades na área trilionária por parte das gigantes de tecnologia, mas também as expectativas crescentes dos consumidores e pacientes sobre como suas experiências devem ser.
Apple
Os investimentos mais visíveis da Apple na área de atendimento em saúde focam em ferramentas que ajudam os pacientes a monitorarem suas condições físicas e de bem-estar. Um exemplo recente são os avanços no projeto que propõe o monitoramento não-invasivo (sem perfuração) dos níveis de glicose de pacientes diabéticos por meio do Apple Watch.
Em desenvolvimento há doze anos, o mais novo passo do projeto busca fazer a medição com uma tecnologia de chip, por meio de um processo chamado espectroscopia de absorção óptica.
“São cerca de 40 milhões de americanos com diabetes, mas apenas em torno de 4 milhões usam monitores contínuos de glicose, então o mercado disponível é bastante óbvio para a nova ferramenta”, avalia o analista-chefe da CB Insights.
No entanto, a novidade não foi o primeiro movimento da big tech neste sentido, uma vez que diversas funcionalidades voltadas à área de saúde já foram introduzidas no Apple Watch, como monitoramento cardíaco e do sono, alertas sobre disfunções neurológicas e emergências com pais idosos e assistência a usuários que necessitam de acessibilidade.
Outro dispositivo que pode caminhar para ser um aliado a pacientes são os AirPods, fones de ouvidos da marca. A Apple tem registrado diversas patentes relacionadas a eles, como sensores biométricos capazes de medir parâmetros como frequência cardiorrespiratória e oxigenação do sangue.
Microsoft
Em contraste às ações da Apple que são sentidas diretamente pelo usuário final, a Microsoft tem focado seus esforços em aprimorar a infraestrutura que pode servir de base para uma atuação na área do atendimento médico e em saúde. Ou seja, tem assumido para si um papel auxiliar.
São exemplos sua plataforma em nuvem Azure, que tem funcionalidades voltadas a soluções clínicas e tecnológicas – ela foi adotada por 32 novas clínicas do Walmart, que promete ser um dos maiores players na atenção primária em saúde nos EUA nos próximos anos – e a Nuance, empresa adquirida pela big tech em 2021 que trabalha com inteligência artificial voltada a resultados em todos os setores, inclusive da saúde.
A Nuance e a Microsoft, por sinal, anunciaram recentemente o novo aplicativo Dragon Ambient eXperience (DAX) Express, que combinando inteligência artificial com o GPT-4, da OpenAI, fornece possibilidades para documentação clínica automatizada e integrada ao fluxo de trabalho.
Amazon
“A grande lição da Amazon nos últimos tempos é que ela percebeu que tecnologia voltada a fornecer infraestrutura para atendimento médico é difícil de construir. Por isso compraram uma”, fala o analista-chefe da CB Insights, Alex Lennox-Miller.
De fato, a aquisição pela Amazon da One Medical, cadeia de clínicas de saúde primária americana, por US$ 3,9 bilhões foi concluída este ano e marca a entrada definitiva da big tech no mercado de saúde.
Os serviços já prestados pela empresa, que englobam atendimentos presenciais e virtuais, além de exames laboratoriais, a princípio não foram alterados, mas a Amazon já chegou a afirmar que o plano é fazer uma reinvenção dos cuidados de saúde com a compra.
Dessa forma, a One Medical se une a um ecossistema bastante completo que a big tech de Jeff Bezos vem apresentando nos últimos anos, que inclui a Amazon Pharmacy, aplicativos de saúde e funcionalidades personalizadas na Alexa para assistência médica.
Embora não tenha um foco único, quando se fala em soluções tecnológicas para a área médica o Google está em todos os lugares, desde oferecendo serviços de nuvem que abrigam ferramentas a aplicativos que utilizam IA e outros funcionalidades para facilitar a vida tanto dos profissionais da saúde, como o MedPalm, quanto de próprios desenvolvedores, como o Open Health Stack.
Além disso, o Google é presença constante na vida dos consumidores e pacientes. “Assim como reservavam uma mesa para jantar, os usuários hoje procuram o Google para reservar consultas médicas, colocar agendamentos no calendário e procurar recomendações de profissionais e provedores em saúde”, explica o analista-chefe da CB Insights.
Oracle
Surpresa na lista das big techs a disputarem o mercado de “healthcare”, a Oracle pode até ser o mais novo dos grandes players do setor, mas já chegou apostando alto: com a aquisição de US$ 28 bilhões da empresa de registros médicos eletrônicos e gestão hospitalar Cerner. A maior compra da década feita pela companhia é uma tentativa de peso de fortalecer sua presença neste mercado.
Contudo, enquanto as divulgações da Oracle focam nos números positivos, como o crescimento de seu serviço de nuvem e de novos contratos, suas ações caíram na bolsa, o que mostra que o mercado ainda está um tanto quanto cético em relação à gigante de tecnologia.
“Ao que tudo indica, as outras big techs ainda estão no aguardo para ver se a Oracle vai conseguir alavancar este projeto. Temos que esperar para ver enquanto ela continua trabalhando para integrar a Cerner ao restante do seu ecossistema”, completa Alex Lennox-Miller.
Por: Carolina vieira