Diversidade. Esse foi o mote da noite de premiação da 5ª edição do Prêmio Sebrae Top 100 de Artesanato, que aconteceu na noite desta quinta-feira (17) no Centro Sebrae de Referência do Artesanato Brasileiro (Crab), no Rio de Janeiro. Representantes da diretoria do Sebrae Nacional e do Sebrae RJ, entre outras autoridades, ressaltaram os múltiplos projetos artísticos que mostram como o Brasil pode e deve se espelhar na pluralidade. Também foi destacada a importância de valorizar o artesanato, assim como toda a sua cadeia de produção e distribuição.
“O trabalho do artesão reflete a cultura e a diversidade local, que é o melhor do país”, declarou o gerente de Competitividade Sebrae, Cesar Rissetti, que deu as boas-vindas aos artesãos na capital carioca. O mesmo tom foi usado pelo diretor técnico do Sebrae, Bruno Quick: “O Top 100 é ver o Brasil pulsar. A presença de quase todos os premiados é a prova do acerto de manter o prêmio. Os cem projetos, das linhas de trabalho, mostram o sentido do trabalho que o Sebrae faz. É muito bacana ver algo tão duradouro como o artesanato ficar cada vez mais belo.”
Os premiados subiram ao palco para receber o diploma que os autoriza a usar o selo do prêmio por três anos, identificando as unidades produtoras de artesanato como as mais competitivas do Brasil, tanto pela qualidade dos seus produtos, como por suas práticas de gestão. Os vencedores também integram um catálogo comercial e são divulgados em vídeos no portal do Sebrae, mostrando suas práticas de produção e gestão.
“Participar do Top 100 é o maior sonho de todos os artesãos”, diz Maria Fialho, do ateliê que leva o mesmo nome, da Paraíba. Ela trabalha com renda filé, que usa a mesma técnica de rede de pesca, mas, em vez de nylon, o material é algodão. Aos cinco anos ela começou a trabalhar com renda e hoje ensina mais 12 mulheres na Fundação José Américo, em João Pessoa. Crocheteira do Lajedo do Marinho, no sertão da Paraíba, Carmen Lúcia Ferreira detalhou a produção dos crochês com pontos variados e colorido ímpar que remete a tempos imemoriais. Com a vitória, ela acredita que as vendas vão ser alavancadas: “Ter o selo do Top 100 é certeza de divulgação”, contou, afirmando que alguns turistas vão atrás do certificado.
“O prêmio não foca exatamente no produto, mas o produto é o que materializa o esforço do artesão”, como explicou a gestora Nacional de Artesanato do Sebrae, Durcelice Cândida Mascêne, que acompanha a premiação desde a sua primeira edição, em 2006. “Não é apenas a arte – a qualidade da arte – que é avaliada, mas como o artesão consegue vender, e bem, tal arte”.
A Associação Capim Dourado de Ponte Alta, em Tocantins, uma das portas de entrada para o Jalapão, é prova disso. Juliana Pereira representou sua mãe, Maria do Carmo Pereira, que trabalha com o famoso capim desde 1985, e hoje atende clientes em Roma e nos EUA. Juliana estudou Agronomia, mas diz amar trabalhar com artesanato e está dividida com o futuro. “O capim começou a ser trabalhado nas comunidades quilombolas e hoje muita gente vive dele”, contou. “Trabalhar com capim dourado traz rentabilidade, mas é uma arte, tem que ter talento, tem que ter cuidado. Não pode molhar, não pode ser colhido verde”.
De arte – e de História – o Mestre Domingo do Congo entende. Vivendo entre a praia de Guarapari e a cidade de Serra, na região metropolitana de Vitória (ES), ele é um dos maiores defensores da cultura do Congo, do Caxambu e do Jongo. Constrói, monta, talha, coloca as peles e ainda toca instrumentos ligados a essas manifestações musicais. “O navio Palermo, há 174 anos, vinha para o Brasil da África, mas teve um acidente na costa, perto de Serra. Os africanos foram arremessados no mar, mas alguns conseguiram sobreviver, por obra de São Benedito. Depois de se estabelecerem em terra, decidiram criar uma festa para lembrar do episódio e homenagear o santo”, conta ele, que disse ter mais de 300 alunos de congo no Espírito Santo.
Desenvolvimento econômico
Mas não é apenas uma questão artística. Há também o caráter econômico do segmento, que representa cerca de 3% do PIB nacional, com valores de R$ 102 bilhões, além de R$ 20 bilhões em compras de insumo da indústria. Diretor-superintendente do Sebrae-RJ, Antonio Alvarenga lembrou que nesta sexta-feira (18) acontecerá a rodada de vendas, com a presença dos principais lojistas do país. “Além de criativo, o artesanato é uma atividade econômica, funciona gerando emprego, renda e preservando a identidade cultural de cada regiões. E o Crab é uma vitrine do artesanato do Brasil inteiro”. “Que essa noite seja um marco”, completou o diretor de Desenvolvimento do Sebrae-RJ, Sérgio Malta, “não só pelo selo, mas também pelo encontro com as negociações amanhã e depois. Marco nos produtos e nos produtos artesanais”.
Edição 2022
Ao todo, esta edição do reconhecimento recebeu mais de 1.100 inscrições de todas as regiões do país. Atualmente, para escolher os 100 artesãos que compõem o prêmio, há três etapas. No primeiro, se julga o produto e o processo. Na segunda, a gestão como um todo – em todas as suas fases, desde as relações trabalhistas até as fiscais), por fim, há uma avaliação de notório saber. Diretor do Museu do Artesanato Paraibano, Fábio Morais foi um dos julgadores. “Recebi 300 inscrições de todo o país na categoria de artesanato doméstico”, disse ele, citando as demais categorias, como a do artesanato tradicional, artesanato de referência cultural e o artesanato autoral ou conceitual.
Por: Agência Sebrae