Primeiro produto do projeto Sbat em Cena – Contém Peças: um ciclo de peças em formato de audioteatro ´acaba de ser lançado e inclui, inicialmente, trabalhos inéditos em formato de podcast (conteúdo em áudio disponibilizado pela internet). Os trabalhos são das autoras Julia Spadaccini (Doce Oceano) e Daniela Pereira de Carvalho (Comportamento), além de um raro texto de Augusto Boal (Laio se Matou).
O projeto é resultado de parceria entre a Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (Sbat) e o Laboratório de Estética e Política (Lep), do Programa de Pós-graduação em Artes da Cena da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGAC/UFRJ). O objetivo é a revitalização e ressignificação da entidade. Criada há quase 106 anos, a Sbat atua em defesa dos direitos autorais de escritores teatrais, além de tradutores, roteiristas de audiovisual, autores de literatura em geral, encenadores, atores, cenógrafos, diretores musicais, coreógrafos e outros criadores das artes cênicas e dramáticas de todo o país.
Coordenador provisório da Sbat, Gillray Coutinho disse que o projeto, que acaba de ser lançado a partir de emendas parlamentares, terá continuidade.
Um dos dramaturgos que mais contribuiu para a criação de um teatro genuinamente brasileiro e latino-americano, Augusto Boal foi também fundador do Teatro do Oprimido, que alia essa arte à ação social, cujas técnicas se espalharam pelo mundo nas três últimas décadas do século 20. Sua peça Laio se Matou, escrita em 1952 para o Teatro Experimental do Negro, transpõe a história grega de Édipo, de Sófocles, a um terreiro de candomblé, no Rio de Janeiro. A peça de Boal será lançada nesta semana.
A pesquisadora do Lep, idealizadora e coordenadora do projeto, Alessandra Vannucci, ressaltou, em entrevista à Agência Brasil, que já foram lançadas duas peças inéditas em formato de audioteatro, que não foram encenadas ainda. As peças foram selecionadas a partir de convocação nacional feita pela Sbat para que seus autores participassem do projeto, que visa revitalizar a entidade, incluindo diversas gerações de autores e novas linguagens.
Os textos são escritos para o teatro, mas traduzidos agora em formato sonoro, gravado, como audiobook. “É outra linguagem, mas com código já frequentado pela dramaturgia brasileira, que teve riquíssima produção em formato de radioteatro nas décadas de 40 e 50. O espectador é convidado à experiência de ouvinte”, explicou Alessandra Vannucci.
As peças foram adaptadas para o formato de audioteatro pelo dramaturgo e pesquisador Tatá Oliveira e dirigidas pelo ator, diretor e pesquisador Bruce Gomlevsky, que participam também como atores, ao lado de um elenco formado por alunos da Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ. Todas as funções criativas (produção, interpretação, criação gráfica, edição) foram realizadas pela equipe de estudantes bolsistas do Lep, selecionados entre alunos cotistas.
Novas experiências
É a primeira vez que Julia Spadaccini e Daniela Pereira de Carvalho têm textos montados em podcast. Doce Oceano é a primeira peça do Contém-peças a entrar na plataforma Spotify. Em seguida, foi lançado Comportamento e, esta semana, será a vez da obra Laio se matou, de Augusto Boal. As audiopeças podem ser ouvidas no streaming e também estão disponíveis no site da Sbat.
Alessandra Vannucci informou que o produto Contém peças vai ter continuidade. O segundo ciclo será aberto provavelmente no próximo mês, com o lançamento em podcast da peça inédita Desaparecida, de autoria da própria pesquisadora da UFRJ e dramaturga, italiana que trabalha no Brasil há 20 anos. “A Sbat me pediu para fazer essa leitura da peça. E vai envolver muita gente, atores de São Paulo também, além dos alunos da UFRJ”. A peça abrange depoimentos de mulheres presas durante a ditadura militar no Brasil.
Sbat em Cena
O projeto Sbat em Cena foi possibilitado por meio de emendas parlamentares destinadas pelos deputados federais Chico D’Angelo (PDT-RJ), Jandira Feghali (PCdoB-RJ) e Benedita da Silva (PT-RJ). O projeto é dividido em duas partes. A primeira visa a ressignificação da entidade, incluindo ações que são tradição da Sociedade – a reedição da Revista Sbat e leituras em podcasts, caso do Contém Peças. Gillray Coutinho destacou que a Sbat tem a tradição de promover o teatro brasileiro e não só discussões sobre o setor, mas também sobre as próprias peças, rodas de leitura, cursos, oficinas. “A gente precisa promover os nossos autores, o teatro brasileiro, que tem características muito especiais”, afirmou.
A segunda parte busca a revitalização da Sbat, com a atualização tecnológica de atendimento, modernização e fortalecimento da instituição. Entre as ações estão a restauração e a preservação do acervo, a realização de um congresso presencial no próximo mês de junho na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), o desenvolvimento de ferramentas de recolhimento e a distribuição de direitos autorais.
O projeto contempla também atividades de reestruturação e melhoria nos sistemas administrativo, financeiro e de comunicação, com o objetivo de aprimorar o contato da Sbat com os associados, além de aproximá-la de novos públicos.
Edição: Graça Adjuto