Como resultado, o país registra aumento crescente do uso de produtos agrícolas biológicos. O faturamento deste mercado ultrapassou R$ 2,9 bi na safra 21/22 – crescimento de 67% em relação à safra anterior. E a expectativa é que o valor mais que triplique até 2030. É fato: os biológicos vieram para ficar!
A explicação está no momento especial do agro brasileiro. Juntamente à integração entre os elos da cadeia produtiva, o Brasil alcançou alto nível de competência nos últimos anos, refletindo em uma produção de alta qualidade com sustentabilidade. Avançamos significativamente na aplicação combinada de tecnologias para manter as plantas protegidas de pragas e doenças, à medida em que constatamos que, isoladamente, grande parte das soluções existentes já não eram suficientes para oferecer o nível de proteção que as plantas precisam para expressar seu potencial genético. Crescia, assim, o risco de perdas de produtividade pela falta de soluções eficazes. E de perda de espaço em mercados mais exigentes (e mais remunerativos), pela falta de processos sustentáveis. Os insumos biológicos entraram em cena para preencher essas lacunas nas práticas agrícolas convencionais, e em alguns casos, a exemplo dos bionematicidas, tornaram-se a principal escolha dos agricultores.
Em 2020, o uso de nematicidas biológicos no Brasil totalizou R$ 750 milhões, e em 2022, esse valor ultrapassou R$ 1,5 bilhão. Em apenas dois anos, a taxa de adoção de bionematicidas na agricultura dobrou, principalmente devido à conscientização sobre os benefícios contínuos do manejo biológico no controle de nematoides, juntamente com o avanço tecnológico alcançado pelas empresas, resultando em soluções mais eficazes e rentáveis para os produtores.
Outro insumo biológico já conta com espaço ainda mais consolidado nos campos brasileiros: o inoculante para fixação biológica de nitrogênio. No passado, havia preocupações sobre como esse processo natural de fixação seria afetado quando outros insumos fossem adicionados ao tratamento de sementes de soja. Com o tempo e a pesquisa, ficou claro que era não apenas possível, mas altamente benéfico, combinar a aplicação de diferentes insumos, cada um desempenhando um papel importante no sistema de produção. A mesma lógica se aplica a outros produtos biológicos, e o resultado na prática tem sido, cada vez mais, a combinação de microrganismos que oferecem uma proteção mais completa às plantas, promovem o seu desenvolvimento e ativam mecanismos para mitigar estresses abióticos.
Hoje, não há mais dúvidas quanto aos benefícios dos produtos biológicos, mas é crucial enfatizar que o conhecimento técnico sobre cada insumo é essencial – e isso não se restringe apenas aos biológicos, mas a todos os insumos agrícolas.
O crescimento da biotecnologia no Brasil está fortemente relacionado ao desenvolvimento de pesquisas de alta qualidade, capazes de oferecer soluções que se traduzem em maior produtividade, rentabilidade e sustentabilidade para os produtores. Atualmente, o mercado oferece uma ampla gama de produtos premium provenientes de processos validados de segurança e qualidade, que garantem que as tecnologias desenvolvidas tenham eficiência e segurança para contribuir significativamente para o sucesso dos cultivos. Vale lembrar, no entanto, que embora existam tecnologias incríveis à disposição dos agricultores, essa excelência não se aplica igualmente a todos os biológicos no mercado e é importante conhecer os padrões das empresas fabricantes.
A mistura de produtos químicos e biológicos, que no passado era discutida e gerava muitas dúvidas quanto a inviabilidade de microrganismos frente a produtos químicos, hoje é uma realidade necessária que faz parte do controle de qualidade das empresas. Assim os produtos biológicos são testados com aqueles químicos mais utilizados no mercado e garantem sua eficiência, mesmo quando combinado com químicos.
Presente e futuro das lavouras: os resultados dos investimentos em P&DI
Como mencionado anteriormente, um exemplo notável dos resultados alcançados através do uso de produtos biológicos na agricultura são os bionematicidas. Esses produtos provaram ser altamente eficazes ao controle e são agora adotados em mais de 11 milhões de hectares de plantações de soja, representando impressionantes 94% dos nematicidas utilizados nessa cultura. A razão para essa ampla adoção está na capacidade dos bionematicidas de proporcionar proteção contínua ao longo de todo o ciclo de vida da planta. E tem sido uma ferramenta indispensável no manejo integrado de nematoides.
Vale destacar, também, os resultados promissores da combinação de inseticidas químicos com inseticidas biológicos no controle da cigarrinha-do-milho, vetor de microrganismos que causam o enfezamento do milho. Os efeitos têm sido notavelmente positivos, uma vez que o defensivo químico age de imediato, enquanto o inseticida biológico mantém sua ação residual por um período mais longo.
Certamente os investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação têm contribuído para uma grande evolução em campo, promovendo maior resiliência às plantas frente a estresse hídrico, térmico, salino, com impacto direto sobre a produtividade. Estamos agora caminhando em direção ao desenvolvimento de ferramentas que possibilitarão uma análise mais aprofundada do microbioma do solo. Esse avanço será de extrema importância, permitindo que os agricultores planejem o uso de insumos de acordo com a necessidade de cada tipo de solo. Em um futuro próximo, é muito provável que os agricultores adotem a prática de monitorar constantemente a evolução de seu microbioma, possibilitando a implementação de ações de manejo cada vez mais precisas.
O Brasil está ganhando e continuará ganhando reconhecimento pela sua valiosa contribuição para a segurança alimentar global, uma questão de extrema importância. Com competência notável, o país tem assumido um papel de liderança tanto na produção vegetal quanto na proteção animal. Avança em conhecimento e na aplicação de insumos conjugados, e no melhor entendimento da química do solo e da fisiologia das plantas. Progresso, sem o qual, não teríamos alcançado o nível atual de sucesso produtivo no cerrado brasileiro. E seguimos evoluindo em pesquisa e desenvolvimento tecnológico, para garantir que a biodiversidade seja um fator de contribuição para a promoção da sustentabilidade dos sistemas produtivos.
O agro brasileiro pode se orgulhar da sua base de pesquisa científica de alta qualidade e da tecnologia de ponta no campo. Na lista ainda de afazeres, nosso próximo desafio é direcionar esforços para estabelecer uma comunicação eficaz, proporcionando informações de qualidade a diversos públicos, desde os produtores até os consumidores, passando por todos os elos da cadeia e do mercado.
Ellen Barrocas – Engenheira Agrônoma, Ph.D em Fitopatologia. Gerente de Desenvolvimento de Produtos da Indigo Ag.
Fonte: Weber Shandwick